Vale do Taquari – As obras de pavimentação da ERS-421 – em dois trechos distintos entre Forquetinha e Boqueirão do Leão, serão paralisadas pela Construtora Giovanella. De acordo com a empresa, o investimento estipulado nos projetos, feitos em 1998, é insuficiente para asfaltar toda a extensão. Para continuar os serviços, o governo estadual deverá fazer nova licitação.
São dois projetos. O primeiro, entre Forquetinha e Sério, tem 22,8 quilômetros. O investimento de R$ 20 milhões permite concluir 17 quilômetros. A construtora pretende encerrar tal trecho até março. Destes, 11 estão prontos.
A licitação foi vencida pela Sanitec. No entanto, em março deste ano, a Giovanella comprou 95% das ações da empresa e assumiu os trabalhos. Na época, nenhum quilômetro de asfalto havia sido construído.
No outro trecho, entre Sério e Boqueirão do Leão, são 21,6 quilômetros para R$ 13,35 milhões. Com o dinheiro, a construtora terminará 12 quilômetros de asfalto. A obra paralisa a partir da próxima semana.
Segundo o sócio-proprietário da construtora, Nilson Giovanella, os projetos se tornaram ultrapassados pelo fato de terem cerca de 15 anos. Neste período, cita, a região a ser pavimentada mudou, assim como o custo das obras. “Lamentamos não ter o que fazer. Aguardamos um posicionamento do governo, para que a comunidade saia satisfeita.” Até o fechamento desta edição, o Daer não informou qual alternativa será adotada.
Histórico de problemas
A obra entre Forquetinha e Sério é uma das mais problemáticas da região. Em julho de 2011, quilômetros da rodovia ficaram cobertos por lama após período de chuvas. Além da sujeira decorrente do barro, veículos ficaram atolados.
Mesma situação ocorreu em agosto do ano passado. Na época, famílias lindeiras à rodovia se mobilizaram e interditaram o trecho como sinal de protesto. Dias depois da manifestação, uma comissão foi a Porto Alegre pressionar o governo e retornou com promessa de agilidade. No fim do ano, um documento com a assinatura de 400 moradores foi entregue ao Daer solicitando reformas no trecho.
Sem conseguir se adaptar à obra, a Sanitec solicitou readequação no projeto para substituição do revestimento asfáltico – de TSD por CBUQ. Por semanas as atividades foram paralisadas. A rodovia ficou repleta de buracos, desníveis e barro. Outro fator resultante na demora foram substituições de cargos na direção estadual do Daer, assim como na Secretaria de Infraestrutura (Seinfra).
“Não aguentamos novas decepções”
O agricultor Elemar Kron, 70, é natural de Arroio Alegre, comunidade que liga Forquetinha a Sério. Se diz cansado com os recorrentes problemas e promessas furadas de governantes. “Não aguentamos novas decepções.”
De acordo com Kron, se o asfalto tivesse sido construído há mais de dez anos – desde que a obra é prometida, muitos jovens teriam permanecido na comunidade. “Mas como demorou, houve uma debandada. Só restaram os idosos.”
Sérgio Schmitz, 51, cria frangos há duas décadas. Com dois aviários, totalizando 35 mil aves, teve momentos de crise em função da precariedade da rodovia. Em 2002, 18 mil frangos morreram de fome depois que o fornecedor de ração se negou a entregar o produto devido a buracos e poeira. Tem duas filhas, de 29 e 21 anos. Ambas desistiram de trabalhar no campo. “Talvez se o asfalto fosse feito antes, elas estariam em casa. Perdemos muito nos últimos anos.”
A moradora Ivanir Endler, 46, enfatiza a dificuldade das famílias. Lembra dos recorrentes transtornos causados pela obra, como o barro. “Para saírmos de casa ou levar as crianças até o micro, precisávamos colocar tábuas no chão.”
Conheça a ERS-421
Trecho de Forquetinha a Sério
Extensão: 22,8 quilômetros
Investimento: R$ 20,04 milhões
Empresa terminará 17 quilômetros de asfalto até março
Trecho de Sério a Boqueirão do Leão
Extensão: 21,6 quilômetros
Investimento: R$ 13,35 milhões
Com 12 quilômetros prontos, obra para em uma semana
