Vale do Taquari – O traçado da Ferrovia Norte-Sul não deve passar pela região. A Valec, empresa ligada ao Ministério dos Transportes responsável pelas obras da Norte-Sul, prevê para o fim de julho a entrega do estudo que define a ferrovia.
A empresa não deu declarações quanto ao traçado, porém, no site da Valec, há um mapa das ferrovias em estudo, que não indica a inclusão do Vale do Taquari. No desenho, a ferrovia entra no Estado por Frederico Westphalen, passa por Cruz Alta, Santa Maria e pelo Vale do Rio Pardo antes de seguir em direção a Rio Grande.
O presidente da Frente Parlamentar pelas Ferrovias na Assembleia Legislativa e deputado federal, Raul Carrion (PC do B), confirmou a informação. Segundo ele, esse é o traçado extra-oficial, que deve ser apresentado em pouco menos de dois meses. “O estudo já está concluído e passa por análises, mas a tendência é manter o desenho que passa pelo centro do Estado.”
Para a presidente do Codevat, Cíntia Agostini, o Vale perdeu a disputa por falta de força política. “Falta o apoio de algum deputado federal que abrace a nossa região, coisa que as outras possuem.”
Agostini alega que as entidades do Vale do Taquari participaram de todas as audiências e discussões sobre o tema, o que não foi suficiente para convencer o governo federal a incluir a região. Para ela, a lógica seria o traçado seguir pelo Vale, uma vez que já existe uma infraestrutura na região que reduziria os custos com a obra.
O deputado Carrion destaca a possibilidade de o Vale ser incluído em um ramal ligado à Ferrosul. Porém, a questão dependeria de novos estudos e mobilizações. Para Agostini, esse seria um processo mais lento, uma vez que o foco do governo federal está no tronco central da ferrovia.
Traçado teve cinco alternativas
De acordo com o Carrion, foram duas as propostas para o ingresso da ferrovia no território gaúcho. A primeira hipótese incluía a entrada por Erechim, passando por Passo Fundo e Carazinho até chegar ao Vale do Taquari. A segunda, confirmada pelo mapa da Valec, segue pelo centro do Estado.
Outras três propostas foram apresentadas para a ligação até a região sul. Em uma delas a ferrovia cruzaria a Região Metropolitana. Outro traçado previa a sequência pelo oeste, aproveitando trecho administrado pela América Latina Logística (ALL), de Cacequi e Bagé.
Carrion afirma que a terceira opção é a mais provável. Por ela, o traçado percorre a região central, passa pelo Vale do Rio Pardo e segue para a região sul. A opção é a mais cara das três. “O trecho escolhido abrange uma região com grande produção agrícola”, justifica. Uma audiência pública para tratar do assunto está marcada para 7 de julho, na Assembleia Legislativa.
Tronco Sul não deve sair do papel
Outra estrada de ferro que passaria pela região, a Tronco-Sul, está longe de avançar. A ferrovia, anunciada em agosto de 2012 no lançamento do Programa de Investimento em Logística (PIL), partiria de Mairinque (SP) em direção ao Porto de Rio Grande, ingressando no Estado pela região de Vacaria e seguindo por Bento Gonçalves e Roca Sales.
Carrion afirma que os custos da obra inviabilizam a rota. Segundo ele, o projeto elaborado previu uma ferrovia totalmente nova, no valor de R$ 27 bilhões. O deputado frisa a necessidade de um novo projeto, incluindo a reforma de trechos ferroviários já existentes para diminuir os custos. Com isso, a obra fica indefinida.
Outro projeto ferroviário existente é o de uma linha transversal conectando Uruguaiana a Porto Alegre. Segundo Carrion, a Valec solicitou a inclusão do projeto no PAC 3, que será lançado em agosto pelo governo federal. A rota também excluiu o Vale do Taquari.
O Plano Plurianual (PPA) da União para 2013 a 2015, prevê a destinação de R$ 39,6 bilhões para infraestrutura ferroviária. Entre as metas estão a expansão da malha ferroviária, a construção de acessos aos portos, a adequação de trechos ferroviários, a manutenção das ferrovias e a mudança no modelo de concessões.
Região deve se mobilizar
Para o secretário de Planejamento e Desenvolvimento de Estrela, Marco Wermann, com a hipótese do tronco central da Ferrosul descartada na região, a necessidade é de garantir um ramal que ligue o Vale à ferrovia. “Não podemos ficar sem ligação.”
O governo federal investe R$ 22 milhões para a construção de silos para armazenamento de grãos no município, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o que aumenta a importância de uma estrada férrea ligando a região ao Porto de Rio Grande. Cerca de 72% da produção de grãos do Estado passa pelo Vale do Taquari antes de ser exportada. Com a abertura de um ramal ferroviário, deixariam de circular em tordo de 370 mil caminhões por ano, em um trecho de 408 quilômetros.
O transporte de carga pelas ferrovias é cerca de dez vezes mais barato em relação às rodovias. O custo da logística corresponde a cerca de 17% do preço das mercadorias. Por ano, a exportação gera cerca de R$ 450 milhões para a região.