Interrupção aumenta prejuízos e queixas

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Interrupção aumenta prejuízos e queixas

Pelo menos 290 clientes da AES Sul estão sem energia elétrica desde quinta-feira

Vale do Taquari – Demora no restabelecimento de energia elétrica aumenta os prejuízos e as reclamações contra a AES Sul. Pelo menos 290 clientes estão mais de cinco dias sem luz. Produtores de leite, aves e suínos acumulam as maiores as perdas. Companhia prevê para hoje finalização de todos os consertos decorrentes do temporal da semana passada.

01Residente em Linha Nova, Cruzeiro do Sul, Décio Reiter perdeu 150 quilos de alimentos. Sem refrigeração, carnes de gado e peixe estragaram nos freezers. As noites quentes propiciam invasão de mosquitos e horas maldormidas, devido à impossibilidade de usar ventilador ou condicionadores de ar.

Reiter é proprietário de uma olaria localizada há 700 metros da residência. Ao lado da moradia residem os sogros. Nesse domingo, o sogro, Lauro Reckziegel, 88, foi internado no hospital devido ao mal-estar causado pelo calor. A sogra, Adelina, 87, tem bronquite e precisa de nebulizações. Sem energia elétrica, a idosa consome o medicamento Aerolin para amenizar os problemas.

Quando possível, a família encaminha Adelina à olaria para realizar o procedimento quatro vezes ao dia. No local há gerador e transformador, investimento total de R$ 130 mil do proprietário para não interromper o fornecimento. “Não é de hoje que falta luz aqui.” Segundo Reiter, há cadastro na AES Sul para priorizar atendimento em casos de enfermidade. Mesmo com o registro, inexiste cumprimento da norma.

Reiter cobrará indenização da AES Sul. Em 50 anos com a empresa, nunca havia ficado mais de quatro dias sem abastecimento. Relembra que há três meses houve queda de postes e por três dias e meio ficou sem energia elétrica. “Acontecem essas situações e a companhia nem averigua.”

Fábrica parada

Uma fábrica de confecções em Linha Nova, com dez funcionários, não produz desde quinta-feira, 30. O proprietário, Alexandre Spellmeier, 48, em férias, calcula prejuízo decorrente a paralisação e deixa de fabricar 500 peças de roupas ao dia. Atrasará a entrega das mercadorias aos clientes e terá de pagar os funcionários pelos dias sem trabalho.

Há 20 com a empresa, Spellmeier nunca ficou tanto tempo sem energia. Para garantir a produção, investiu R$ 1 mil na compra de um gerador, há quatro meses. Usou por três vezes. Mesmo assim, o equipamento não supre a necessidade total da fábrica. “Agora a situação é mais grave e o gerador não é suficiente”, lamenta.

Prejuízo na produção leiteira

Em linha 13 de Maio, Arroio do Meio, a agricultora Loreci Berwanger perdeu 400 litros de leite, total de um dia de produção. Da última quinta-feira até sábado inexistia energia elétrica. Parte do leite foi distribuída aos vizinhos, utilizada na fabricação de käs-schmier e destinada à alimentação dos suínos.

Levou o leite para resfriar na propriedade de um amigo, na localidade de Rui Barbosa. Parentes abrigaram a carne guardada no freezer de Loreci. Lâmpadas e o resfriador de leite queimaram com a carga. Vizinhos perderam aparelhos eletrônicos. Segundo ela, problemas com energia elétrica são constantes. “Preciso desligar uma máquina de ordenha para ligar a outra”, reclama.

Criação de frangos ameaçada

Sem energia elétrica desde quinta-feira, 30, o produtor Pedro Volnei Mörs, 47, enfrenta problemas na criação de 22,8 mil frangos. A propriedade se localiza na Estrada Travessão, Arroio do Meio. Sem refrigeração, os frangos convivem com calor superior a 38o C nos aviários. Segundo o agricultor, os animais sobrevivem devido à pouca idade. “Se fossem maiores, com certeza estariam todos mortos”, avalia.

Os ventos de sábado aliviaram a sensação térmica. Mesmo assim, terá prejuízo. A situação afeta o crescimento dos animais. A distribuição automática da ração é feita manual. Cinco vezes por dia é necessário encher as vasilhas, uma a uma. “Não tenho sossego, passo a noite sem dormir preocupado com essa situação”, desabafa Mörs.

Há 19 anos com a criação, o avicultor reclama pela falta de respostas da AES Sul. Diz telefonar constantemente para a empresa, porém sem retorno.

Um reservatório próprio de dez mil litros garante água para os frangos durante o período. Um trator e um gerador estão ligados à bomba de água da sociedade para abastecimento de outras propriedades. Com apenas uma fase da luz, Mörs colocou extensões para manter os freezeres ligados.

Saiba como cobrar indenização

Para cobrar indenização na Justiça, moradores devem atentar aos tipos de casos. Segundo o advogado Ney Arruda, é preciso verificar o tempo sem energia elétrica e a causa do problema. Afirma que as companhias têm obrigação de consertar os danos o mais rápido possível e deveriam estar preparadas para situações como temporais, comuns na região.

1. Toda vez que houver queda de luz, informar a AES Sul pelo telefone 0800-707-7272 e registrar o caso. Deve ser informado o código do cliente.

2. Equipamentos estragados precisam ser vistoriados por uma assistência técnica autorizada. O técnico deve elaborar um laudo, atestando que a falta de luz ocasionou o problema. O cliente deve pagar o conserto e guardar a nota fiscal.

3. Juntar todos os protocolos e as notas fiscais. Caso a AES Sul não queira indenizar, o cliente pode entrar com uma ação judicial. A Justiça tem decidido em favor dos prejudicados.

Energia deve voltar hoje

Os pontos sem energia elétrica devem ser regularizados hoje. Segundo o coordenador operacional da AES Sul, Ricardo Neto, as manutenções estão encaminhadas e serão realizadas conforme prioridade e número de habitantes no local. Serviços classificados como “pesados”, como realocação de postes caídos, têm preferência.

No Vale, 290 pontos estavam sem energia elétrica até a tarde de ontem. Mais de 200 se enquadravam nos serviços pesados.

Os pontos da Certel Energia foram reestabelecidos até a última sexta-feira, 31. No total, 20,5 mil estabelecimentos e residências sofreram queda de energia elétrica. Apenas 200 precisaram ser regularizados no dia 31.

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