Dos gramados do Vale à Libertadores

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Dos gramados do Vale à Libertadores

Garoto simples, “Ticatá” faz história no futebol sul-americano e incentiva novos talentos

Felipe Gedoz da Conceição, 20: o mais novo ídolo no futebol sul-americano. Conhecido por “Ticatá” pelos amigos mais próximos, o garoto simples, destaque nos campos de várzea da região, ganha a cena na Libertadores.

04No jogo de terça-feira pelo Defensor do Uruguai, o meia-atacante marcou dois gols, para o delírio de familiares, amigos e moradores de Muçum – cidade com quase cinco mil habitantes. A camiseta embaixo do uniforme, com os dizeres “Anderson Eterno”, homenagem ao amigo que morreu há poucas semanas, demonstram o carinho pelas origens.

O garoto que sempre jogou nos gramados da cidade e treinou na escolinha de Roca Sales, fez o primeiro teste aos 11 anos. No mesmo time no qual o pai Djalma jogava: Juventude, de Caxias do Sul. Jogou por duas temporadas. Depois, passou uma pré-temporada no Catar, da Ásia, mas decidiu voltar. Logo foi chamado pelo Barão, do interior de Carlos Barbosa, seguido por outro teste no time de Carazinho e Guarani, de Venâncio Aires.

A série B, do Campeonato Gaúcho, logo o levaria mais longe. Era 2011. Aos 17 anos, o atleta destaque em times por onde passava. Foi apresentado ao Defensor do Uruguai pelo empresário e ex-jogador do grupo Eliomar Marcon. O início da história na Libertadores. Já são três gols três jogos.

O arroio-meense Andrei Trasel, 20, meio-campo do Dona Rita, treinou com Gedoz, nos juniores do Guarani de Venâncio, em 2011. Conforme Trasel, “Ticatá” era muito brincalhão com os companheiros, mas odiava treino físico. “Sempre quando o preparador físico vinha com um treino puxado, ele arrumava uma desculpa para fugir.”

Torcida a distância

Para a mãe, Serli, 40, o filho é sinônimo de orgulho. Atuante com serviços gerais em escolas da cidade, ela aprende a lidar com a distância. Relembra da época de infância, quando o filho único jogava bola com os amigos o tempo todo. O local preferido era um campo de areia, a poucas quadras de casa, no bairro Marcolin.
“Ser jogador de futebol sempre foi o grande sonho dele.” Incentivado por familiares, amigos e professores, o garoto se destacava entre os demais jogadores. Entre uma das comemorações de gol é que surgiu o apelido “Ticatá”. A tia o chamou assim, ao o ver dançando a música Melô do Ticatá.

O garoto risonho e humilde, descrito pela mãe, às vezes incomodava os vizinhos. Das peladas disputadas na rua, bolas quebravam vidros e lá iam os pais pagando o conserto. Serli conta que ele estudou até a 8ª série. Nas provas, costumava desenhar o símbolo do Grêmio no lado inverso.

Aos poucos, ela percebia a determinação do garoto e o foco dado ao futebol. “Sabíamos que não seria fácil, mas acreditamos no talento dele.” Feliz com o sucesso do filho, a família recebe o carinho e reconhecimento de moradores da cidade. Abraços e abanos pela rua passam a fazer parte da rotina.

Pessoas como a professora Daiana Rangel citam a forma como ele cativava os demais. “Deixa a gente ainda mais orgulhoso ao não ter vergonha de mostrar suas raízes.” A cidade que se prepare, pois o “Ticatá” virou ídolo entre as crianças. Alguns já o veem como um novo Neymar, sinônimo de inspiração e dedicação.

Gols viraram rotina

No primeiro turno do Campeonato Uruguaio, o Defensor ficou apenas na 12ª colocação. Gedoz foi o artilheiro da equipe, marcando cinco gols. Agora no segundo turno a equipe está na terceira colocação com 11 pontos, em seis jogos. “Ticatá” anotou duas vezes, uma contra o Miramar e outra diante do Cerro Largo, no último domingo.

Na taça Libertadores, o meia-atacante marcou três vezes, uma diante do Real Garcilaso-Peru, no dia 19 de fevereiro. As outras duas foram na terça-feira diante do Cruzeiro-MG. Os gols o credenciam como vice-artilheiro da competição. O goleador da Libertadores é Wallyson do Botafogo, autor de quatro gols.

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