Situação estável após um ano sem pedágio

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Situação estável após um ano sem pedágio

A principal crítica direcionada à Concessionária Sulvias durante 16 anos foi a falta de investimento em novas obras. Um ano depois da abertura das cancelas e do fim da cobrança de pedágio, a situação pouco mudou. BR-386 recebeu apenas serviços de manutenção e operações “tapa-buracos”, afora as obras de duplicação, em andamento desde 2010

Vale do Taquari – Os motoristas que cruzaram pelas praças de pedágio de Marques de Souza e Fazenda Vilanova no dia 31 de maio de 2013 festejavam. Era o fim de 15 anos de cobrança na principal ligação com a Região Metropolitana. Buzinaços, fogos de artifício e até manifestações partidárias fizeram parte das comemorações. Criticada pela inoperância na realização de obras viárias, a Sulvias até lutou para manter a concessão. Mas, sem apoio popular, perdeu a disputa com o Governo do Estado.

3Um ano depois da abertura das cancelas, os trechos antes pedagiados pouco mudaram. Salvo alguns serviços de recapeamento asfáltico e “tapa-buracos”, e sem contar o avanço da atrasada duplicação do trecho entre Tabaí e Estrela, a BR-386 não recebeu investimentos em novas obras. Problemas como o viaduto de Canoas, o entroncamento com as RS 287 e 440, em Triunfo, o trecho urbano de Lajeado, a falta de passagens para pedestres e os inseguros acessos municipais persistem.

A solução do primeiro gargalo, no quilômetro 441 da rodovia, emperra nas licitações. Deixado de lado na duplicação do trecho entre Canoas e Nova Santa Rita, realizada em 2000, o viaduto sobre a linha férrea em Canoas segue em pista simples. O primeiro edital para duplicar a passagem foi lançado só em maio de 2013. Não houve interessados nessa vez, assim como em outros dois processos feitos em 2014.

No trecho de Triunfo, que une a BR-386 a duas rodovias estaduais, uma confusão entre órgãos dos governos estadual e federal causou o imbróglio que perdura há 14 anos. O Dnit queria duplicar a pista, mas deixou a obra de lado após o Daer anunciar um viaduto no local. Nada ocorreu. Os 700 metros de pista simples causam congestionamentos. Buracos e pouca iluminação pioram o quadro. A promessa era rever a situação após o fim dos pedágios.

Os problemas persistem também na área urbana de Lajeado e Estrela. A falta de manutenção tornou o trecho um dos piores entre os 153 quilômetros entre Pouso Novo e Canoas. Desde a semana passada, uma equipe contratada pelo Dnit trabalha em operações “tapa-buracos” e lavagem de placas de sinalização. Em alguns pontos, o asfalto utilizado já cedeu. Sequência de desníveis torna o trecho perigoso, principalmente em dias de chuva.

Na pista simples do perímetro urbano de Lajeado, importantes obras são aguardadas com angústia por moradores. Uma elevada ou rotatória na ligação entre os bairros Montanha e Olarias é uma delas. Há seis anos, uma manifestação popular exigiu esses investimentos, após a morte de duas mulheres em um acidente de trânsito no local. “Parece que não estão preocupados. Só quem perde um filho sabe a saudade e a dor que ficam”, diz Fátima Helena Fabrin, mãe de Aline Teixeira, uma das vítimas.

A construção de acessos para os bairros Conventos, Bom Pastor e Centenário é outra reivindicação antiga, e ainda aguarda projetos preliminares. Inexiste previsão para concretizar. O último grande investimento em Lajeado ocorreu há mais de 13 anos. Em setembro de 2001, após três anos de serviços, o governo federal inaugurou a segunda ponte de 262 metros de extensão sobre o Rio Taquari, avaliada na época em R$ 8 milhões.

Sem pedágio, renda extra acaba

Enquanto proprietários de um balneário e um café colonial comemoram o fim do pedágio de Marques de Souza – que durante 16 anos reduziu pela metade a clientela de ambos –, alguns moradores lamentam. Adriane Cristina Mertz lucrava em torno de R$ 2,5 mil com uma tenda de produtos coloniais instalada na estrada de chão que servia como desvio ao pedágio. “O movimento durou umas três semanas após o fim do pedágio. Hoje, é de 0,0. Era meu maior sustento.”

Já para o agricultor, Eldo Gross, que também mora na via que liga a comunidade de Picada May, em Marques de Souza, à Picada Felipe Essig, em Travesseiro, o fim do movimento de carros e caminhões trouxe tranquilidade para a família. Certa vez, seu filho foi atropelado em frente à residência. “Até ganhava uns trocos com venda de banana, bergomata e laranja, mas era muita poeira e movimento de pessoas estranhas.”

A poeira que incomodava alguns deixará saudades para outros. “Era uma poeirada que trazia dinheiro”, lamenta a proprietária de uma outra tenda instalada no mesmo desvio. Clarice Walter, a “Alemoa”, chegou a ganhar mais de R$ 3 mil por mês, atendendo uma média de 50 clientes por dia. “Se recebo duas pessoas fico feliz.”

Situação em 153 quilômetros

A reportagem percorreu o trajeto entre Pouso Novo – no limite do Vale do Taquari – e Canoas, no entroncamento com a BR-116. Há muitos desníveis, buracos, problemas de sinalização e apenas quatro passarelas (três no perímetro urbano de Lajeado e Estrela). Trechos sem acostamento, ou pistas duplicadas sem canteiros de divisão tornam a viagem insegura em alguns municípios, como em Canoas, e também em Nova Santa Rita, nas proximidades do Velopark.

Na subida da serra de Pouso Novo, onde um grave acidente matou sete pessoas em janeiro, há muitos buracos nas pistas da direita, em ambos os sentidos. O tráfego de veículos pesados é intenso no local. Segundo a Policia Rodoviária Federal, o movimento de caminhões aumentou mais de 20% na rodovia após o fim dos pedágios.

Houve alguns serviços de recapeamento. Em Triunfo, por exemplo, o asfalto está em bom estado após colocação de nova camada. No entanto, a sinalização da pista não foi realizada. Em alguns pontos, é quase imperceptível a divisória das pistas em um trecho de quase oito quilômetros. Há melhorias sendo realizadas também em Paverama, em frente ao Restaurante Rosinha.

Mais atrasos

No início do mês, o Dnit suspendeu obras de recapeamento na rodovia até o fim de julho, orçadas em R$ 31 milhões. O projeto passa por readequação a pedido da empresa responsável, a Conpasul, mesmo após o fim do processo licitatório. A rodovia necessita ainda de reparos nas pistas das antigas praças de pedágio.

Nesta semana, a empresa responsável pelo Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) – para duplicação da rodovia até Boa Vista das Missões, no noroeste gaúcho – solicitou mais seis meses de prazo para entregar o material. A previsão inicial era abril, e agora deve ser finalizado até outubro. O projeto está orçado em R$ 1,3 milhão.

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