Lajeado – Contagem feita pela equipe do A Hora flagra 72 motoristas em desacordo com a regra de parar diante do sinal vermelho. O registro foi realizado das 16h10min às 16h40min de ontem em oito semáforos da ERS-130, todos em frente ao Posto do Arco. A série de infrações potencializa o risco de acidentes e preocupa policiamento e comunidade.
Considerado um dos mais críticos da rodovia estadual, o trecho acumula 39 acidentes desde o início do ano. Desses, 31 com lesões. O mais recente aconteceu às 18h35min desse sábado. Erno José Kammer, 69, cruzava a via no sentido São Cristóvão-Santo André quando foi abalroado por um Fiat Uno, conduzido por uma mulher de Teutônia que seguia de Lajeado a Arroio do Meio, e teria avançado o sinal.
O idoso conduzia um Escort e ficou preso nas ferragens. Socorrido pelo Samu ao HBB, teve alta na mesma noite com escoriações na cabeça e ombro. A caroneira de Kammer, Elonia Prass, 73, trincou uma costela e machucou a perna. A condutora do Uno saiu ilesa.
A filha da idosa, Isolde Prass, 41, se revolta com a recorrência de acidentes. “Vamos processar essa mulher e cobrar ações das autoridades. Não podemos mais tolerar tanto desrespeito.” De acordo com ela, um empresário das proximidades impede mudanças no sistema de sinaleiras por interesses financeiros.
Mesma constatação faz Paulo Roberto da Silva, 46. “Se não fosse essa politicagem, feita por um ou dois, já teríamos resolvido o problema há muitos anos.” Morador do Santo André, calcula que a maioria das famílias residentes no entorno já teve parentes ou amigos envolvidos em acidentes no trecho. “Meu pai está entre as vítimas. Morreu atropelado em 1987 quando tentava atravessar a rodovia.”
Um mesmo homem recolhe entulhos e poda arbustos há 17 anos nos cruzamentos. Ele confirma a recorrência diária de ultrapassagens irregulares, avanços do sinal vermelho, entre outras infrações. Há alguns anos, foi atropelado enquanto arrumava um canteiro. “Aqui, sinal fechado não é sinônimo de segurança.”
Viaduto: uma obra insuficiente
Em abril de 2012, o governador estadual Tarso Genro inaugurou – ao lado de outras autoridades – o viaduto ligando a rodovia com os bairros Campestre e Universitário. Foram R$ 2,7 milhões de dinheiro público e mais de um ano de atraso nas obras.
Mas o investimento, proposto para reduzir os transtornos em frente ao Posto do Arco e facilitar o trânsito nas vias municipais, não surtiu os efeitos esperados por moradores. “Ele (viaduto) só resolve o problema da minoria. É muito dinheiro desperdiçado”, relata um motorista.
Insuficiente ao ideal, a passagem também foi incapaz de reduzir os congestionamentos causados pelos semáforos. A maior dificuldade ocorre no fim da tarde, quando junta o movimento da Univates com os trabalhadores que voltam aos bairros ou se deslocam a Arroio do Meio. Nesse horário, a fila de veículos atinge quase um quilômetro.
EGR projeta duplicação
No início do ano, a empresa STE apresentou os estudos sobre a necessidade de duplicação das rodovias estaduais entre Venâncio Aires e Muçum, num trecho de 70 quilômetros. Feitos a pedido de prefeitos da região, os laudos apontaram a obra com fundamental para o desenvolvimento do Vale do Taquari.
O percurso de seis quilômetros entre Lajeado e Arroio do Meio foi considerado o mais precário. Tal segmento foi enquadrado no nível E (entre A e F). Nessa classificação, entre outras questões, as manobras foram citadas como difíceis e realizadas apenas ao forçar um outro veículo. Ultrapassagens, por exemplo, são proibidas em 90% do trecho.
Na época, líderes regionais cobraram a participação do Estado no investimento da duplicação. De prontidão, o Corepe (conselho administrador dos recursos da EGR) garantiu o custeio do projeto técnico – último passo antes de iniciar as obras.
Conforme o presidente do conselho, Luciano Moresco, o edital de licitação para o serviço é elaborado pela estatal. Estima um investimento de até R$ 2 milhões com a etapa. Nesta fase, prefeitos e demais líderes regionais terão condições de analisar as principais demandas, como rótulas, viadutos e passarelas. “Com isso conseguiremos resolver muitos problemas das rodovias, como os problemas em frente ao Posto do Arco”, avalia.
PRE multa 208 em seis meses
Desde janeiro, a polícia rodoviária flagrou 208 irregularidades no trecho das sinaleiras (veja abaixo). A maioria por avançar o sinal vermelho: 69. “O problema é que quando estamos lá os motoristas andam na linha. Assim que viramos as costas, o desrespeito recomeça”, aponta o comandante do posto de Cruzeiro do Sul, sargento Paulo Renato Bernardi.
De acordo com ele, a polícia não tem condições de monitorar o trecho durante o dia inteiro. Dessa forma, para solucionar o problema, indica a construção de uma pista elevada ou então de um viaduto em frente ao Posto do Arco.
– Avanço do sinal vermelho: 69
– Sem cinto de segurança: 35
– Dirigir sem atenção: 17
– Sem equipamento obrigatório: 15
– Desobedecer ordem de parar: 42
– Ultrapassagem pelo acostamento: 30
SAIBA MAIS
Outras irregularidades constatadas pela reportagem nos 30 minutos de contagem
1. Obstrução de passagem. Um veículo parou entre duas pistas, na sinaleira de acesso ao São Cristóvão.
2. Um motorista tentou cruzar rodovia na contramão. Mas desistiu após xingamentos de outros condutores.
3. Um veículo cortou a frente de outro na tentativa de avançar o sinal. Quase provocou acidente.
4. Quatro condutores tentaram desviar das sinaleiras passando por rua lateral. Uma das tentativas quase resultou em abalroamento.
