Risco de obra incompleta ameaça segurança

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Risco de obra incompleta ameaça segurança

A exemplo de trechos em Canoas e Tabaí, gargalo de dois quilômetros pode prejudicar o desenvolvimento da região, provocar engarrafamentos e perigo de acidentes

oktober-2024

Vale do Taquari – Frente ao impasse para liberação de dois quilômetros para duplicação da BR-386, a região convive com o risco de ter a obra incompleta. Situação semelhante a outros dois gargalos na mesma rodovia. Um em Tabaí, no quilômetro 391 (no entroncamento com a ERS-287 em direção a Montenegro), e outro na entrada para Canoas, próximo à linha férrea.

Nesses casos, a construção também foi entregue incompleta, no início dos anos 2000, e mais de uma década depois o Dnit não conseguiu empreiteiras interessadas em concluir as obras. Como resultado, motoristas convivem com os riscos de acidentes e engarrafamentos.

1A insegurança nos locais é atestada pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Conforme o chefe de operações da 4ª Delegacia, Leandro Wachholz, as obras incompletas interferem no fluxo e confundem o condutor.

Em Canoas, o trecho saindo da Região Metropolitana é duplicado e passa para pista simples. Segundo ele, qualquer alteração, se não for sinalizada e de conhecimento das pessoas, causa riscos. “O usuário vem de uma situação confortável e passa abruptamente para uma via mais complicada, em um ponto de conflito.”

De acordo com o agente da PRF, os casos de acidentes tendem a ser de menor gravidade, na maioria dos casos com danos materiais. Por outro lado, os engarrafamentos, diz Wachholz, interferem no trânsito em diversos pontos da rodovia.

Como exemplo, cita o feriadão de Páscoa do ano passado. “Tivemos 70 quilômetros de congestionamento. Inclusive chegou em Estrela.” Para ele, no caso da duplicação até Tabaí ficar incompleta nos dois quilômetros, o trânsito pela BR-386 será prejudicado. “O quadro ficará semelhante a esses pontos em Canoas e Tabaí. Qualquer movimentação acima do normal trará congestionamento.”

A Funai condiciona a autorização para as obras no trecho próximo da aldeia caingangue à construção da nova aldeia. Pelo contrato, a instalação das 29 moradias, centro de reuniões, escola e casa de artesanato tem prazo de conclusão até o fim de 2015.

Conhecida como a “Estrada da Produção”, a BR-386 é de via simples em 80% dos 450 quilômetros entre a Região Metropolitana até o Norte do Estado. Estima-se que 20 mil veículos trafeguem por dia no trecho da 4ª delegacia da PRF.

Mobilização e pressão política

No próximo sábado, entidades representativas do Vale promovem o ato “Libera já”. Organizada pela Câmara da Indústria e Comércio (CIC-VT), a manifestação pretende constranger a Funai devido a posição considerada intransigente pelos líderes locais.

O protesto será das 9h às 13h, no posto Laguinho, em Estrela. Conforme o presidente da CIC-VT, Oreno Ardêmio Heineck, a comunidade regional tem apoiado o ato. Na melhor das hipóteses, os organizadores esperam alcançar três mil pessoas. Mais de 30 entidades confirmaram presença. “Não há uma explicação lógica para essa postura da Funai. Agora é a hora. Ou nos mobilizamos, ou perdemos o direito de reivindicar.”

Na opinião dele, deixar os dois quilômetros em pista simples é uma violência contra a cidadania. “Já pagamos um preço adicional pela obra. Agora deixar de uma maneira imotivada esse gargalo vai prejudicar o desenvolvimento da região e do Estado, além de oferecer riscos aos condutores.”

Caso haja o bloqueio do trânsito na BR-386, os motoristas poderão desviar pela Rota do Sol, pegando a Via Láctea, em Teutônia.

Além do manifesto às margens da rodovia, em outra frente, líderes regionais buscam apoio político. Em dezembro, a comitiva esteve com o senador gaúcho Paulo Paim (PT), com o vice-presidente da República, Michel Temer. Com ajuda dos políticos, esperam conseguir maior pressão do governo federal sobre a Funai.

No dia 22 de fevereiro, durante visita da ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, integrantes das entidades do Vale expuseram os fatos sobre o impasse e pediram que ela intermediasse o diálogo com a Funai.

Dnit adia liberação

A abertura do trânsito entre os quilômetros 370 e 384 prevista para a próxima quarta-feira, dia 12, foi revista pelo Dnit. O problema alegado foi a chuva, que atrapalhou o cronograma de aplicação do asfalto. A nova data é para o dia 19 de março.

No fim de fevereiro, o órgão abriu o trânsito em oito quilômetros, entre Bom Retiro do Sul e Fazenda Vilanova. A empreiteira trabalha em um trecho de nove quilômetros. Esse trecho deve ser finalizado em maio.

“Se não liberar, então entrega a República à Funai”

Com a união das forças sociais e políticas, o presidente da CIC-VT acredita na liberação dos dois quilômetros. “Com toda essa pressão, acho que vamos furar esse bloqueio. Se não liberar, então entrega a República à Funai.”

No discurso da presidente Dilma Rousseff em Davos, na Suíça, durante sessão do Fórum Econômico Mundial, em janeiro, um dos aspectos relacionados para a dificuldade no desenvolvimento do país foi a logística. A presidente destacou a necessidade de investir em estradas, hidrovias, portos e ferrovias.

Diante desse contexto, Heineck avalia: “as obras travam justamente nos órgãos como Funai, Ibama, Fepam. Temos leis superadas, que não trabalham a sustentabilidade.” Para ele, esses aspectos merecem uma rediscussão nacional.

Estudo em andamento

Para a duplicação de 350 quilômetros da BR-386 até Iraí, o estudo de viabilidade está em andamento. O projeto orçado em cerca de R$ 15 milhões deve ser entregue ao Dnit em 110 dias.

A BR-386 tem mais de meio século e apenas um trecho foi duplicado, 66 quilômetros entre Canoas e Tabaí. Em novembro de 2012, a bancada gaúcha na Câmara dos Deputados elegeu a obra entre as prioridades para os próximos anos.

O objetivo da Comissão Pró-Duplicação é fazer a obra por etapas. Primeiro conseguir emendas parlamentares para os primeiros 20 quilômetros, até Marques de Souza.

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