Arroio do Meio/Lajeado – Seguidas mortes por afogamento na foz do Rio Forqueta, onde deságua no Rio Taquari, são insuficientes para desencorajar banhistas a frequentar o ambiente. O local, inexplorado de forma comercial e sem sinalização, é conhecido por Cascalheira e reúne dezenas de turistas por semana.
A fatalidade mais recente aconteceu no fim da tarde dessa segunda-feira. Volmir Maier Martins, 26, chegou ao local por volta de 18h, acompanhado de familiares. Logo em seguida, disse que atravessaria o rio a nado. No meio do percurso, a correnteza o levou para o fundo.
De acordo com testemunhas, Martins começou a girar e afundou. Segundos depois, retornou à superfície e clamou por socorro. Na terceira submersão, desapareceu. Um dos pescadores que reside nas proximidades colocou o barco na água com o intuito de resgatar a vítima, mas o motor não funcionou.
Bombeiros do grupo de Lajeado fizeram buscas superficiais até o anoitecer, mas sem sucesso. Na manhã de ontem, mergulhadores do Grupo de Busca e Salvamento (GBS), de Porto Alegre, chegaram ao local. A procura se estendeu até as 18h e recomeça hoje pela manhã, até encontrar o corpo.
Natural da cidade de Mata, município entre Santa Maria e Uruguaiana, Martins morava há cinco meses em Santa Clara do Sul, onde tinha uma namorada. Trabalhava como vigilante terceirizado da Univates, de Lajeado, e foi dispensado da BM dois meses antes da formação, por não atingir pontuação.
Deveria ser proibido, diz pescador
O concunhado de Martins, Jeferson Chaves Flores, 41, sargento da Brigada Militar (BM) de Lajeado, mora há 25 anos na cidade e atesta o perigo do local. De acordo com ele, foram cerca de 50 afogamentos nesse período. “Ele tinha prática em nadar.”
Para o pescador Eldor Buth, 43, o banho deveria ser proibido na foz do Forqueta. Ele mora há duas décadas nas proximidades em que Martins se afogou. Desde então, perdeu as contas de quantas buscas presenciou. “No mínimo um morre por ano aqui. Não é lugar pra banhista. É pra pescador.”
Segundo o morador, pelo fato de o nível da água estar baixo, muitos banhistas se arriscam a nadar longe da margem e acabam perdendo o controle da situação, caindo em um buraco. Diz que a correnteza da água leva as pessoas cada vez mais longe. “A água puxa para o fundo. É difícil escapar.”
De acordo com Buth, a área é muito frequentada durante os dias de calor. Em determinados fins de semana, ressalta, o número de turistas chega a 300.
Governos debatem sobre segurança
Secrtário de Segurança Pública de Lajeado, Gerson Teixeira, reconhece a necessidade de medidas urgentes por parte das administrações municipais das duas cidades. Pretende se encontrar nos próximos dias com os responsáveis pelo setor no governo de Arroio do Meio e debater alguma alternativa. “A Cascalheira não é local adequado de banho. Podemos até restringir o acesso ao local, apesar de ser público.”
Para o vice-prefeito de Arroio do Meio, Aurio Scherer, os banhistas precisam estar mais conscientes ao entrar na água. Diz ser sabido por toda a comunidade que rios e arroios da região apresentam riscos e casos de afogamento são recorrentes. “Todos têm o direito de usufruir dos poucos lugares que temos, mas podemos orientá-los melhor dos perigos.”
Recorrentes afogamentos
2010 – Dia 7 de fevereiro, Jone Henrique Schauren Noronha morreu a 20 metros da margem, próximo à Ponte de Ferro. O corpo foi encontrado um dia depois, preso aos galhos e entulhos no fundo do rio.
2011 – Dia 23 de fevereiro, o corpo de Felipe Luís da Silva foi localizado por dois pescadores. Ele se afogou enquanto nadava com amigos. Segundo testemunhas, ele foi puxado pela correnteza para o fundo e não conseguiu retornar.
2013 – Dia 20 de novembro, Alexsando Alves desapareceu no mesmo local. O corpo só foi localizado quatro dias depois por funcionários de uma empresa nas proximidades da Aeca, em Estrela, no Rio Taquari.
No mesmo ano, foram registrados afogamentos no local dia 7 de março, dia 7 de fevereiro e no dia 18 de janeiro.