Exterior – A aventura de buscar novos objetivos em terras estrangeiras ficou ainda mais desafiadora nas últimas semanas. Parte dos Estados Unidos sofre com as temperaturas mais baixas das últimas duas décadas, com sensações térmicas que chegam a -40ºC. O governo anuncia morte de pelo menos 20 pessoas em decorrência de problemas gerados pela neve e o frio.
Em meio aos milhões de norte-americanos que enfrentam a forte nevasca, dois lajeadenses descrevem peculiaridades de suas novas rotinas envoltas no frio. Carlos Konzen, o “Caco”, e Ana Carolina Fluck deixaram o Vale do Taquari com metas semelhantes, que unem estudo e trabalho no exterior.
Mesmo após ficar pelo menos dois dias trancafiado dentro de casa em função da grande quantidade de neve, Caco Konzen – que já morou nos EUA em 2001 – não perde o bom humor habitual. “Tô acostumado. Meu pai tinha uma fábrica de sorvetes e lembro de brincar nas câmaras frias.”
Apesar da brincadeira, o fotógrafo sofre com o frio de Nova York, cidade que ele adotou para viver desde agosto de 2013. Naquela época, as temperaturas ainda beiravam os 30ºC. “É comum perder a sensibilidade nas extremidades do corpo. É tão frio que chega a ser quente, e a pele parece queimar”, descreve. Ele também teve alguns problemas respiratórios.
Durante um trabalho realizado em uma cidade vizinha, Caco enfrentou uma das piores experiências nesses quase cinco meses na terra do Tio Sam. No termômetro do celular, a tela indicava -20ºC. Mas a sensação, segundo ele, era inferior a -40ºC. “O frio machuca. E a força do vento diminui ainda mais a temperatura.”
Com espírito de mochileiro, Caco levou poucas roupas quando se mudou para os Estados Unidos. Com as recorrentes variações meteorológicas, todo guarda-roupa dele passou por uma severa remodelação. Teve de dispensar os poucos casacos de lã trazidos do Brasil. Eles encharcavam com a neve que costuma derreter sobre a malha.
O fotógrafo comprou botas e calças térmicas. “A ceroula gaúcha aqui não adianta nada”, brinca. Para se prevenir de possíveis doenças em função do frio, costuma respeitar os próprios limites e evita ficar na rua por muito tempo. Alerta ainda para a facilidade dos tombos. “Escorregar e cair no gelo não é possibilidade. É certo que tu cai.”
Vórtice polar
O fotógrafo se impressiona com a variação de temperaturas. “Num dia está 15ºC, no outro -16ºC. Hoje (ontem) está nevando, com 0ºC. Amanhã a previsão é de 5ºC.” O fenômeno é chamado de vórtice polar. Se trata de uma massa de ar que gira sobre si própria, semelhante a um ciclone. Quando ele tem baixa intensidade, os ventos frios escapam do redemoinho e se espalham para regiões localizadas ao sul do polo norte.
“Governo alertou para estocarmos alimentos”
Caco lembra de uma oportunidade em que saiu de casa para ir ao mercado de carro. Ao chegar ao local, enfrentou quase um hora de fila nos caixas. A população atendia determinação do governo para estocar alimentos. “Eles mandam alertas pelos nossos celulares, de acordo com a região em que você vive.”
Quando foi deixar o estabelecimento, uma forte nevasca o surpreendeu. Os funcionários da prefeitura ainda não tinham despejado sal sobre as vias públicas para derreter o gelo que se acumulava. O fotógrafo precisou esperar por quase seis horas para voltar de carro para casa.
“No caminho haviam vários acidentes com danos materiais. Dirigir nessas condições é como esquiar com o veículo.”
Apesar das intempéries que alteram sua rotina, congelando inclusive toalhas esquecidas no varal de casa, ele pretende enfrentar muitos invernos nos Estados Unidos. Faz questão de enaltecer o lado bom do frio. “Tomar um chimarrão ou um bom chocolate quente por aqui são prazeres especiais.”