Lajeado – Patrícia Dias, 34, foi assassinada ontem, na rua General Osório, no bairro São José. Ela é um dos 131 casos registrados em Lajeado desde 2003. Por volta das 10h, um automóvel branco, com dois homens, parou em frente a casa dela. Um desceu e perguntou por Patrícia. Ao ter a confirmação da identidade, puxou duas armas (um revólver e uma pistola).
Conforme o delegado Sílvio Huppes, em uma análise preliminar, foram 11 disparos. Haviam três menores na casa. Um deles era filha de Patrícia. O Instituto Geral de Perícias (IGP) esteve no local. Encontraram a vítima dentro do pátio de casa. O crime deixou a população local com medo. “Isso foi queima de arquivo”, diz uma das testemunhas.
Vizinhos evitam falar do assunto. Temem algum tipo de represália. De acordo com o delegado, Patrícia foi indiciada duas vezes pela Polícia Civil (PC) por tráfico de drogas.
Medo afasta testemunhas
Conforme Huppes, a maioria dos homicídios em Lajeado tem ligação com o tráfico de drogas. Uma das principais dificuldades para chegar aos autores dos crimes e a falta de testemunhas. “As pessoas não falam. Isso não só nesse caso, em todos.”
Sobre a possibilidade de a execução ter sido encomendada para evitar que ela repasse informações, o delegado acredita que isso é possível. “Temos de aguardar. No curso das investigações vamos investigar se houve essa motivação.”
Como haviam inquéritos sobre tráfico de drogas com a possível participação de Patrícia, Huppes relata que a principal linha de investigação permeia a venda de drogas no São José.
Irmãs mortas
No ano passado, a irmã de Patrícia, Maraísa, foi assassinada no mesmo endereço. O crime ocorreu no dia 5 de janeiro. Maraísa foi alvejada com três tiros. Eram 5h, de um sábado. Um menor discutia com a namorada em frente da residência da vítima.
Cerca de uma hora após o delito, policiais realizaram buscas no local e apreenderam o menor a poucos metros da residência do crime.
Poucas denúncias e muito trabalho
A equipe da PC encontra dificuldades para solucionar crimes cometidos em Lajeado. Desde 2003, conforme dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública, foram 123 homicídios e 8 latrocínios registrados na cidade. O ano mais violento foi 2004, quando 19 pessoas foram assassinadas.
Muitos crimes seguem sob investigação por falta de provas. Nos últimos anos, por exemplo, é possível citar casos como o assassinato de Rafael Noronha (irmão do ex-BBB, Jonas Sulzbach), em junho de 2012, e também a morte do gesseiro Anderson Martinelli, em fevereiro do ano passado. Ambos foram mortos com mais de cinco tiros na área central da cidade.
A delegada regional da Policia Civil (PC), Elisabete Barreto Müller, incita as pessoas a usarem o serviço de denúncia anônima. “Há muita dificuldade para conseguirmos provas testemunhais. A maioria só fala quando envolve familiares.”
Ressalta a importância dos depoimentos para a solução dos crimes. Apesar da dificuldade, garante ter havido uma melhora nos últimos meses. “Muitos percebem que realizamos prisões após denúncias anônimas. Isso os motiva a procurarem a PC”, afirma.
Além dos assassinatos, delegados e investigadores também investigam outros crimes, como furtos, roubos, agressões, estelionato e outros. Só em 2013, por exemplo, a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Lajeado realizou 13 mil atendimentos. Uma média superior a mil por mês. Em toda região, foram instaurados 7.356 inquéritos e, no mesmo período, 10.027 processos foram remetidos ao Judiciário.
“Não existe crime perfeito. Mas sim, mal investigado.”
O vendedor Luis Miguel Noronha aguarda respostas há mais de um ano e meio. No dia 25 de junho de 2012, o filho dele entrou para estatística que atemoriza Lajeado. Com nove tiros à queima-roupa, Rafael Noronha foi morto ao lado do campo do São José, na região conhecida como “Cantão do Sapo”. Foi mais um entre os 14 assassinatos registrados naquele ano.
Ninguém foi preso. Luis segue a luta por Justiça. “Não existe crime perfeito. O que existe é crime mal investigado, e é este o caso do meu filho.” Afirma ter repassado o nome dos supostos autores do assassinato à PC. Desde então, precisou deixar Lajeado e hoje prefere não divulgar onde vive. “Já fui ameaçado de morte, mas quero vingar meu filho. E a única vingança cabível é ver os assassinos enfrentando o banco dos réus.”
Irmão do ex-participante do Big Brother Brasil (BBB), Jonas Sulzbach, Rafael Noronha tinha histórico como usuário de drogas. O local onde foi morto fica próximo a um ponto de uso e venda. Mas, Luis garante que o crime nada teve a ver com o envolvimento do filho com entorpecentes. “Foi crime passional. Não tem nada a ver com drogas. O problema é que em Lajeado só investigam crimes contra o patrimônio.”
Apesar das críticas ao trabalho da PC, Luis reconhece as dificuldades para a solução de crimes na cidade. “Não existe delegacia especializada em homicídios. Todos os crimes são investigados no mesmo local, e assim não tem como funcionar direito.” Um ano e sete meses depois da morte do filho, o sentimento que perturba o sono e a rotina de vida do vendedor é de impotência. “Não tem como descrever a dor de perder um filho.”