Bebê consegue leito, mas falta de UTIs persiste

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Bebê consegue leito, mas falta de UTIs persiste

Quase quatro dias foram necessários para que a Central de Regulação de Leitos conseguisse uma vaga de UTI pediátrica ao bebê de 5 meses, Yuri Michael Batista Lopes. Nessa sexta-feira, mobilização vagou um espaço no HBB, de Lajeado. O drama vivido pela família da criança retrata o baixo número de unidades nos vales do Rio Pardo e Taquari. São oito para uma população superior a 760 mil habitantes.

Vales do Rio Pardo e Taquari – A Central de Regulação de Leitos encaminhou, na manhã dessa sexta-feira, Yuri Michael Batista Lopes à UTI pediátrica do HBB, em Lajeado. Aos 5 meses de idade, o menino estava internado de forma provisória no Hospital São Sebastião Mártir, de Venâncio Aires, desde o começo da semana. A transferência para uma estrutura de maior porte foi retardada devido ao baixo número de leitos do gênero nos hospitais gaúchos.

02Morador de Vila Battisti, em Venâncio Aires, contraiu grave pneumonia e foi encaminhado ao hospital da cidade ainda no último domingo. O quadro clínico piorou nos dias seguintes. Na terça-feira à noite, um médico de Santa Cruz do Sul foi acionado para retirar o excesso de pus dos pulmões por meio de um dreno bilateral.

Desde então, a direção do São Sebastião Mártir havia improvisado um leito exclusivo a Yuri, enquanto acionava a Central para encontrar uma vaga de UTI. Na quinta-feira à noite, após nova recaída, o pediatra Vilson Francisco Gauer submeteu-o à entubação para que conseguisse respirar.

Em reportagem publicada nessa sexta-feira pelo A Hora, o profissional destacou a delicadeza de se tratar tal paciente visto a falta de estrutura adequada na cidade. “É frustrante para uma pessoa presenciar algo assim. É um menino bem alimentado e precisa de cuidados especiais”, disse.

Uma das alternativas apontadas pela Central de Regulação durante a semana seria a transferência para o Hospital Universitário Ulbra, em Canoas, para essa sexta-feira. Mas, diante da distância entre as duas cidades, a direção do HBB criou uma comissão para analisar a situação das crianças então internadas na UTI pediátrica de Lajeado. “Uma delas estava bem recuperada e pudemos dar lugar ao Yuri. Fizemos um esforço tremendo”, aponta o diretor administrativo Élcio Callegaro.

O menino chegou ao Bruno Born por volta do meio-dia dessa sexta-feira. Transtornada com a situação, a família não quis se posicionar. “O mais importante é que conseguimos um lugar. Só penso em ficar perto dele agora”, desabafa a mãe.

Coordenadora da Seção de Saúde da Criança e Adolescente do Estado, Eleonora Walcher, alega desconhecer o quadro de Yuri e se limita a falar sobre o caso. Mas garante: “não deveria demorar nada. Por isso projetamos 58 novos leitos no Estado, atingindo um total de 320. Vai haver suficiência.”

Poucos leitos na região

Os vales do Rio Pardo e Taquari concentram 59 municípios e uma população superior a 760 mil habitantes. No que tange à UTI neo natal, a região contempla 40 leitos. Tem capacidade inclusive, segundo Eleonora, de se tornar referência para regiões como Missões e macro norte.

Mas o problema está no número de vagas para UTI pediátrica: são quatro em Lajeado (uma exclusiva a convênio) e outras quatro em Santa Cruz do Sul. De acordo com ela, tal diferença surgiu a partir de uma resolução publicada em 2010 pelo Ministério da Saúde, proibindo a manutenção de unidades mistas entre recém-nascidos de até 30 dias (neo natal) e crianças a partir desta idade até 14 anos (pediátrica).

O percalço é que todas as UTIs dos vales – Lajeado, Cachoeira do Sul, Estrela e Santa Cruz do Sul – assim como outras 13 no Estado estavam em condição mista. “Nós e todo o país começamos uma readequação dessas estruturas, sob pena de desabilitar os leitos.”

Tal processo começou no Rio Grande do Sul no início de 2012 de forma gradativa. O governo estadual apoiou financeiramente unidades intensivas com cerca de R$ 100 mil por leito novo, como Bagé e Pelotas.

Hospitais que tinham seis a sete leitos receberam apoio para chegar a 20 unidades – dez pediátricas e dez neo natais. Neste contexto se enquadra o HBB. O então secretário da Saúde, Ciro Simoni, autorizou o repasse de R$ 1,1 milhão para a entidade no ano passado. “Daí pra frente eles concluíram dez leitos neo natal, porque o ministério obrigava a fazer isso até novembro do ano passado.”

Neo natal como prioridade

Neste processo de readequação, a prioridade do ministério era para ampliar o número de leitos de UTI neo natal. Cachoeira do Sul desativou quatro leitos pediátricos e ampliou de quatro para dez os neo natais (oito Sus e dois via convênio). Situação semelhante ocorreu em Estrela, onde os dois pediátricos foram encerrados e o hospital virou exclusivo para recém-nascidos, ampliando de cinco para dez o número de unidades.

De acordo com Eleonora, Santa Cruz do Sul e Lajeado foram os dois únicos que conseguiram dobrar o quantitativo de leitos em função de terem maior área física. “Não desativamos os pediátricos nesses dois locais, pois vamos conseguir ampliar.”

Estado agiliza novas UTIs

O governo gaúcho reserva quase R$ 5 milhões para os hospitais de Lajeado e Santa Cruz do Sul. Metade para cada. Em junho de 2013, a Secretaria Estadual da Saúde confirmou a construção da unidade pediátrica para este ano no HBB. Seriam R$ 2 milhões para a criação de dez vagas.

Mês passado, a direção do hospital retomou as negociações ao enviar novo projeto ao Estado, solicitando o repasse de R$ 2,1 milhões. Agora, inexiste previsão de encerrar os atendimentos da UTI pediátrica, informa Klein.

A respeito do projeto de ampliação do Bruno Born, Eleonora cita que a documentação está no fundo estadual. Assim os vales ficarão com 20 leitos pediátricos (16 SUS e quatro particulares, dez em cada hospital. “Poderia ter sido mais rápido se o hospital tivesse corrido como os outros correram. Pelotas tá inaugurando, Bagé já inaugurou.”

De acordo com o diretor administrativo do HBB, Élcio Callegaro, a documentação restante foi enviada a Porto Alegre na sexta-feira passada. “Como a proposta do ano passado era recebermos R$ 1,1 milhão e agora passou para R$ 2,1 milhões, precisamos refazer todos os pareceres.”

Ao todo serão R$ 2,5 milhões de investimento, sendo R$ 400 mil aporte do hospital. O projeto contempla a construção de dez novos leitos de UTI pediátrica e 26 leitos de internação em uma área de 1,7 mil metros quadrados. Callegaro estima a necessidade de 18 meses para concluir o espaço a partir do início das obras.

Titular da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde, Fabiano Brandão, aponta os trâmites avançados para concretizar a obra.

De acordo com ele, assim que passar por análise da Central em Porto Alegre, será firmado o convênio, possibilitando começar a edificação em seguida. “Esperamos que isso ocorra nos próximos dias.”

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