Modelo de qualidade favorece cooperativas

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Modelo de qualidade favorece cooperativas

Empresas monitoram produtor, transporte, industrialização do leite e mantêm marcas distantes de escândalos. Produtos ganham a preferência nas gôndolas dos supermercados

Estado – Os programas de qualidade implantados nas cooperativas deixam as marcas longe de escândalos até agora. A situação fortalece a presença do produto nos mercados e eleva o consumo.

Conforme o presidente da Ocergs, Virgilio Perius, dos dez milhões de litros de leite produzidos diariamente no Rio Grande do Sul, pelo menos a metade é processada em cooperativas. Segundo ele, com o leite rastreado e remunerado por qualidade, se consegue ter maior controle sobre todo processo. “O produtor é dono do negócio. Por isso ele fiscaliza, exige orientação técnica e prioriza a qualidade.”

3Todas as cooperativas têm seus sistemas próprios de transporte. Outro fator positivo é a orientação técnica direto na propriedade, o que torna o acompanhamento mais próximo da origem da matéria-prima.

O pagamento extra por leite de melhor qualidade é visto como uma forma de valorizar o trabalho do produtor e evita fraudes, adição de substâncias para elevar a oferta e os lucros. “Isso não torna as empresas isentas de erros ou possíveis adulterações. Mas o risco é quase nulo.”

No Estado existem 11 cooperativas que industrializam leite, sendo seis de grande porte. Dessas quatro têm supermercados onde vendem os produtos. “A fidelidade e o compromisso com a qualidade vai desde o produtor até as gôndolas.”

Quanto às fraudes deflagradas na quarta-feira, Perius cobra mais rigor na fiscalização por parte do governo para melhorar o controle de qualidade do produto que entra nas indústrias. Destaca o exemplo positivo da Alemanha, onde até as gramíneas consumidas pelas vacas são examinadas.

Apreensão de caminhões

A quinta etapa da Operação Leite Compen$ado, deflagrada na quinta-feira em dez municípios dos vales do Taquari, do Rio Pardo e do Sinos, seguiu na sexta-feira. Em Encantado o MP apreendeu mais dois caminhões transportadores de leite.

O Mapa ainda lacrou um resfriador clandestino na mesma cidade.

A ação recolheu 16 caminhões, cujas cargas serão alvos de inspeções. Outros 18 mandados de busca e apreensão de veículos expedidos devem ser cumpridos neste mês.

Confiança abalada

A artesã Maria Gessy Zimmermann, 65, afirma ter consumido leite fraudado. Moradora do centro de Lajeado, comprou uma caixa com oito unidades de leite UHT integral da Pavlat em fevereiro. Após a ingestão do leite, começou a ter sintomas como diarreia e vômito.

Desconfiada, comprou outras marcas e confirmou a suspeita. “Só o leite da Pavlat me fazia mal.” Sem conseguir comer, apenas bebendo chás e água de coco, emagreceu quatro quilos em uma semana.

Sem laudo, pretende mandar o produto à análise. Descarta a ideia de processar a empresa, mas espera mais respeito ao consumidor.

Um dos responsáveis pela gerência do supermercado, onde Maria comprou o lote 76E1 garantiu a retirada de todos os produtos das marcas Pavlat e Hollmann das prateleiras, seguindo orientações do Sindilat e Agas.

Para o gerente comercial de uma rede de supermercados de Lajeado, Elton Fischer, a compra de produtos lácteos depende da preferência do cliente, na maioria voltada à produção regional e de cooperativas.

Outra encarregada de uma rede atacadista, Carla Braga, cita a retirada de todos os produtos Pavlat das gôndolas. A orientação partiu da gerência, após divulgação de fraudes. Relata inexistência de reclamações de clientes até o momento e cita a possibilidade de troca dos produtos, com apresentação de cupom.

Leite não deve ser consumido”

Segundo o clínico-geral, Carlos Jorge Nonnemacher, a ingestão de leite fraudado (com água oxigenada, soda cáustica) de imediato pode causar reações gastrointestinais, como diarreia, vômito ou gastrite, a partir da reação à acidez do produto.

Porém cita inexistência de estudos específicos que comprovem alguma doença, exemplo câncer, após anos de consumo.

Na opinião do médico, os sintomas podem variar de uma pessoa a outra e pela quantidade ingerida, podendo até se confundir com uma virose. “Não sabemos quais são todas as consequências, mas certamente não é saudável consumir leite fraudado.”

Falta de fiscais

Responsável pela inspeção de 90% do leite captado e industrializado em 104 pontos do Estado, o Ministério da Agricultura não atua na fiscalização do transporte do produto. A existência dessa lacuna entre os produtores e a indústria, no entanto, pode estar com os dias contados.

O Dispoa tenta regularizar o modelo de relação no qual o transportador passou a atuar como intermediário.

Com dez fiscais federais agropecuários e 20 agentes de inspeção atuando em indústrias gaúchas de leite e derivados, seria necessário dobrar o número de fiscais federais para dar conta da demanda. Nos próximos meses, 130 novos técnicos devem iniciar o trabalho.

Denuncie

O Ministério Público orienta as pessoas a denunciar fraudes no Serviço de Informações e Atendimento ao Cidadão, no link http://www.mprs.mp.br/siac. As denúncias também podem ser feitas na sede do MP, localizada na avenida Aureliano de Figueiredo Pinto, 80, em Porto Alegre, ou pelo telefone (51) 3295-1100.

Segundo o MP, quem comprou os produtos da Pavlat e da Hollmann deve descartá-los, mesmo que as análises não tenham constatado irregularidades no produto final.

Um ano de problemas e fraudes

A Operação Leite Compen$ado, do Ministério Público, iniciou em 8 de maio de 2013. As investigações apontaram para um esquema que adulterou cerca de cem milhões de litros do produto no Estado.

Na ocasião, o MP revelou que transportadores adicionavam água e ureia (que contém formol) ao leite cru para aumentar o volume e disfarçar a perda nutricional no caminho entre a propriedade rural e a indústria. O esquema era realizado em postos de resfriamento.

Na primeira fase, foram identificadas fraudes nos municípios de Guaporé, Horizontina e Ibirubá. Quinze pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público e oito foram presas. Dessas, quatro estão em liberdade. Seis pessoas foram condenadas pela Comarca de Ibirubá. A sentença foi proferida pelo juiz Ralph Moraes Langanke em dezembro de 2013.

A segunda fase foi deflagrada em 22 de maio do ano passado nos municípios de Ronda Alta e Boa Vista do Buricá. Quatro pessoas foram presas e seis foram denunciadas pelo MP. Dessas, três estão em liberdade. O processo ainda está em andamento e ninguém foi condenado.

A terceira etapa foi realizada em 7 de novembro de 2013 no município de Três de Maio. Quatro pessoas foram denunciadas. Ninguém foi preso.

A quarta fase foi desencadeada em 14 de março deste ano nas cidades de Condor, Panambi,Tupanciretã, Bossoroca, Capão do Cipó, Vitória das Missões, Ijuí e Santo Augusto. Até agora, uma pessoa foi denunciada. O processo ainda está em andamento.

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