Lajeado – Acidente na manhã de ontem atesta a falta de condições adequadas de trabalho no aterro sanitário. Em meio a muito lixo, sujeira, moscas, animais mortos e pouca iluminação, um jovem associado da Cooperativa dos Recicladores do Vale do Taquari (Coorevat) enroscou o braço no rolamento responsável pela rotação da esteira e teve o membro arrancado.
O acidente aconteceu por volta das 8h30min. Segundo funcionários do aterro sanitário, Jéferson Verruck Ribeiro, 19, trabalha há cerca de um ano no local. Ele estava limpando a base da esteira – utilizada para separação manual do lixo seletivo – no momento do acidente. A orientação é desligar o maquinário para esse tipo de operação.
Parte da roupa de Ribeiro se enroscou no rolamento e nas correias. Com a força do maquinário, o braço direito foi arrancado na altura do ombro. “Peguei o braço do chão e enrolei em um pano, mas parece que não conseguiram costurar”, lamenta um funcionário da Urbanizadora Lenan, que trabalha como operador de retroescavadeira no aterro.
Ribeiro saiu caminhando e lúcido do local, acompanhado de outros associados. Um veículo da prefeitura o levou até o Hospital Bruno Born (HBB). Um dos funcionários que estava no veículo se mostrou impressionado com o acidente. “Foi muito feio, mas ele só começou a sentir dor quando estava chegando no hospital.”
O associado passou por uma cirurgia no HBB. O estado dele chegou a ser considerado grave pela assessoria do hospital, mas Ribeiro passa bem. A presidente da Coorevat, Alessandra de Couto, garante que toda assistência médica e psicológica foi prestada ao associado. “Estamos todos chocados. Mas foi uma fatalidade, um acidente. Um segundo de distração que serve de alerta.”
Todos os demais associados da cooperativa foram dispensados do serviço de ontem. Há cerca de dois meses, uma mulher que trabalhava no local também se envolveu em um acidente semelhante. Ela prendeu os dedos na mesma esteira. Parte dos membros foi esmagada e depois amputada.
Apesar disso, Alessandra garante que há segurança de trabalho no local. “Estamos de acordo com todas as exigências do Ministério do Trabalho.” Este ano, duas prensas foram notificadas pelo Ministério Público do Trabalho por não contarem com travas de segurança. Ambas foram trocadas e adequadas pela administração municipal, responsável pelo maquinário do local.
A Polícia Civil investiga o acidente de ontem.
Dificuldade para garantir segurança
A rotatividade dos associados é uma das maiores dificuldades enfrentadas pela cooperativa, que venceu a licitação em 2009 para atuar no local por cinco anos. Cursos e treinamentos são disponibilizados durante o ano, mas é comum e corriqueiro a chegada de novos trabalhadores. A resistência de muitos em utilizar os equipamentos básicos de segurança é outro problema.
Para janeiro de 2014, a Secretaria de Meio Ambiente (Sema) programa novos treinamentos de segurança. “Vamos treiná-los, mas logo alguns saem e entram novos. É um trabalho complicado de orientação”, admite o responsável pela Sema, José Francisco Antunes.
Conforme o secretário, a responsabilidade pela segurança dos associados cabe só à cooperativa. O governo municipal fornece o prédio e os maquinários. Para 2014, está prevista a instalação um novo equipamento para triagem do lixo, substituindo a esteira onde aconteceram os dois últimos acidentes.
Com a mudança, a expectativa é que o número de associados diminua de 40 para dez. Eles não serão mais responsáveis pela triagem manual dos resíduos, e atuarão só na prensa do material coletado. Mesmo não havendo qualquer vínculo empregatício com o cooperativado gravemente ferido, o Governo de Lajeado abrirá sindicância para apurar o acidente.