Lajeado – Reclamações iniciaram pela manhã, nas primeiras horas do novo serviço, e se estenderam até o fim da tarde. Diversos motoristas alegaram não encontrar monitores nas ruas e deixaram de pagar o estacionamento rotativo. Mas, ao retornarem para o veículo, se depararam com a advertência colocada no para-brisa: multa de R$ 15 por desrespeitar a cobrança.
Muitos monitores precisaram prestar esclarecimentos e ouvir críticas. “Outra vez essa roubalheira. Da próxima, fica aqui perto pra eu pagar”, gritou um motorista para o cobrador, cerca de dez metros distante. Os inadimplentes tiveram que ir até a sede da Stacione Rotativo regularizar a situação, do contrário ficariam sujeitos à multa de R$ 53,20 e três pontos na CNH.
Clóvis Ademar Machado, 37, morador de Cruzeiro do Sul, passou pelo processo. Estacionou o carro na rua Tiradentes – transversal entre a Júlio de Castilhos e a av. Benjamin Constant – e desistiu de aguardar após dez minutos. “Tinha compromisso, não podia ficar esperando. Pedi em duas lojas onde se comprava esse bônus, mas ninguém sabia de nada.”
Quase uma hora depois, encontrou a advertência sobre o carro e nenhum monitor nas proximidades. Machado deixou o veículo no local e caminhou duas quadras até a Stacione, na rua Saldanha Marinho. Como era o primeiro dia de cobrança, empresa e município decidiram manter a advertência de forma educativa, sem exigir o pagamento.
Houve, pelo menos, dois casos de motoristas que permaneceram na vaga por mais de duas horas – prazo máximo – configurando infração e guincho do veículo. Mas o Departamento de Trânsito optou por orientá-los em vez da remoção. “Mas a partir de amanhã (terça-feira), vamos multar e guinchar”, reforça o coordenador de Trânsito de Lajeado, Euclides Rodrigues.
Nenhuma empresa cadastrada
Uma das alternativas apontadas pela Stacione para equilibrar o reduzido número de monitores seria a venda de créditos de estacionamento no comércio lajeadense. Contudo, nenhuma loja está apta para oferecer tal serviço. Previsão da concessionária do rotativo aponta solução ao problema até o fim desta semana.
Segundo Eccher, a Stacione contratou duas operadoras para firmar convênios com lojas da cidade. Mas, devido a entraves burocráticos, a efetivação da proposta segue emperrada. Nos próximo dias, estima, Lajeado terá 260 pontos de venda.
“Tivemos erros estratégicos”
De acordo com Rodrigues, houve um equívoco em iniciar a cobrança na área demarcada de 1,3 mil vagas. Entre os problemas enfrentados, cita a falta de instrução dos monitores para orientar motoristas sobre o novo modelo. “Deveríamos ter começado em uma área menor.”
Em função dos transtornos, a área azul deve ser reduzida para cerca de 600 vagas hoje pela manhã. Com isso, acredita o coordenador, será possível reunir maior número de monitores em um determinado espaço, podendo atender melhor os motoristas. Decisão exata sobre as mudanças passou por avaliação da direção da empresa, ontem à noite.
Conforme o gerente de operações da Stacione, Kleber Eccher, informações sobre o dia de trabalho deveriam ser compiladas. Entre elas, o número de notificações, valores arrecadados e a quantidade de monitores que trabalharam. Boletim com dados completos deve ser encaminhado à imprensa hoje.
Efeito desejado: vagas disponíveis
Apesar dos transtornos, ressalta o coordenador do Departamento de Trânsito, o rotativo alcançou o principal objetivo: liberar mais vagas de estacionamento no centro. De acordo com ele, lojistas e parte dos motoristas elogiaram a mudança e disseram que ela facilitou o deslocamento dentro da cidade.
Para quem deseja se livrar da cobrança, Rodrigues aconselha a deixar o veículo nas faixas brancas, em estacionamentos privados ou em áreas públicas propícias para o caso. “Temos 137 vagas Décio Martins Costa e muito espaço nos Dick também.” Tais áreas estiveram parcialmente lotadas nessa segunda-feira.
“Não podem descontar em nós”
Cobradores da Stacione se queixam da maneira como alguns motoristas reclamaram. Uma funcionária responsável por parte da Benjamin Constant teria sido empurrada por um homem ao colocar o bilhete de advertência no carro. “As pessoas precisam entender que não temos culpa. Só queremos trabalhar.”
Os funcionários também ficaram insatisfeitos com a quantidade de vagas para monitorar e disseram ser inevitável deixar alguém esperando. Uma das cobradoras atendia, ontem pela manhã, da Lajetel até a Previdência Social, na av. Benjamin Constant.
De acordo com a legislação trabalhista, nenhum servidor pode trabalhar mais de seis horas ininterruptas. Em virtude disso, como o rotativo funciona das 8h às 18h (10 horas), funcionários se dividiram em turnos.
Como havia equipe insuficiente para cobrir os horários, alguns servidores começaram a trabalhar às 8h e foram até as 15h sem descanso e sem almoçar. Assim, tiveram as duas horas seguintes de intervalo e voltaram das 17h às 18h.
A direção do consórcio Stacione Rotativo/Área Azul Brasil se comprometeu com a contratação de 52 monitores – 40 efetivos e 12 para revezamento e cobertura de folgas e nos intervalos – e cinco fiscais. “Estamos cobrando isso da empresa, que deveria estar com a equipe completa”, afirmou Rodrigues.