Imperícia agrava acidentes elétricos

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Imperícia agrava acidentes elétricos

Três familiares morreram nesse fim de semana, após árvore derrubar rede de luz

Vale do Taquari – A falta de conhecimento ao manejar cabos de energia elétrica está entre os principais responsáveis por acidentes domésticos no país. Nesse fim de semana, três pessoas da mesma família morreram depois que uma árvore caiu sobre uma rede interna em uma propriedade rural, na Linha Geraldo, interior de Estrela. Desde 2012, é o quinto caso no Vale.

02Segundo o delegado da Polícia Civil da cidade, José Romaci Reis, o agricultor Décio José Walter, 63, estaria em casa quando houve interrupção no abastecimento. Por volta das 22h desse sábado, saiu sozinho para vistoriar costumeiros problemas na fiação, que conduz energia, por cerca de 200 metros da casa de Charles Thomas (genro) até sua residência.

Cerca de 50 metros mato adentro, morreu eletrocutado. Os fios rompidos, estendidos no chão, provocaram o óbito. Walter tinha hábito de remendá-los sem desligar a chave geral.

A chuva de sábado à noite e os pés descalços de Walter podem ter sido agravantes, devido à facilitada condução de energia.

Famíliares perceberam a ausência do idoso. O genro Charles Thomas, 32, e o irmão, Virgílio, 37, rondaram as proximidades, mas não encontraram-no.

Retornaram às buscas por volta das 3h. Com lanternas e, supostamente calçando chinelos, avistaram Walter caído em meio ao matagal. Conforme o delegado Reis, eles tentaram chegar até o corpo, mas no caminho se depararam com os fios caídos e também foram eletrocutados.

Os três só foram localizados perto das 7h, pela filha de Walter e mulher de Thomas, Cristiane Walter. Brigada Militar, Samu e Corpo de Bombeiros foram chamados. Equipe de emergência da AES Sul desligou a energia da área para a remoção dos corpos. Os irmãos foram sepultados na manhã de ontem, em Colinas, e o agricultor, no cemitério da comunidade.

“Costumava mexer nos fios”

Walter tinha o costume de manusear a fiação elétrica da propriedade, conforme vizinhos. A rede com quase 40 anos tem extensão de 200 metros e passa entre o matagal, até chegar na casa do agricultor. Desgastados, os fios rompiam com frequência.

Moradora próxima, Maclane Sulzbach, 44, ressalta o perigo da instalação. “Já tínhamos alertado eles sobre a precariedade da rede e que poderia acontecer uma fatalidade.”

A concessionária AES Sul, responsável pelo abastecimento na comunidade, informou que não responde pelas instalações internas das residências e que o fornecimento se dá apenas até a entrada, onde está o medidor de consumo.

Especialista alerta para os riscos

Coordenador do curso de Engenharia Elétrica da Univates, doutor em engenharia, Leonardo Zanetti Rocha, ressalta que questões de segurança e condições gerais sobre instalações elétricas de baixa tensão devem obedecer critérios da Norma Brasileira (NBR-5410).

Segundo especificado, pessoas leigas não estão habilitadas a instalar sua própria rede. Portanto, a orientação é que esta atividade seja feita por profissional treinado e habilitado. Sem perícia, correm sério risco de choque elétrico ao manipular os componentes das instalações elétricas, cujas consequências vão de queimaduras, paradas cardiorrespiratórias, até a morte.

De acordo com ele, um extenso trabalho em relação à questão da segurança em instalações elétricas é feito pelos profissionais de engenharia elétrica, o que resultou numa série de normas de segurança dentro desta área.

O especialista diz acreditar que a informação e a conscientização ainda são os melhores caminho spara que tragédias sejam evitadas. “As pessoas precisam entender que mexer com eletricidade, mesmo dentro de casa, é coisa séria e que pode levar a consequê ncias desastrosas.”

Disjuntores ajudama evitar choques

Membro da Associação Brasileira de Conscientização para os perigos da Eletricidade (Abracopel) e engenheiro eletricista, Ricardo Pereira de Mattos, destaca que muitos dos acidentes poderiam ser evitados. O fundamental, conforme o especialista, é utilizar equipamentos de segurança e ter conhecimento técnico ao manusear algo eletrificado.

Como indispensável, cita o uso de disjuntores para suspender a corrente elétrica de baixa tensão, em casos anormais. Essencial seria a instalação de protetores de alta sensibilidade, cortando a transmissão, por exemplo, quando uma criança entra em contato com uma descarga, evitando o choque.

No entanto, a norma regulamentadora de segurança em instalações e serviços em eletricidade não obriga o uso do dispositivo. Apenas menciona como uma das medidas de controle do risco elétrico. “Eles são necessários, sobretudo, se as instalações estiverem em áreas externas sujeitas à presença de água.”

Quinto fato em dois anos

23 de outubro de 2013, Cruzeiro do Sul – Fábio Schoninger, 28, morreu no Hospital Bruno Born, sete dias depois de receber uma descarga elétrica e cair de um poste, no bairro São Bento, em Lajeado.

18 de outubro de 2013, Santa Clara do Sul – Vanderlei da Costa, 39, morreu eletrocutado enquanto estendia roupas em um varal feito com fios de luz ligados à energia elétrica, que serviam como extensão para o pátio. O fato ocorreu às 16h30min.

2 de fevereiro de 2013, Cruzeiro do Sul – Claudimir Rodrigues dos Santos, 27, recebeu um choque elétrico, ocorrido na empresa onde trabalhava como soldador, em Estrela. Foi levado ao Hospital Bruno Born, mas morreu.

19 de janeiro de 2012, Paverama – Maicon Samuel Costa de Souza, 19, trabalhava em um atelier de calçados quando foi eletrocutado. Foi socorrido no Hospital Ouro Branco, mas morreu.

Dicas de segurança

– Desligar a rede geral ao mexer com qualquer parte elétrica

– Sempre utilizar equipamentos de segurança, autorizados pelo Inmetro

– Vedar acesso a tomadas para evitar contato de crianças com a energia

– Ao trocar lâmpadas, tocar apenas no suporte de proteção

– Deixar fios encapados e em perfeitas condições

– Atenção ao manusear objetos metálicos perto de redes de alta tensão. Não é necessário encostar no material para receber uma descarga

– Jamais pisar em fios ao chão, sobretudo depois de uma tempestade

– Aparelhos danificados devem ser encaminhados à assistência técnica. Não tente consertá-los

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