Vale do Taquari – A morte do agricultor Santos Cima, 75, de Arvorezinha, chama a atenção para os riscos ocasionados por enxames de abelhas. Especialistas alertam para os cuidados na hora de manejar as colmeias, onde a população pode alcançar 60 mil insetos. No verão, a chance de ataques aumenta em virtude, sobretudo, do período de procriação.
O fato aconteceu na tarde dessa segunda-feira. De acordo com a Polícia Civil da cidade, Cima limpava uma capoeira às margens da estrada geral da comunidade de Pinhal Queimado no momento do ataque. Ele iniciou o serviço por volta das 14h, acompanhado de um empregado, que deixou o local logo após o início da atividade.
Às 17h, o proprietário das terras foi verificar o serviço e encontrou o corpo de Cima envolto nos capins. Para o escrivão da polícia na cidade, Márcio Machado Prestes, acredita-se que o agricultor tenha atingido de forma não intencional um enxame nas redondezas. “Não verificamos, mas as abelhas poderiam estar nos capins como em uma árvore. No entanto, ele era alérgico e não conseguiu escapar.”
Conforme a informação de familiares, Cima havia sido hospitalizado há pouco tempo em função de outras picadas. O corpo foi analisado pelo DML de Lajeado e, segundo o departamento, não é possível precisar o número de ferroadas.
Fato semelhante aconteceu em abril de 2012, na cidade de Feliz. Na época, a agricultora Úrsula Massing, 76, foi atacada por um enxame enquanto colhia mel na propriedade. De acordo com o policiamento, a utilização incorreta dos equipamentos de segurança causou a fatalidade.
Período é propíciopara o ataque
O especialista em apicultura, Luís Gustavo Mallmann, 34, de Santa Clara do Sul, cultiva 300 caixas de abelha, distribuídas em quatro municípios. Todas são do gênero Apis mellifera, conhecidas como africanizada ou abelha africana. Para o manejo, enfatiza que é fundamental a utilização de vestimentas específicas e fumigador, aparelho que produz fumaça para afugentar os insetos. O mais indicado é trabalhar no local durante o dia.
De acordo com ele, as abelhas – sem discriminar gênero – são pouco agressivas, mas tendem a se proteger quando se sentem ameaçadas, como qualquer animal. “É muito raro elas atacarem, mas não se subestima abelhas. Elas podem causar um grande estrago.”
A população das colmeias varia de acordo com as estações do ano. No inverno, o enxame concentra até oito mil unidades. Mas no verão pode chegar a 60 mil insetos. Cada uma vive cerca de 40 dias.
Nos períodos de maior calor, ocorre a procriação e migração dos enxames. Por isso, entre a primavera e o verão, é comum se deparar com um enxame sobrevoando uma região à procura de um novo ninho. Mas, segundo Mallmann, as abelhas migratórias também não costumam atacar. “Neste processo, elas carregam parte da sua antiga colmeia para o novo lar. Assim estão pouco suscetíveis.”
Conforme dados da Emater/RS-Ascar, no Vale do Taquari há 3,8 mil famílias envolvidas na apicultura. São 40 mil colmeias e a média produzida ao ano chega a 20 quilos cada. No Estado, existem 12 mil apicultores.
Ataque em praça pública
No mesmo dia do ataque de abelhas ao agricultor de Arvorezinha, um morador de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso, foi vítima dos insetos. Ele bebia cerveja com amigos na praça do centro e não conseguiu escapar.
Enquanto muitas pessoas corriam das abelhas, o morador caiu no chão e o corpo foi coberto pelo enxame. Segundo médicos, sofreu mais de três mil picadas.
Uma equipe da Força Tática se deslocou até o local para fazer o resgate da vítima, mas devido à grande quantidade de abelhas foi necessária a colaboração do Corpo de Bombeiros da cidade de Pontes e Lacerda, distante 75 quilômetros de Vila Bela.
Porém, por conta da distância, os policiais decidiram não aguardar o reforço dos bombeiros e tiveram que buscar um equipamento e vestimentas apropriadas para o resgate na própria cidade. A vítima morreu em decorrência de choque anafilático devido à quantidade de picadas pelo corpo. As causas do ataque são desconhecidas.
Dicas de segurança
Caixas de abelhas devem estar a uma distância mínima de 200 a 400 metros de estradas, residências, animais e locais de grande atividade. O local deve ser cercado com árvores dificultando o acesso de animais e pessoas.
Para o manejo das caixas e colheita do mel, o apicultor deve utilizar roupas adequadas como máscara, macacão, luva (cores claras) e bota. Uma das principais ferramentas, o fumigador (usado para fumaçar a colmeia e assim acalmar as abelhas) deve ser aceso com materiais orgânicos.
O apicultor deve se aproximar da caixa pela parte de trás (fora da linha de voo). Fumigar sem excessos e dentro da colmeia. Todo o processo deve ser feito lentamente, para não agitar as abelhas.
Abelhas são animais que se estressam com facilidade. Evitar aproximação ao enxame em dias com muito vento, chuva, raios ou locais de barulho excessivo.