Transtorno e prejuízo marcam dia sem energia

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Transtorno e prejuízo marcam dia sem energia

Interrupção de energia elétrica passa de 24 horas em diversos locais da região. Prejuízos e transtornos se acumulam no interior e nas cidades. Queda de postes de sustentação e de árvores sobre as redes de transmissão de energia deixaram bairros sem abastecimento e impossibilitaram os serviços nas propriedades rurais.

Vale do Taquari – Além da falta de energia, os temporais de quinta e sexta-feira à tarde derrubaram galpões e destelharam casas. Maiores problemas verificam-se em Lajeado, Cruzeiro do Sul, Estrela e Arroio do Meio.

Em Passo do Corvo, interior de Arroio do Meio, a propriedade de Otílo Huber, 57, está sem energia elétrica desde as 17h de quinta-feira. O sistema para alimentar os animais é automatizado e obriga o fornecimento manual da ração.

2Para distribuir os alimentos aos 1,6 mil suínos e 15 mil frangos, quatro pessoas recolheram o conteúdo dos silos e passaram pelos chiqueiros e aviários. O serviço durou cerca de 16 horas.

Huber contatou a AES Sul, porém diz não ser atendido. Em 30 anos de profissão, nunca presenciou caso semelhante. “É difícil faltar energia aqui.” A água dos reservatórios está escassa, pois as bombas se sucção não funcionam. Segundo ele, a queda na temperatura colaborou com a situação, pois dispensou usar grandes quantidades de água para refrescar os animais.

Sem ordenha por 24h

Desde o fim da tarde de quinta-feira, a propriedade do agricultor Darci Vergutz, 56, não consegue ordenhar as 12 vacas. Na noite dessa sexta-feira, 31, um mutirão reuniu vizinhos e parentes para ajudar a ordenhar de forma manual. Caso a energia permanecer ausente, perderão todo produto. “Não há onde resfriá-lo.”

O prejuízo chega a R$ 200 por dia, e estima-se 30 dias para normalizar a produção. Em contato com a AES Sul, recebeu informação de que a luz voltará hoje.

O sogro do irmão Ornélio, 60, Aloísio Kappes, 84, tem Alzheimer e se encontra em estado terminal. É alimentado por sonda, não se comunica e vive deitado em uma cama há quase um ano. Para aumentar o conforto, ligam o ar-condicionado no quarto. Sem energia elétrica, precisam deixar a janela aberta para refrescar o ambiente.

As quedas de energia persistem há mais de quatro anos na propriedade de Vergutz. Segundo a esposa, Elóide, 55, é comum faltar luz. “Nunca sabemos o motivo. Não dão explicação.”

“Em dois minutos perdi R$ 10 mil”

Por volta das 17h40min ventos de 100 quilômetros por hora derrubaram o galpão na propriedade de Ari Martini (foto capa), 57, em Linha Sitio, Cruzeiro do Sul. No momento do incidente seis vacas e quatro suínos estavam alojados na estrutura. Todos sobreviveram. “Em dois minutos tudo veio abaixo. O prejuízo chega a R$ 10 mil.”

Esta é a segunda vez que são registradas perdas com temporais. Há quatro anos o telhado foi arrancado. Na lavoura de aipim, os danos também são consideráveis. Na área ao lado da residência, o vento derrubou em torno de 1,5 mil pés. “Deixarei de colher 150 caixas. São R$ 2,7 mil a menos.”

Distante 500 metros, a casa de Eliseu Alf, 63, foi parcialmente destelhada. A perda estimada é de R$ 3 mil. “Teremos que comprar telhas, tábuas e reformar toda estrutura danificada pelo vento.” A falta de energia estragou parte da carne e produtos armazenados no refrigerador.

Alf reclama da precariedade dos postes de madeira e da demora da AES Sul em restabelecer a energia. “É comum ficarmos mais de 30 horas sem luz. Os postes estão podres e ninguém troca.”

Na propriedade de Ernau Beppler, a falta de energia obrigou o produtor a ordenhar as vacas com auxílio do trator. Por dia a produção chega a 300 litros. “O leiteiro alterou o horário de recolhimento para evitar a perda do produto. Já estamos acostumados.”

A moradora Fernanda Vetorrazzi, de Boa Esperança Baixa, teve dificuldades de medicar a vó Cantina Zenatti de Almeida, de 78 anos. Com bastante tosse, ela precisa de nebulização a cada quatro horas. Sem energia e sem conseguir fazer o procedimento, o estado de saúde se agravou. “É um desrespeito com o cliente. Até poderíamos tentar atendimento no posto, mas a falta de fichas para consulta agrava o problema.”

Em tempo

Na área da AES Sul, eram 19 mil clientes sem energia elétrica. Na Região Metropolitana, o trecho entre Canoas e Montenegro é o mais afetado, com cerca de oito mil usuários afetados.

Já na Região dos vales do Rio Pardo e Taquari, são 11 mil casas sem energia elétrica. Em nota, a concessionária garantia a normalização do serviço até o fim dessa sexta-feira, o que não ocorreu.

70,5 mil clientes prejudicados

Na região pelos menos 30 casas foram destelhadas pela força do vento. Em Lajeado, os maiores transtornos foram causados no bairro Hidráulica onde foram derrubados três postes de madeira. Técnicos chegaram ao local duas horas após o ocorrido.

O morador João Henrique Marchy, 67, foi atingido por uma descarga elétrica. Ele fechava o portão frontal da casa, quando galhos de árvore encostaram na rede principal da rua e provocaram um curto-circuito. Ele foi levado ao Hospital Bruno Born onde recebeu atendimento e passa bem.

No pico do temporal, por volta das 18h, 50 mil clientes das regiões Metropolitana e dos vales do Rio Pardo e do Taquari ficaram sem energia elétrica. A AES Sul mobilizou em torno de 1 mil profissionais e normalizou o fornecimento para mais de 39 mil clientes em menos de 12 horas.

A Certel Energia mobilizou mais de cem profissionais, entre plantões, equipes de rede, operadores e atendentes, para normalizar a distribuição de energia, que faltou para 20.597 associados consumidores. O Disque Certel Energia recebeu 2.328 ligações. Foram atingidos associados de 12 municípios. A energia foi restabelecida até o fim da tarde de sexta-feira.

Geradores são alternativa

A maioria das reclamações parte do setor primário, sobretudo no verão. Neste período é comum haver quedas de energia em função da sobrecarga da rede, ocasionada pelo excesso de aparelhos de climatização utilizados para refrigerar aviários e chiqueiros.

Segundo o gerente comercial da Certel Energia, Ernani Aloísio Mallmann, uma alternativa é a instalação de geradores nas propriedades para evitar prejuízos na produção, embora o custo seja elevado: cerca de R$ 18 mil. Cita que o equipamento supre de forma automática a unidade consumidora na falta de energia da distribuidora. “Fundamental na criação de aves, em que pouco tempo sem energia ocasiona a mortandade de muitos animais.”

A família Dannebrock, de Linha Inhoff, em Imigrante, cria frangos há 36 anos e apostou na tecnologia. Investiu na compra de um gerador (81 KWA) movido a óleo diesel. Em caso de queda, após 17 segundos, o motor aciona e mantém a temperatura e umidade nos níveis indicados. Nesse tipo de estrutura, 30 minutos sem energia é o suficiente para causar a morte de 90% dos frangos.

Após registrar a perda de quatro mil pés de pepino por falta de energia em novembro, o produtor Walmor Nyland, de Mato Leitão, comprou dois geradores, cujo investimento foi de R$ 5 mil.

As plantas são cultivadas no sistema hidropônico, onde os nutrientes chegam por canos misturados pela água. Para esse processo é preciso de energia elétrica. “Perdemos R$ 40 mil em 30 horas. Agora estamos protegidos contra as quedas de luz.”

maior calor desde 1916

Segundo a Metsul Meteorologia, desde o início das medições, há 98 anos, o mês de janeiro foi o mais quente. A máxima média registrada foi de 33,1ºC. O mês de fevereiro deve continuar com temperaturas acima da média.

O fim de semana começa com mais previsão de temporal em áreas isoladas do Estado. Neste sábado, as condições meteorológicas serão favoráveis à ocorrência de chuva, moderada a forte com trovoadas, possibilidade de queda de granizo e rajadas de vento entre (60 km/h a 90 Km/h).

Previsão aponta a retomada das altas temperaturas a partir de domingo. As máximas, oscilando entre 38ºC e 40ºC durante esta semana, ficarão acima dos 40ºC no território gaúcho.

De acordo com a instituição, correntes de vento vindas do Norte deixam o tempo de domingo a quarta-feira com calor “excepcional”. Contudo, as altas temperaturas são favoráveis a temporais isolados (alguns fortes ou até severos com risco de danos), sobretudo da tarde para a noite.

Sábado – Sol com aumento de nuvens ao longo do dia. À noite ocorrem pancadas de chuva. Há risco de temporal.

Domingo – Sol e aumento de nuvens de manhã. Pancadas de chuva à tarde e à noite.

Segunda-feira – Sol com algumas nuvens. Não chove.

Terça-feira – Sol com algumas nuvens. Não chove.

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