Lajeado – O estudo sobre o sistema de transporte coletivo de Lajeado está em fase de conclusão. Nas próximas semanas, o Executivo agenda as audiências públicas para coletar sugestões de usuários nos bairros.
Ontem, parte do levantamento foi apresentada no salão de eventos da prefeitura. O secretário de Governo, Auri Heisser, ressaltou o propósito do governo em cumprir determinação do Ministério Público (MP) que exige concessão pública para os serviços de transporte.
Segundo ele, a decisão da administração municipal em contratar uma empresa para realizar o estudo sobre as condições atuais sugerindo melhorias tem por objetivo evitar uma nova disputa judicial, como ocorreu em 2007.
Na ocasião, havia suspeita de direcionamento para empresas locais. A Expresso Charqueadas entrou com pedido de suspensão da concorrência. Desde então, a Ereno Dörr e a Transportes Scherer realizam o serviço de maneira emergencial.
Iniciado na metade de janeiro, o estudo faz um diagnóstico dos itinerários, número de usuários, linhas disponíveis e frota disponível. Conforme o engenheiro de trânsito da empresa contratada, Antônio Augusto Lovatto, os dados contribuem para formação da rede por onde passarão os ônibus, tipo de veículo, valor da tarifa.
De acordo com ele, há 250 linhas em Lajeado. “Um número fora do normal. O ônibus passa em diversas ruas no mesmo bairro, fazendo rotas diferentes a cada horário”, avalia. Pelo levantamento, o ideal são 60 linhas, com uma definição clara dos trajetos. “O veículo tem de passar pelas mesmas ruas.”
Pelo levantamento, a média diária de passageiros alcança oito mil. “A partir do que vimos, queremos criar um serviço com mais conforto, segurança e pontualidade aos usuários”, afirma Lovatto.
Um dos problemas citados pelo especialista é a velocidade dos deslocamentos. Como há muitas linhas, o passageiro fica por muito tempo até chegar ao ponto de desembarque. “Vimos a necessidade de uma reorganização. Isso passa por um aumento da velocidade nos deslocamentos.”
Outro aspecto atrelado ao novo sistema é o reforço na fiscalização. Para ele, sem um setor para observar o cumprimento das determinações do contrato, podem haver falhas na execução.
Frota nova e paradas
Uma das principais reclamações dos usuários dá conta do estado de conservação dos ônibus. As pessoas criticam a falta de higiene, o desconforto dos assentos. Muitos pedem coletivos com ar- -condicionado.
Essas determinações, relata Heisser, serão abordadas durante as audiências nos bairros. Conforme o secretário de Governo, a escolha dos itens interfere no valor das tarifas. Em paralelo ao estudo, o município também desenvolve projeto para padronizar as paradas.
A ideia é oferecer abrigos com proteção, junto com as tabelas de horários e itinerário dos ônibus. Outra possibilidade é a instalação de um terminal no centro. A partir disso, os passageiros vindos dos bairros podem desembarcar no centro e, em um tempo pré-determinado, pegar um novo coletivo para outro bairro sem ter de pagar outra tarifa.
Primeira licitação
O município estipula o lançamento do edital entre setembro e outubro. O modelo será concorrência pública, aquele que apresentar menor tarifa deve ser o vencedor. Após a divulgação da licitação, o governo fará uma série de encontros com as empresas para explicar o documento.
Em Lajeado nunca houve licitação para a concessão do transporte coletivo. O primeiro contrato foi assinado em 1987 e tinha validade de 20 anos. A partir da Constituição de 1988, a concorrência pública passou a ser obrigatória.
Diante disso, em 2007, a então prefeita Carmen Regina Cardoso lançou uma concorrência que foi parar na Justiça. Depois de seis anos tramitando, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou o cancelamento da licitação. A concessão terá validade de 20 anos.
desafio nacional
O número de passageiros nos coletivos das cidades brasileiras reduz. Em Porto Alegre, na última década, houve uma queda de 40% no total de usuários do transporte urbano. Por outro lado, diz Lovatto, a cada ano, aumentam os preços para as empresas manterem o serviço. “É como um agricultor ter de comprar uma máquina a cada colheita, sem ter crescimento da área plantada”, compara.
A capital do Paraná, Curitiba, tem o sistema de transporte público mais moderno do país. Apesar disso, entre 2008 e 2011, a cidade registrou uma redução de 14 milhões de usuários pagantes.
Em Lajeado, a preferência pelo ônibus é de 19% da população, mesmo percentual de pessoas que preferem o deslocamento a pé. “Temos de oferecer qualidade para atrair os passageiros e reduzir o número de veículos nas ruas”, frisa Heisser.