Lajeado – O Conselho Tutelar encerrou as buscas pelos familiares do recém-nascido abandonado no hall de um prédio no bairro Montanha, no sábado. O menino ficou no berçário do Hospital Bruno Born até ontem à tarde, quando o Ministério Público o encaminhou ao abrigo Trezentos de Gideon.
As conselheiras começaram as buscas pelos hospitais da região no sábado à noite e encerraram ontem pela manhã. Segundo a coordenadora do Conselho Tutelar, Rejane Junqueira, procuraram pelos nascimentos a partir do dia 25 de dezembro, sexo masculino e com peso aproximado de 3,6 quilos. Todos com essas características estão em casa, com os pais.
Rejane estranha que nenhum parente tenha se manifestado. “Supondo que a mãe estivesse em depressão, alguém da família procuraria pela criança.” A hipótese de ser um bebê roubado também foi descartada, pois não há registros. “Talvez seja de fora da região.”
O juiz Luís Antônio de Abreu Johnson determinou um prazo de 15 dias para que os pais se apresentem. Depois disso a criança será dada em adoção ao primeiro casal da lista da comarca de Lajeado.
Rejane considera o caso difícil pela falta de pistas. Acreditava-se que a cor do “grampo” do coto umbilical representasse um hospital, mas de acordo com a coordenadora o pedido é feito pela instituição e a cor é escolhida pelo fabricante.
Outras especulações rondam a escolha daquele prédio para o abandono. Rejane cita que pode ser uma ex-moradora, pode ser alguém que viu a porta aberta ou uma escolha aleatória. “Como eu disse, não há nada concreto.”
Ela lembra que foi o primeiro caso a ocorrer em Lajeado com uma criança de poucos dias, deixada sem bilhete ou descrição. Outras situações envolvem as de dois anos para cima. “Deixam na casa de um desconhecido e não voltam mais.”
Bebê estava no saguão do prédio
Às 18h45min Jussara Machado Santos, 25, chegou do trabalho e bateu nos apartamentos de Elaci Leinemann, 36, e Valdir Arnhold, 45, convidando-os para tomar o chimarrão de fim de tarde na frente do prédio como de costume.
Jussara demorou cerca de 45 minutos para descer e quando chegou no hall encontrou um bebê no chão, próximo da caixa de correspondências, deitado em cima de um travesseiro. “Fiquei chocada. Corri de volta e gritei: Elaci, tem um bebê aqui!” A vizinha estava incrédula. “Da onde (sic), não pode ser.”
Ela pegou o menino no colo e o ninou. “Ele nem chorava.” A criança tem pele clara, cabelos escuros, estava vestida, com uma chupeta na boca e aparentemente saudável.
Arnhold vinha logo atrás. Ele verificou nos arredores, mas não havia ninguém na rua. Esperou alguns minutos para ver se o responsável aparecia e foi até o Corpo de Bombeiros, que fica ao lado do prédio, para pedir ajuda.
O sargento sargento Eloir Pasch os atendeu às 19h45min e chamou o Samu para encaminhar o bebê ao Hospital Bruno Born.
Os vizinhos acreditam que a mãe esperou alguém entrar no prédio, aproveitou a porta aberta e largou a criança.
Saúde da criança
Conforme informações do Hospital Bruno Born, o bebê chegou saudável, pesando 3,6 quilos. Foi atendido na emergência e pelas boas condições de saúde encaminhado direto ao berçário. O menino se alimenta bem e recebe leite na mamadeira.
Ele ainda tem o coto umbilical e suspeita-se que tenha sido abandonado depois da alta no hospital. Sabe-se que nasceu no hospital porque tem no coto o “grampo” usado para selar o cordão.
Problemas psíquicos influenciam
A gravidez e o parto são momentos de grandes transformações no organismo, no psiquismo e no papel sociofamiliar da mulher, cita a psicóloga Graziela Ely. Em alguns casos, a mulher sofre de depressão pós-parto (DPP) e tem atitudes que não teria antes.
O quadro se manifesta, na maioria dos casos, a partir das primeiras quatro semanas após o parto, com intensidade máxima nos seis primeiros meses.
Os sintomas mais comuns são desânimo persistente, sentimentos de culpa, alterações do sono, ideias suicidas, temor de machucar o filho, diminuição do apetite e da libido, diminuição do nível de funcionamento mental e presença de ideias obsessivas ou supervalorizadas.
Para a psicóloga, a DPP pode contribuir na questão do abandono de menor, porém vem acompanhada de outros fatores como o desejo por este bebê, falta de condições econômicas, falta de estrutura familiar e emocional e principalmente como essa mãe internalizou o “ser mãe”.
Conforme relata, na maioria dos casos em que uma mãe abandona o recém-nascido, ela escondeu a gravidez de todos. Como negou a gestação, depois de nascida, a criança não tem significado para ela. Não se criou um vínculo de proteção, responsabilidade e amor.
Graziela afirma que a família tem papel primordial nesta questão. O diálogo, desde cedo, sobre família e filhos dará suporte para uma gestação bem resolvida e a aceitação positiva deste bebê.
Juiz faz apelo à família
Ontem foi realizada a audiência para o pedido de acolhimento institucional do menor, no Fórum, com a presença do juiz Johnson, promotor Sergio Diefenbach, representantes do Conselho Tutelar e do abrigo.
Na ocasião, Johnson pediu por meio da imprensa que a mãe o procure para legalizar o desejo de adoção, que segundo ele, foi externado pelo abandono. O nome dela será mantido em sigilo e ela terá seus direitos reservados. “O foco não é a pena, mas a proteção da criança.”
Diefenbach completou que se ela aparecer para dar o filho em adoção terá isso em seu benefício sobre a punição. Se surgir depois dos 15 dias previstos, requerendo a criança, passará por avaliações psicológicas, sociais, teste de maternidade e responderá legalmente por abandono de incapaz. A pena pode variar de seis meses a três anos de detenção.
A adoção só não foi definida ontem para dar direito à mãe de se manifestar.
Informações
Quem souber de alguma informação sobre o paradeiro dessa mãe pode ligar para o plantão do Conselho Tutelar no (51) 9865-7430.