Lajeado – Dois dos principais cemitérios católicos da cidade estão superlotados. Resta uma vaga no Florestal e outras três no Hidráulica. Há anos a Sociedade Cemitério União Comunitária busca medidas capazes de solucionar o problema, mas esbarra em projetos e na dificuldade de contato com familiares para exumação dos mortos.
Uma das alternativas, prevista como solução para a maioria dos casos, está suspensa. A entidade pretendia utilizar uma área de 70 mil metros quadrados no Jardim do Cedro para fazer os sepultamentos. Mas o espaço, comprado em 2004 e finalizado em 2012, é alvo recorrente de vândalos.
Conforme o administrador da mantenedora, Vital Rezner, 68, os atos criminosos começaram logo após a abertura do cemitério. Banheiros, lâmpadas e rede de água foram destruídos diversas vezes. Desde então, foram feitos mais de 50 ocorrências policiais pelos ataques. “Isso afugenta a comunidade e ninguém quer ter um parente sepultado num lugar assim.”
O espaço no Jardim do Cedro tem 170 gavetas e 20 túmulos (com dois lugares cada). Em junho do ano passado, os três padres responsáveis pelas paróquias de Moinhos, São Cristóvão e Santo Inácio se reuniram para debater sobre qual medida seria adotada. Entraram em consenso de suspender os investimentos na área.
A liberação está condicionada ao fim das obras do complexo habitacional, construído pelo governo em frente ao local. Com moradias nas proximidades, acredita Rezner, os infratores devem ser intimidados e desistir de estragar o patrimônio da comunidade.
Projeto de gavetas travado
A sociedade mantenedora passou a administrar os três cemitérios em 2001. Ao todo, são gerenciadas 3,7 mil túmulos, alguns comportam até sete corpos. Mas na média geral, conforme Rezner, cada espaço concentra dois sepultados.
Segundo o administrador, a comunidade falhou no passado em não se preocupar com a expansão dos cemitérios. De acordo com ele, os túmulos eram construídos de qualquer maneira, não sendo aproveitado o mínimo de espaço necessário. “Assim tivemos muitas sepulturas atravessadas, que ocupam a área de duas normais.”
Alternativa urgente, conforme Rezner, seria aumentar o número de gavetas. Projeto iniciado em 1986 pela igreja previa oito andares em cada coluna, mas na prática foram feitos três. No ano passado, um engenheiro foi contratado pela sociedade para reavaliar as estruturas. Constatou que poderiam receber os outros cinco andares projetados.
Pedido de autorização foi encaminhado ainda no ano passado à Secretaria de Planejamento. Mas até o momento não houve resposta. Dado o aval do governo, serão abertas 75 novas vagas. A quantia resolveria o problema durante 2014.
Exumação por mais espaço
A sociedade busca contato com familiares de sepultados para negociar a exumação dos corpos. Com isso, seriam reutilizados os túmulos e construídos memoriais específicos. Mas a medida trava na dificuldade de localizar as pessoas. Muitas mudaram de endereço e de telefone.
Apenas no Florestal, destaca o administrador, a sociedade perdeu o contato com familiares de 200 sepultados. A mantenedora oferece benefícios para a troca. De acordo com Rezner, são doadas as caixas para depositar os restos mortais (chamadas nicho), avaliadas em R$ 650, para aqueles que abrem mão da sepultura.
Em troca, também ganham o direito de utilizar o memorial onde o nicho é depositado durante 15 anos sem a necessidade de pagar anuidade. Depois desse período, familiares precisam pagar R$ 17 por ano para manter o espaço – valor unitário aos associados.
A proposta é veiculada de diversas maneiras, como rádios e jornais. Ontem, o casal Marli dos Santos, 67, e Jair José dos Santos, 63, soube do benefício e foi até a sociedade para acertar o acordo. Desocuparam o túmulo onde foram sepultadas a filha e mãe de Marli (1983 e 1990, respectivamente). “Agora teremos um espaço dedicado a elas e podemos oferecer mais vagas, ajudando outras pessoas”, ressaltam.
A sociedade também pode fazer a remoção dos corpos caso nenhum familiar seja encontrado. Rezner coloca os telefones da instituição à disposição para esclarecimentos: 3011-3025 e 8593-9759.
Cremação como alternativa
Custos como caixão, lápide e espaço no cemitério levam muitas famílias a optar pela cremação. Mas o avanço da atividade é moroso devido aos costumes e tradições da comunidade, até mesmo por regras religiosas.
A vontade de passar pelo processo após a morte precisa ser comunicada à família. Apenas deixar um documento pedindo a cremação é insuficiente. No final, cabe aos parentes decidir. O velório pode ocorrer de forma normal e, no caso da família optar pela cremação, o corpo é levado ao crematório depois da cerimônia.
O processo consiste em submeter o corpo a uma temperatura de 1000°C em forno crematório. Só pode ser feito 24 horas após o óbito e demora de duas a três horas, dependendo de cada corpo. Ao fim do processo, restam apenas cinzas e alguns fragmentos ósseos, que são triturados para que fiquem uniformes e sejam entregues aos familiares.