Presença de travestis perturba moradores

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Presença de travestis perturba moradores

Com mais de cem adesões, manifesto pede fim da prostituição no Parque dos Dick

Lajeado – Ao chegar pela manhã para abrir o estabelecimento, a empresária sente cheiro de urina. Há fezes humanas na calçada. Antes de começar o trabalho, se põe a limpar a rua. Bitucas de cigarro espelhadas pelo chão. Para surpresa dela, há calcinhas e outras peças de roupa penduradas nos galhos de uma árvore.

04Desde a saída dos travestis e transexuais das ruas General Mallet e Expedicionários do Brasil, há mais de um ano, os relatos de brigas, discussões e perturbação do descanso noturno se transferiram para as imediações do Parque Professor Theobaldo Dick.

As ruas João Abott, Francisco Oscar Karnal e João Batista de Melo formam o ponto de prostituição. A definição partiu de reuniões com a Brigada Militar após mobilização dos moradores do bairro Americano, entre fevereiro e março de 2013.

Na ocasião, os próprios órgãos de segurança relatavam preocupação, pois o “problema” seria apenas transferido. Dono de um estabelecimento na esquina da João Batista de Melo com a João Abott, diz que cenas de nudismo tornaram-se corriqueiras.

A partir das 20h começa a movimentação. “Após escurecer eu desaconselho menores de idade passar por aqui”, afirma. Moradores, comerciantes e trabalhadores evitam se identificar. Temem represálias.

Uma idosa conta que já foi ofendida em uma noite por ter aberto a janela de casa e pedido aos travestis para fazerem menos barulho. O constrangimento se alia às suspeitas de consumo e tráfico de drogas.

Conforme o comandante da 1ª Companhia do 22° Batalhão da Polícia Militar (BPM), capitão Fabiano Dorneles, em batidas feitas nas redondezas, não houve confirmação de posse de entorpecentes com os travestis.

O barulho dos carros, gritos e a sujeira nas calçadas se transformaram em uma reclamação formal. O vereador Ildo Salvi (PT) adotou para si as queixas. Como havia medo dos moradores, organizou o abaixo-assinado, entregue à BM em março. Com cerca de 140 adesões, o documento pede a atuação da polícia diante da perturbação do sossego nas imediações do parque.

“Ninguém é contra os travestis, não há discriminação, as pessoas só querem sossego”, declara Salvi. Segundo o capitão Dorneles, o documento será entregue ao Gabinete de Gestão Integrada Municipal (GGI-M) e debatido na próxima reunião. De acordo com ele, a partir da regularização da profissão, não pode proibir o uso dos espaços públicos. “Não é uma questão apenas policial”, frisa.

Autuações dependem de flagrante, com delitos como ato obsceno (com pena de detenção de três meses a um ano ou multa) ou importunação ofensiva ao pudor (que pela Lei de Contravenções Penais pressupõe importunar alguém em local público, com pena de multa).

Secretária sugere reunião

Para a secretária de Trabalho, Habitação e Assistência Social, Ana Reckziegel, o tema é de difícil solução. “Os travestis estão trabalhando. Assim conseguem se manter. Simplesmente tirá-los dali é complicado.”

Ela sugere o agendamento de uma reunião entre Polícia Civil, Brigada Militar e moradores para debater possibilidades de reduzir o impacto da presença dos travestis em áreas residenciais. De acordo com Ana, caso algum travesti deseje parar de se prostituir, pode ser encaminhado para cursos profissionalizantes oferecidos pelo município. “Atendemos a todos de maneira igual.”

Segundo ela, há acompanhamento constante dos travestis em Lajeado pelo Serviço de Assistência Especializada em DST/Aids. A secretária conta que eles têm acesso a exames e tratamento, caso seja necessário.

Avalia a situação a partir da procura dos clientes. “Lajeado cresce e vem junto essas dificuldades. Se eles estão lá, é porque tem gente interessada em contratar os serviços.”

Travestis se defendem

Em 7 de março do ano passado, o A Hora publicou reportagem sobre o movimento de moradores do bairro Americano contra a presença dos travestis na rua General Mallet. A partir da matéria, a BM iniciou o cadastramento e a identificação de motoristas que transitavam nas noites pelas redondezas.

Depois disso, agendou reunião com moradores e travestis, para chegarem a um consenso. No dia 20 de março de 2013, os travestis comunicaram a decisão de irem às proximidades do Parque dos Dick.

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