Intolerância abala o  futebol regional

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Intolerância abala o futebol regional

Casos de violência física e verbal aumentam nos campos de várzea e desafiam os dirigentes

oktober-2024

Amador – Dois casos de indisciplina marcaram a última rodada classificatória do Campeonato de Lajeado, no domingo. A partida entre Penharol e Jardim do Cedro sequer terminou. Um dos auxiliares de arbitragem foi agredido e a Brigada Militar foi acionada. Em Canudos do Vale, um ato de racismo manchou o confronto entre Nova Berlim e Internacional.

04Violência, ofensas verbais e confusões se tornaram corriqueiras no futebol amador. A situação preocupa os dirigentes, dificulta a renovação da arbitragem e afasta os torcedores dos gramados da várzea.

“É uma coisa incontrolável,” admite o presidente da Junta de Justiça Desportiva da Aslivata, Ney Fensterseifer ao falar sobre a violência no futebol. De acordo com ele, há punições severas para atletas e dirigentes que diminuem os casos de indisciplina. Cita a perda de pontos, suspensão de jogadores ou multa.

Porém, na opinião dele, os maiores problemas ocorrem com os torcedores. Fenstenseifer percebe a dificuldade de controlar e identificar os violentos. “A única maneira de evitar é não ter público no jogo.”

Em 2014, pelo menos outros quatro casos de violência foram registrados no Vale do Taquari (veja boxe na página 13).

Jogo sem fim

A partida entre Penharol e Jardim do Cedro, na categoria aspirante, terminou aos 22 minutos do segundo tempo. Após a arbitragem assinalar impedimento em um lance de gol do Penharol, um grupo de jogadores e seguranças da equipe teria agredido um dos auxiliares.

O trio de arbitragem foi para o vestiário para tentar se proteger. Só saiu após a chegada de cinco viaturas da Brigada Militar. Eles foram escoltados para fora da praça esportiva do bairro Morro 25.

“Nós trabalhamos com essa insegurança,” admite o árbitro da partida, Alcemir Poletto, 33. Ele trabalha há dez anos e percebe o aumento da violência nos campos de futebol de várzea.

Para ele, a rivalidade entre as equipes facilita os casos de indisciplina. A falta de bom senso também é um dos fatores preocupantes. “Cada equipe tem 11 jogadores e nem tudo que marcarmos vai agradar a todos.”

A condição dificulta a renovação do quadro de arbitragem. Essa é uma das maiores dificuldades da Associação Regional de Árbitros (ARA). A faixa etária dos cerca de cem associados beira entre 30 e 35 anos.

Hoje, a Liga Lajeadense de Futebol Amador (Lilafa) organiza uma reunião com as equipes para definir o futuro da competição municipal. Conforme o presidente Darlei Christ, há possibilidade de a partida ocorrer no feriado, ou o Penharol ser eliminado da competição.

As punições para as equipes serão definidas após a análise da súmula. O documento deverá ser entregue hoje pelo trio de arbitragem à Lilafa.

Christ lamenta os casos de indisciplina. Conforme ele, os clubes perdem liderança e o campeonato tem a credibilidade abalada. “As pessoas se afastam do futebol amador por causa dessas coisas.”

Racismo no municipal

“Esse macaco está apitando o jogo.” Essa foi a frase que teria sido dirigida para Ezequiel Roberto Alves, 25, no intervalo do confronto entre Internacional, do bairro Conservas de Lajeado, e Nova Berlim, de Canudos do Vale. Atleta da equipe do Conservas, Alves estava aquecendo com outros quatro colegas no momento dos xingamentos.

Ele conta que perguntou para a mulher. “Você está falando comigo?” Ela respondeu: “É contigo mesmo. Acha que não estou vendo você aí do lado querendo mandar no jogo”. Alves ameaçou registrar ocorrência de racismo e, segundo ele, a mulher teria continuado a ofendê-lo com palavras de baixo calão.

“Foi de chorar. Fiquei tão mal que nem entrei em campo. Não tinha ânimo.” Após o jogo, Alves registrou o fato na Brigada Militar de Canudos do Vale. A Polícia Civil investiga o caso. Suspeita-se que as ofensas tenham partido de uma moradora vizinha ao campo.

Estreante na competição lajeadense, Alves nunca havia presenciado um ato racista. As ofensas o fizeram desistir de jogar o amador. Entretanto, ele pretende descobrir a identidade da agressora e processá-la. “Quero defender meu direito. Defender minha cor e meu bairro (Conservas).”

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