Doentes mentais marcham por igualdade

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Doentes mentais marcham por igualdade

Semana da Saúde Mental inicia com caminhada em alusão à Luta Antimanicomial

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Lajeado – A lembrança dos métodos de tratamento feitos em manicômios e hospitais psiquiátricos sustenta mobilização nacional pela Reforma Psiquiátrica, realizada há 36 anos no país. A cada ano, em maio, multidões vão às ruas para reivindicar o fim das desigualdades contra doentes mentais e cobrar o avanço de políticas públicas, solidárias, inclusivas e libertárias.

04Na cidade, as atividades iniciaram com confraternização no Centros de Atenção Psicossocial (Caps I), ontem pela manhã. De acordo com o secretário da Saúde, Glademir Schwingel, este é um momento de integração para os usuários mostrarem à sociedade que tal tema deve estar no cotidiano das pessoas. Trata como uma questão de valorização e socialização.

Em seguida, mais de 200 pessoas fizeram uma passeata até a Praça Matriz em alusão à Luta Antimanicomial. Coordenadora da ação, Josiane Hilgert, enalteceu a importância do evento para celebrar a abertura da 10ª Semana de Saúde Mental e dos serviços até então oferecidos no município.

Cita como exemplo os três Caps existentes em Lajeado: o Conviver em Liberdade, para adultos; o Crescer, destinado ao público infanto-juvenil; e o Diga Sim Pra Vida, que trata do álcool e outras drogas. “A loucura ou a depressão não podem ser tratadas em um manicômio. Lá não existe tratamento, só tortura”, apontou um dos participantes da caminhada, Gilmar Vanzin.

Integrante do Caps I, Jaqueline Fátima da Silva, 26, participa das atividades há 11 anos, quando começou no coral. Vê no centro uma oportunidade de socialização e reconhecimento. “Me sinto alegre, muito feliz mesmo. Nós até já gravamos um CD com as nossas apresentações. Eu canto com o grupo e também sozinha.”

Outras duas atividades estão programadas. Na quinta-feira, ocorre a “Malupíadas” (Olimpíadas da Saúde Mental) no Parque dos Dick. O credenciamento inicia às 8h, com jogos às 8h30min e encerramento ao meio-dia. Na sexta-feira, será realizado seminário sobre emergências psiquiátricas para qualificação dos profissionais da área.

Acesso distante

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), doenças e transtornos mentais afetam mais de 400 milhões de pessoas em todo o mundo. Conforme dados da ONU, entre 75% e 85% não têm acesso a tratamento adequado. No Brasil, se estima que cerca de 23 milhões de pessoas passem por tais problemas, sendo ao menos cinco milhões em níveis de moderado a grave.

SAIBA MAIS

Por diversas gerações, doentes mentais eram excluídos totalmente da sociedade. Muitos, obrigados a viver em regimes de clausura e trancafiados em manicômios e tratados por métodos invasivos, como tortura, que resultaram na morte de milhares.

Em 1978, trabalhadores da saúde e familiares de doentes mentais fundaram o Movimento dos Trabalhadores da Saúde Mental (MTSM). A mobilização fomentou a criação de diversas outras atividades, como a Luta Antimanicomial, que, por sua vez, originou a Reforma Psiquiátrica.

O movimento tem núcleos em todos os estados brasileiros e a cada dois anos concentra encontros nacionais que procuram reunir todos os militantes para deliberar, de forma democrática, seus princípios e ações.

Uma das conquistas desse movimento foi a Lei 10.216/2001, que determina o fechamento progressivo dos hospitais psiquiátricos e a instalação de serviços substitutivos: os Caps, as Residências Terapêuticas, Programas de Redução de Danos, Centros de Convivências, as Oficinas de Geração de Renda e outros.

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