Lajeado – Um vestibular específico para ingressar no curso de Medicina será oferecido em janeiro de 2014 pelo Centro Universitário Univates. Nos primeiros processos seletivos, 25 vagas por semestre para estudantes que buscam a carreira médica.
A carga horária de 9.380 horas será dividida em seis anos. Parte da formação ocorre nos hospitais de Estrela e Lajeado, também na rede pública de saúde dos municípios. A Univates tentava desde 2011 a habilitação para oferecer o curso de Medicina.
Ontem, o Ministério da Educação (MEC) publicou portaria no Diário Oficial da União autorizando a abertura da graduação. Lajeado é a nona cidade gaúcha a oferecer o curso.
O investimento previsto para os próximos três anos é de R$ 5 milhões. O valor servirá para estruturação de até 20 novos espaços para o aprendizado das especialidades médicas, como a pediatria e geriatria. “Isso será necessário só a partir do 3o ano do curso”, esclarece o pró-reitor, Carlos Cyrne. Ate lá, estudantes utilizarão laboratórios de outros oito cursos ligados à área da saúde.
Cyrne cita a importância dos convênios firmados com as administrações municipais de Lajeado e Estrela, e com os hospitais Bruno Born (HBB) e Estrela. “Sem isso o curso não seria viabilizado.” O cálculo de vagas disponíveis (50 por ano) para estudantes foi baseado no número de leitos disponibilizados pelo SUS na região.
Segundo o pró-reitor, os avaliadores do MEC visitaram os hospitais há cerca de um ano. Atestaram que ambas as instituições têm capacidade técnica e estrutural para darem suporte técnico ao curso. “Eles possuem estruturas para atender alta, baixa e média complexidade. Perfeito para o aprendizado.”
O pró-reitor enaltece o convênio firmado com as administrações municipais. A partir dos postos e unidades públicas de saúde, os estudantes terão a oportunidade de acompanhar os serviços oferecidos pelo SUS. “O estudante terá contato com a comunidade desde o início do curso, observando e acompanhando o trabalho dos médicos. Esse será um dos nossos diferenciais.”
Aulas em turno integral
O modelo do curso busca suprir a necessidade de médicos para o atendimento pelo SUS. As 9.380 horas do curso serão distribuídas em 12 semestres com aulas em turno integral e divididas em três módulos: “Doenças, cuidados, saúde, pesquisa”, “Base científica e técnicas da prática médica” e “Integração, ensino, serviço e comunidade”.
A coordenação do curso será do médico e professor Luiz Fernando Kehl. Com experiência de quase 35 anos de docência em Caxias do Sul e Porto Alegre, ele também possui consultório em Estrela. “Estamos prontos para iniciar o curso, que será diferente de outros oferecidos no Estado.”
Conforme Kehl, o corpo docente está formado. Serão cerca de 140 professores pré-selecionados pela Reitoria da Univates. Destes, 40 ministram aulas em graduações da área de saúde na instituição. “O restante será composto de médicos atuante nos hospitais de Lajeado e Estrela”, ressalta.
O coordenador diz que o curso terá dois focos: a formação científica do estudante e a especialização em saúde comunitária. “Haverá grande inserção dos alunos nas unidades básicas de saúde”, acredita. Segundo ele, do total de horas/aula, 1,4 mil ocorrem dentro dos postos.
Negociações desde 2011
Em setembro de 2011, a Univates iniciou as tratativas para implantar o curso de Medicina. Para isso, buscou convênios com o HBB e o Hospital Estrela, além das administrações dessas cidades. Em abril de 2012, o projeto foi protocolado.
Um mês depois, foi realizada uma reunião, envolvendo representantes das diretorias e do corpo clínico do Hospital Estrela e do HBB, e representantes das prefeituras de Lajeado e Estrela, do Conselho Municipal de Saúde de Lajeado, da 16ª Coordenadoria Regional da Saúde (CRS), Fundação para Reabilitação das Deformidades Craniofaciais (Fundef), professores da área da Saúde e Reitoria da Univates, Conselho de Administração da Fuvates e profissionais médicos.
A avaliação do curso pela Comissão de Verificação do MEC ocorreu em dezembro de 2012. A universidade recebeu nota 4, em uma escala de 1 a 5. No dia 13 de agosto de 2013, o Conselho Nacional de Saúde concedeu parecer favorável ao projeto do curso. Após, houve análise do projeto pela Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior, vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e ao Conselho Nacional de Educação.
HBB busca aprovar residência
Se tudo sair como espera a direção do HBB, no dia 8 de dezembro será confirmada a aprovação – por parte do MEC – de três novos programas de residência médica, disponíveis para os formandos em Medicina pela Univates e também de outras instituições.
Segundo o presidente do HBB, Claudinei Fracaro, os programas são de cancerologia clínica (duas vagas), clínica médica (quatro vagas), medicina de família e comunidade (quatro vagas em parceria com a Adminsitração Municipal de Lajeado). O objetivo é consolidar a instituição como hospital de ensino.
Desde 2006, o HBB tem o curso para formação de especialistas em Radiologia e Diagnóstico por Imagem, vinculado ao Colégio Brasileiro de Radiologia, com duração de quatro anos. Conforme Fracaro, a intenção é iniciar os programas em 2015. “Já estamos prontos. Basta o anúncio oficial para iniciarmos os trabalhos.”
Prova do vestibular indefinida
Uma reunião marcada para segunda-feira define a forma e a data do processo seletivo para o curso de Medicina. Há três modelos em análise: a prova de vestibular; utilizar as notas do Enem; ou estabelecer um cálculo com ambas situações.
Cyrne estima um grande número de inscritos por vaga mas prefere não fazer projeções. “Sabemos que em outras instituições já houve mais de 300 por vaga. Como o nosso processo seletivo ocorre depois, é difícil projetar o total de inscritos.” De acordo com o pró-reitor, a maioria dos estudantes deve ser de outras regiões do Estado. “Esperamos concorrentes do Brasil inteiro.”
Na reunião da próxima semana será definido o preço do curso. Segundo informações, o valor total por aluno poderá chegar a R$ 300 mil. Cyrne não confirma. “Essa estimativa era para 30 vagas por semestre. Como tivemos que baixar para 25, o preço será recalculado.”
Impacto no Vale do Rio Pardo
A Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) implantou o curso de Medicina em 2006. Com foco no atendimento da rede pública, formou a primeira turma em 2011, com 29 alunos. Neste ano, a instituição fecha o ano com mais 30 formandos, em um total de 136 novos médicos no mercado de trabalho.
Tiago Fortuna, 26, se formou no ano passado. Natural de Sananduva, trabalha no Hospital Santa Cruz (HSC). Desde o primeiro semestre, relata, havia inserções dos acadêmicos nas unidades básicas e postos de saúde.
Essa bagagem do modelo de saúde, voltado à prevenção, interfere nas escolhas dos futuros profissionais. “Pretendo ter um consultório, mas vou continuar atuando na rede pública”, frisa.
Mantenedora compra hospital
Antes da abertura da graduação, a Associação Pró-Ensino de Santa Cruz do Sul (Apesc), mantenedora da Unisc, comprou o HSC. No dia 30 de junho, o então reitor da universidade e presidente da Apesc, Luiz Augusto Campis anunciou a decisão do conselho da entidade.
A negociação foi longa e complexa. A antiga mantenedora do HSC, a Associação Franciscana de Assistência a Saúde (Afras) e a Apesc concordaram em não divulgar os valores da aquisição. Em 2012, recebeu o aval de hospital de ensino.
Com esse status, a instituição pode praticar atividades curriculares na área de saúde, pois associa a aprendizagem à prestação de serviço. Dessa forma, além de oferecer assistência à população, o hospital precisa incluir projetos de ensino nos níveis de graduação e pós-graduação, extensão e pesquisa.
Para receber o reconhecimento, o HSC precisou cumprir três requisitos básicos. O primeiro é realizar no mínimo 60% dos atendimentos pelo SUS. O segundo exige que todos os alunos do curso de Medicina passem por um estágio em pelo menos uma das cinco áreas básicas (medicina de família e comunidade, cirurgia geral, ginecologia e obstetrícia, clínica médica e pediatria). O último requisito é que em pelo menos duas das cinco áreas básicas seja oferecido residência médica. O HSC oferece residência em todas.
Hoje, 600 alunos de diversos cursos da área de saúde atuam na instituição, entre estágio e residência.
Convênios com municípios
Três municípios do Vale do Rio Pardo tem convênio com o curso de Medicina. Passo do Sobrado, município de aproximadamente três mil habitantes, foi o primeiro a receber acadêmicos para ajudar no atendimento à população.
A parceria iniciou em outubro de 2010 e tem por objetivo possibilitar aos estudantes conhecimento prático, formando profissionais com experiência sobre a realidade da saúde pública. Acompanhados por um professor, estudantes a partir do 5º semestre examinam pacientes do SUS com consultas marcadas pela equipe da Secretaria de Saúde e Ação Social.
Nos dias em que os acadêmicos estão na cidade, os médicos das Estratégias de Saúde da Família visitam os pacientes em casa. Pela avaliação do governo, esse apoio qualifica o trabalho preventivo em saúde.
Outro aspecto positivo diz respeito à regionalização dos serviços de saúde. Na leitura dos gestores, a credibilidade da Unisc frente à opinião pública garante uma boa aceitação da comunidade.