Vale do Taquari – A condição precária da BR-386 se agrava a cada dia. Além de buracos, desníveis e a falta de infraestrutura, a capoeira cresce às margens da via, cobrindo placas de sinalização e acostamento. O cenário de abandono da rodovia federal chama a atenção da comunidade e líderes regionais, que clamam por medidas urgentes.
Caminhoneiro há 13 anos, Bernardo Rodrigues do Amaral, 42, de Passo Fundo, circula todas as semanas pelo Vale do Taquari. Para ele, este é o pior quadro desde que está na profissão. “Antes tínhamos o pedágio mais caro do país, mas éramos atendidos. Agora não temos nada.”
De acordo com o motorista, roçadas, conserto das placas de sinalização e tapa-buracos são serviços básicos. Deveriam ocorrer de forma periódica. Enquanto isso, representantes do Vale poderiam reunir mais força para pleitear obras maiores, como duplicação e construção de passarelas, viadutos e rótulas.
Além do desgaste físico de dirigir em um percurso perigoso, o mau estado de conservação da rodovia lhe causa prejuízos financeiros. Por mês, gasta em média R$ 700 em oficina do caminhão, sobretudo por danos causados pelos buracos.
O industriário Alcides Orlando Horn, 56, de Lajeado, caminha todos os dias às margens da rodovia entre a moradia e o trabalho. Ele reclama da falta de condições para os pedestres. “Quase não tem passarelas e o acostamento está cheio de barro e capim.”
Pressão política
No início do mês, o Codevat se reuniu com os demais Coredes do Estado para reivindicar investimentos do governo e a conclusão da atual obra de duplicação. Uma carta assinada pelo presidente do Fórum dos Coredes-RS, Hugo Marques Chimenes, foi entregue ao superintendente do Dnit, Pedro Luzardo Gomes.
Pelo documento, a entidade solicita atenção por parte do governo e requer a participação de Chimenes em reunião dia 13 de fevereiro. Entre os destaques no ofício, o índice de mortes: uma para cada 5,1 quilômetros da rodovia em 2012.
Na metade do ano passado, o Codevat entregou à superintendência estadual do Dnit documento com as principais demandas de infraestrutura da região. O estudo faz parte do projeto regional para duplicação dos 350 quilômetros entre Montenegro e Iraí.
Pelo projeto, a região pede a construção de pelo menos 15 trevos. A proposta quer reduzir as possibilidades de colisões. As travessias no trecho de Estrela até Progresso lideram as queixas dos usuários. São diversas entradas em que veículos cruzam a rodovia. Cópia também foi entregue para empresa responsável pelo estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental para a duplicação do trecho.
Contudo, a autarquia segue sem posicionamento. “A manutenção deveria ser feita logo e ser mantida para podermos dar conta do planejamento”, ressalta a presidente da entidade regional, Cíntia Agostini.
“Todo o trecho está carente”
Para o chefe do Núcleo de Policiamento da PRF de Lajeado, Leandro Wachholz, todo o perímetro da rodovia precisa de melhorias desde o fim da concessão de pedágios. A maior dificuldade, segundo ele, é percebida no trecho entre Forquetinha e o fim da duplicação, em Estrela. Depois disso, Pouso Novo e cercanias se tornam a região mais perigosa.
Conforme o inspetor, a estrada necessita de ações urgentes de roçadas, recapeamento, conserto de placas e, sobretudo, obras de infraestrutura com vistas a aumentar o nível de segurança aos usuários. “Aumentando a taxa de segurança, mesmo que o motorista erre, o acidente pode ser evitado ou sua gravidade minimizada.”
Indica cinco prioridades. Melhorar o sistema de drenagem em vários pontos; ordenar o trânsito com criação de trevos amplos; criar faixas laterais para o trânsito urbano; construir um viaduto no acesso a Conventos e implementar um túnel nas imediações da Florestal Alimentos.
Reformas começam em fevereiro
A reforma da BR-386 foi discutida via Justiça no fim do ano passado. Em novembro, a empresa Traçado Construções e Serviços, de Erechim, venceu o pregão eletrônico para fazer o serviço entre Soledade e Tabaí, numa extensão de 152,4 quilômetros, por R$ 31,1 milhões. Contudo, a segunda colocada – Conpasul Construções e Serviços, entrou com recurso.
O Judiciário acatou o pedido e recusou o lance da primeira empresa, tornando a segunda vitoriosa, que fará a recuperação da rodovia por R$ 5 mil a mais. Diretor da Conpasul, Nilto Scapin, estima prazo de até 20 dias para a conclusão dos trâmites legais. Em seguida, começam as obras que devem ser concluídas em até dois anos.
De acordo com o edital, a obra começa no Km 248,2 da rodovia, em Soledade, e segue até Triunfo, no Km 388,9. Mas Scapin adverte que o serviço deve ser realizado de acordo com apontamentos de engenheiros do Dnit. “Faremos a recuperação conforme a necessidade.”
Desde a metade de outubro, a autarquia está incumbida pelo Ministério dos Transportes de manter a rodovia federal. Antes disso, o Dnit não tinha autorização para investir no trecho, em função do contrato com a concessionária de pedágios. Na mesma época, a União também repassou trechos da BR-116 e BR-471 ao departamento.
Acidentes chegam a custar R$ 800 mil
Pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) elaboraram estudo sobre o prejuízo causado por mortes, internações, reabilitações e outros problemas agravados por acidentes em rodovias. Conforme a análise, para cada vítima em situação grave, o custo social para as cidades é, em média, de R$ 200 mil. Em caso de óbitos, esse valor pode chegar a R$ 800 mil.
Para definir os valores, os especialistas levaram em conta nove itens, como custos médico hospitalares, seguro, despesa com funerais e a perda de rendimento futuro das vítimas (quanto a pessoa deixa de produzir com a morte ou invalidez permanente, conforme sua idade).
Tempo depois, o Dnit fez estudo semelhante. Calculou a média de prejuízo causado pela violência nas rodovias federais. Dados base da análise, de 2009, representaram um valor de R$ 8,9 bilhões para casos de todo o país – o equivalente a R$ 53,4 mil por acidente.
A autarquia federal aproveita os resultados das pesquisas para determinar as prioridades para alocação de recursos em obras e campanhas. Contudo, os investimentos do governo para remediar a falta de estrutura foram pífios. No mesmo ano, apenas 2% do custo da violência foi aplicado – 194,9 milhões.