Promotoria apura falta de pediatras no hospital

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Promotoria apura falta de pediatras no hospital

Médicos pararam de atuar no plantão do HBB

Lajeado – Pais inconformados com a falta de pediatras no pronto atendimento da Unimed, no Hospital Bruno Born (HBB), ingressaram no Ministério Público (MP). Desde março, os seis profissionais que se revesavam na unidade pararam de atuar no plantão.

No domingo passado, o técnico em enfermagem, Alexandre Mallmann, levou o filho de 5 anos ao hospital. Chegou às 22h30min e se surpreendeu por não ter um pediatra. “Pagamos caro para ter um plano de saúde. Vamos cobrar nossos direitos.”

O filho, com um entorse no pé, foi atendido depois da 1h dessa segunda-feira, por um clínico geral. “Liguei para o 0800 da Unimed. Me informaram que foi um acordo com o HBB, que só em casos de urgência ou emergência um pediatra seria chamado.”

Outros pais também se incomodaram com a situação. A técnica em enfermagem Jane Franco da Silva levou a filha de 10 anos para uma consulta com um pediatra.

Diante da ausência do especialista, procurou a Polícia Civil (PC). Pretendia registrar uma ocorrência por falta de atendimento, mas foi orientada a procurar o MP. De acordo com ela, a promotoria buscaria explicações do HBB devido à falta de pediatra.

No pronto atendimento, relembra Jane, começou a questionar os motivos para não ter o especialista. Segundo ela, com as reclamações dos pacientes e familiares, a coordenação chamou três vigias. “Me senti coagida. Médico para atender não tem, mas segurança para intimidar as pessoas tem.”

Ontem, a cooperativa de saúde convocou uma reunião com pediatras. Junto com o HBB, pretende formar uma segunda equipe de pediatras para o pronto atendimento.

Dificuldade na contratação

O diretor-médico do HBB, Cláudio Klein, diz que os pediatras estão em sobreaviso. Caso seja necessário, os clínicos podem chamar o especialista. Segundo ele, houve mudanças no modelo do plantão privado. Antes a administração cabia à Unimed. De fevereiro para cá, o hospital passou a gerir o funcionamento da unidade.

Com isso, a cooperativa de saúde passou a pagar por consulta. Para a pediatria, diz Klein, o valor pago ao hospital não mantém os profissionais no estabelecimento. “Não cobre a metade dos custos.”

Apesar disso, o principal motivo é a falta de especialistas no mercado, alega o diretor-médico. “Estamos procurando pediatra há três anos para compor a equipe da UTI.”

Segundo ele, os seis pediatras que atendiam no plantão entregaram uma carta pedindo dispensa do pronto atendimento. A partir disso, iniciaram uma negociação com os profissionais.

O sobreaviso, afirma Klein, é uma solução intermediária. “Nosso intuito é criar uma segunda equipe só para atuar dentro do hospital no pronto atendimento.”

“Só o pediatra está capacitado”

Para o vice-presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, Marcelo Porto, é inadequado trabalhar com médicos em sobreaviso. “O problema é se tiver um caso grave e ele não chegar a tempo.”

Segundo ele, o único médico habilitado para tratar crianças é o pediatra. “Ele tem formação para isso. Só o pediatra está capacitado.”

Na opinião do médico, a falta de pediatras no mercado é relativa. Nos últimos dois anos, aumentou o número de inscritos nas residências, diz.

Dificuldade em todo o Estado

Mais da metade das cidades gaúchas precisa de pediatra. É o que indica pesquisa da Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs).

A entidade diz que 95% das cidades têm dificuldade em contratar especialistas. Em 56% dos casos, pediatras.

Em Santa Cruz do Sul, por exemplo, só tem um especialista no plantão. Em 2013, a administração municipal conseguiu contratar um pediatra. O atendimento no posto só é mantido 24 horas por dia porque oito clínicos gerais participam do plantão.

Nos postos de saúde de Lajeado também há essa dificuldade. No mês passado, os pediatras eram deslocados pelos bairros para garantir pelo menos uma vez por semana o atendimento aos pacientes.

Outro exemplo é a UPA. Desde a abertura, em 11 de março, a gestora da unidade tenta contratar um pediatra. Para atraí-los, chega a oferecer R$ 160 por hora. Em termos de país, nos últimos anos, o custo desse especialista subiu cerca de 50%. Conforme Klein, em 2012, a hora estava tabelada em R$ 65. Hoje passa dos R$ 100.

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