Vale do Taquari – Mais uma vez o retorno das aulas na Educação Infantil é tumultuado. Escassez de vagas e de professores, infraestrutura precária e até falta de roçada geram a reclamação dos pais nos cinco maiores municípios do Vale.
Investimentos realizados pelas administrações municipais são insuficientes para solucionar os problemas.
Em Lajeado, onde se estima 80 nascimentos mensais, os berçários das escolas Recanto Infantil, no bairro Moinhos, e Cantinho da Alegria, no Universitário, foram ampliados para atender juntos até 36 crianças a mais este ano.
Seis escolas de Ensino Fundamental com turno integral receberão alunos de 4 e 5 anos, cumprindo à norma do MEC de que 60% desse público esteja matriculado este ano e o restante até 2016.
A previsão é preencher uma turma – cerca de 20 alunos – em cada uma das escolas São Bento, Santo André, Lauro Müller, Capitão Felipe Dieter, São José de Conventos e Vida Nova (nessa será um turno no colégio e outro no Projeto Vida). O período de inscrições encerra no fim do mês.
Essas crianças mudam da creche para o Ensino Fundamental, abrindo espaço na Educação Infantil. As iniciativas tentam aplacar o déficit de 826 vagas para crianças até 6 anos de idade. Quase o triplo do ano passado, quando 2.619 alunos frequentaram as 23 creches municipais.
As reformas em escolas e construção de outra no bairro Conventos anunciadas para 2013 ficaram na intenção. A secretária de Educação, Eloede Conzatti, se nega a projetar uma data para as obras. “Falamos muito sobre isso e não aconteceu. A burocracia demora, tem o processo de licitação.”
A seleção dos pais em espera segue alguns critérios relacionados pelo Ministério Público, Comede e município. São eles: ser funcionário municipal; morar em Lajeado; ter renda de até três salários mínimos regional; comprovação de que os pais estejam empregados; ou a mãe ser estudante da educação básica.
Eloede cita que o Fundo Municipal da Educação Infantil facilita a manutenção na infraestrutura das escolas e construção de novas salas. Cinco empresas são conveniadas.
No início de 2013, a administração municipal abriu sete turmas em cinco escolas, gerando 152 vagas para as crianças até 6 anos. Na época, 300 esperavam na fila.
Falta roçada
Solange Güntzel, 26, tirou férias da confecção onde trabalha para ficar com as filhas de 2 e 4 anos, enquanto a creche Criança Esperança, no bairro Conservas, ficou fechada. Ela optou por não entrar no sistema de rodízio da administração municipal.
Na terça-feira a escola reabriu e a mãe se surpreendeu com a má conservação do pátio. “Tem muito mato, as crianças ficam dentro da sala porque pode ter algum bicho na rua.” Reclama ainda do excesso de alunos por professor, 15 em média, e da falta de investimentos do Executivo em melhorias, como a instalação de um ar-condicionado feito por um dos pais.
As professoras confirmam que o pedido de capina para antes do retorno dos alunos foi protocolado na Secretaria de Agricultura. Sem atendimento, reforçaram a solicitação.
A secretária Eloede afirma que a falta de professores se deve ao período de férias. Até 2 de março, o corpo docente fica defasado em 30%. Cita entraves como os 3.798 dias carentes de professores com atestados médicos e a dificuldade em manter os estagiários no quadro.
Informa que o posto de saúde desativado, ao lado da escola, será usado para acomodar as crianças. Em fevereiro ocorre a licitação e depois as obras. A solicitação de dez monitores foi encaminhada à câmara de vereadores.
Sobre a roçada, diz que será feita assim que os servidores conseguirem atender a demanda. Por outro lado, sugere que os pais se prontifiquem a realizar o serviço como solução emergencial.
Estrela tem dez creches, totalizando 1,2 mil alunos entre 4 meses e 5 anos de idade. A Secretaria de Educação quer abrir 450 vagas neste ano.
A construção de duas creches, nos bairros Pinheiros e das Indústrias, e expansão de outras devem sanar o déficit atual de 261 vagas.
A Casa da Criança abrigará mais 120 crianças do berçário e maternal (4 meses a 4 anos) no prédio ampliado, totalizando 280 alunos. Profissionais foram contratados e materiais comprados. Falta a instalação da cobertura da área externa. O investimento é de R$ 150 mil.
Conforme o secretário de Educação, Marcelo Mallmann, a construtora garantiu a conclusão em 15 dias. Uma subestação de energia, no valor de R$ 50 mil, foi instalada. No dia 10, começa a fase de adaptação das crianças.
Na Arco Íris o berçário foi aumentado e falta comprar equipamentos para o lactário (local para higienização de mamadeiras e preparo e estocagem do leite). Crianças de 3 a 6 anos dessa creche foram transferidas para a escola Odilo Afonso Thomé.
Durante as férias houve manutenção na Raio de Sol, Pingo de Gente, Cantinho do Lar, e Criança Feliz. A creche São João será pintada nos próximos dias. Subestações serão instaladas para solucionar o problema da queda de energia nas escolas num investimento de R$ 500 mil.
Quatro chances, nenhuma vaga
Cristina Morais Ramos é funcionária de uma empresa de tecidos. Cumpre o período de férias pós-maternidade e depois pedirá demissão. Decidiu trabalhar como autônoma para cuidar do filho Heitor, 4 meses.
Ela se candidatou a vagas em quatro creches, no Moinhos da Água, onde mora, e nos bairros próximos. “Me disseram que há 20 crianças por vaga e seria complicado conseguir.”
Sua família mora em outra cidade. Sem condições de pagar uma escola particular, adiantou o plano de trabalhar com decoração de festas, criado no curso técnico em Marketing. O escritório fica em casa e ela cuida de Heitor enquanto atende. “Se ele reclama, uso o computador com ele no colo.”
Cristina desistiu de esperar por uma chance de matrícula. Manterá a rotina dividida entre filho e profissão.
Outra moradora do mesmo bairro espera vaga para a filha de 1 ano e 3 meses desde 2012. Deixa a menina com a avó, no interior de Estrela, e segue para o trabalho naquela cidade.
Está inscrita em quatro escolas e das vezes que ligou para a Secretaria de Educação, ouviu a mesma resposta: é difícil pela demanda.
Transferência de duas escolas
Em Encantado, há nove creches, 600 alunos atendidos. O município não divulgou o número de crianças na fila.
Em alguns bairros, como no Porto XV, moradores aguardam há mais de 20 anos pela construção de uma escola infantil. Até 2017, consta em Plano Plurianual a compra de um terreno para a obra.
O prédio da Emei Pingo de Gente, no bairro Vila Moça, foi ampliado em 40 metros quadrados, garantindo mais 16 vagas dos 4 meses a um 1,5 ano de idade.
Segundo a secretária de Educação e Cultura, Roseli Mottin Soares, a falta de recreacionistas capacitadas é o principal entrave diante das ampliações de escolas.
Nos próximos três anos, o município prevê investimento de R$ 2,9 milhões com construção e reformas. Não há previsão de novas vagas na Educação Infantil.
Mais 120 vagas
Teutônia tem duas creches municipais onde estão matriculadas 156 alunos. Mais uma será construída em dez meses pelo modelo Proinfância B, no bairro Alesgut. O investimento é de R$ 1,4 milhão. As demais são comunitárias.
Com a terceira escola, mais 120 crianças serão atendidas num espaço de 1,3 mil metros quadrados. A Secretaria de Educação não informou o déficit de vagas no município, justificando que realiza o levantamento, e omitiu o índice em 2013.
Segundo a coordenadora da Educação Infantil, Marlice Feldkircher, a Meu Cantinho passa por reformas para abrir duas turmas de berçário, faixa etária mais carente de vagas. Pelo menos mais 12 crianças serão atendidas.
ATENDIMENTO COMUNITÁRIO
Arroio do Meio não tem creches municipais. As oito comunitárias recebem 770 crianças, atendidas por 130 profissionais. O déficit era de 200 vagas até dezembro de 2013.
Mantidas por associações, as entidades recebem bolsa auxílio de R$ 300 da administração municipal por criança, mais a mensalidade paga pelos pais.
Segundo a secretária Eluise Hammes, a compra de um terreno está em estudo para construir uma escola de Educação Infantil municipal.
Chamada após quatro meses
A secretária Linéia Nicolini Menges, 33, inscreveu Taís para uma vaga na Casa da Criança, em Estrela, assim que ela nasceu, há quatro meses. É a 38ª na fila e será chamada nos próximos dias face à ampliação do berçário. Ela havia sido avisada que quando a obra fosse concluída a vaga era certa.
Linéia volta a trabalhar aliviada. Recentemente, ligou para Secretaria de Educação a fim de confirmar o lugar na creche. De outra forma, teria de contratar uma babá ou matricular Taís em uma escola particular. “O orçamento ficaria apertado demais.”
A mãe volta ao trabalho no fim deste mês. Taís fará companhia ao irmão Igor, 5, que estuda na mesma escola. Ele ingressou na Casa da Criança com 1 ano e 4 meses. “Pude ficar cuidando dele mais tempo porque não estava trabalhando.”