Fluxo piora e exige planos duradouros

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Fluxo piora e exige planos duradouros

Na ausência de projetos capazes de proporcionar condições satisfatórias para a mobilidade urbana, crescem engarrafamentos nas ruas da região. O A Hora listou cinco locais problemáticos. Congestionamentos em horários de pico aumentam à medida que a frota de veículos cresce. No Vale, o Detran contabiliza mais de 213 mil veículos. Especialistas alertam para a urgente necessidade de estabelecer planos contínuos, sem interrompê-los a cada troca de governo.

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Vale do Taquari – A infraestrutura despreparada para a crescente quantidade de veículos obriga as administrações públicas a traçar novos objetivos. O erro histórico de adotar o sistema rodoviário como principal meio de transporte provoca a saturação das ruas nas cidades.

Enquanto motoristas do eixo Rio-São Paulo perdem até 46 minutos por dia em congestionamentos, no Rio Grande do Sul, as rodovias e vias municipais têm um tempo menor, mas já dão mostras de exaustão.

tUm pouco distante desse cenário, no Vale do Taquari, os mais de 213 mil veículos nos 36 municípios representam 4% da frota estadual. Desse total, Lajeado e Estrela somam 76.379. Isso alcança um percentual de 35,7% de toda a frota regional.

As informações do Detran, computadas em setembro, mostram o tamanho do desafio dos governos locais. As exigências de aperfeiçoar as ruas e oferecer segurança são mais rápidas do que a execução das obras.

A tendência, frente às facilidades de crédito para financiamentos, resultando em mais veículos, junto com a expansão urbana, é de um possível colapso do sistema rodoviário. Para o professor de Arquitetura e Urbanismo da Univates, Augusto Alves, esse é o resultado de decisões tomadas a partir da década de 50, quando a indústria automotiva se transformou em modelo de crescimento econômico.

Desde então, houve o declínio dos modais hidroviário e ferroviário. Poucos investimentos públicos provocaram o sucateamento da estrutura existente. Deixando claro foco na construção de estradas.

Lajeado lidera frota na região

Lajeado tem um dos maiores índices de motorização do Estado. A cada 1,3 habitante tem um veículo. Ao todo, contando caminhões, reboque, motos e carros, há 54 mil emplacados no município.

Nos fins de tarde, após o expediente, milhares de condutores enfrentam a rotina das ruas, cada vez mais insuficientes. Por vezes, motoristas chegam a parar por 15 minutos. Nos cinco dias da semana, a partir das 17h30min, as filas reduzem a velocidade de tráfego.

Entre os pontos críticos, a Av. Senador Alberto Pasqualini, no sentido Univates, a coincidência de interesses, entre pessoas saindo do trabalho e outras se encaminhando às aulas, provoca tranqueira. A via estreita, acompanhada pelos sentidos múltiplos de entradas ao bairro São Cristóvão, dificulta o trânsito.

O município prolongou cerca de 350 metros da avenida. Investimento superior a R$ 1 milhão no alargamento que segue fechado. Mas o movimento intenso é por um curto intervalo. Entre as 18h até o horário de início das aulas na universidade.

Problema longe do fim

Entrar no bairro Conventos em horário de pico exige paciência. A única forma de chegar é atravessando a BR-386. Em agosto, mais de cem moradores participaram de audiência pública. Convocados pelo Legislativo, ouviram que faltam projetos para resolver o problema.

Desde 2011, tramita no Dnit o pedido de construção de um viaduto. O investimento orçado chega a R$ 4 milhões. Como há uma possibilidade de duplicação da rodovia federal, a proposta permanece parada em Brasília, até o fim dos estudos de viabilidade para construção das outras pistas.

No trecho urbano da estrada federal, são cinco quilômetros entre o acesso ao centro da cidade e o posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Há um projeto de ligação do bairro até a Av. Benjamin Constant. No entanto, não há previsão para abertura de novas ruas.

O bairro é o oitavo mais populoso de Lajeado e a tendência é crescer. Hoje, cerca de 3,4 mil pessoas residem no local. O trânsito no ponto tem ainda o reforço dos veículos que vêm dos municípios de Sério, Canudos do Vale, Boqueirão do Leão e Forquetinha.

Em outro ponto da cidade, no cruzamento da ERS-130, entre os bairros Moinhos e São Bento, nas imediações da BR-Foods, as filas de carros ocorrem em dois horários. Pela manhã, no momento em que as pessoas dirigem ao trabalho, e após às 17h30min.

Viaduto melhora, mas não resolve

No ano passado, foi concluído o viaduto ligando os bairros Campestre e Universitário, em Lajeado. Por ali, ônibus com estudantes da Univates seguem pela Av. Amazonas, reduzindo o tráfego pela Av. Senador Alberto Pasqualini.

Uma obra com custo elevado. Foram R$ 2,7 milhões. Sem precisar atravessar a ERS-130, motoristas garantem que houve uma melhora no local. Por outro lado, os cruzamentos a pouco mais de um quilômetro da passagem seguem problemáticos.

É o que atesta o chefe de manutenção Moacir Pedro Gusson. Avalia como um risco iminente as ramificações de vias urbanas que levam à ERS. “Passo todos os dias aqui. É sempre uma confusão.”

O morador do bairro Campestre e motorista profissional, Romaldo Lussen, confirma melhora no trânsito com o viaduto, mas comenta a importância de investir nos acessos em frente ao Posto do Arco. “Acontecem acidentes graves aqui.”

Décadas de projetos sem resultado

Em Estrela, no bairro Boa União, a entrada da ERS-453 (Rota do Sol) na rua João Lino Braun provoca confusão e riscos aos pedestres, além de engarrafamentos. O comerciante João Bastian trabalha em frente ao trevo.

Vê todos os dias as filas de carros e caminhões. Por vezes, o congestionamento alcança a rodoviária do município, que fica há mais de um quilômetro do local.

Pelo traçado original da Rota do Sol, projeto da década de 70, a rodovia não passava pelo bairro. Há dois motivos para a modificação. Pressão comunitária, pois naqueles anos se acreditava em benefícios da urbanização no município. O outro estaria ligado aos altos custos para realização da obra.

Diversos projetos foram pensados para reduzir o tráfego no local. O mais recente é a construção de um acesso secundário à BR-386, pela rua João Fell, no bairro Pinheiros. Moradores resistem a essa ideia.

Consideram a medida uma temeridade para as famílias. Algo que traria riscos de atropelamentos e incômodo, como o barulho das carretas. A reclamação foi levada ao Ministério Público.

Pelo Plano Diretor, a área onde está a rua João Fell é definida como área de expansão industrial. Há sete casas no trecho e algumas indústrias.

A Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) realiza o estudo de viabilidade para a obra. A via com 2,3 quilômetros e o governo assegura o asfaltamento. Para a administração municipal, essa é uma medida emergencial para desviar os caminhões da área residencial do bairro Boa União.

Bairro Boa União – Estrela

Dificuldade: Nos fins de tarde, caminhões vindos da Rota do Sol se misturam ao trânsito urbano. No entroncamento da rodovia com a rua João Lino Braun, o trevo tem engarrafamentos constantes.

Alternativa: O município pretende asfaltar 2,3 quilômetros da rua João Fell e desviar a passagem das carretas. Para o professor Alves, uma rótula no bairro também deve ser estudada.

Av. Senador Alberto Pasqualini – Lajeado

Dificuldade: A coincidência de horários entre pessoas saindo do trabalho e estudantes indo para a aula na Univates, aliada a pouca largura da rua e aos múltiplos sentidos da avenida.

Alternativa: Para aumentar a capacidade da via, o município precisará fazer diversas desapropriações. Trâmite lento e de difícil solução. No ano passado, 350 metros da avenida foram ampliados. Mas o ponto segue fechado.

Acesso ao bairro Conventos – Lajeado

Dificuldade: Motoristas que precisam entrar no bairro, ou dirigem para os municípios de Sério, Forquetinha, Canudos do Vale e Boqueirão do Leão, aguardam até 30 minutos para conseguir atravessar a BR-386.

Alternativa: Há um pedido para construção de um viaduto no local em análise no Dnit. No entanto, com o início dos estudos de viabilidade para a duplicação, é possível alteração no projeto inicial.

Cruzamento da ERS-130 próximo à BR-Foods – Lajeado

Dificuldade: Principal acesso a Santa Clara do Sul, os veículos somam-se ao trânsito no sentido bairro Moinhos. Motoristas chegam a esperar até 30 minutos em dias de grande movimento. Também há muitos pedestres e ciclistas. Na maioria, industriários que trabalham no local.

Alternativa: A comunidade pediu uma passarela para reduzir os riscos de atropelamentos. Para o fluxo de veículos, uma das soluções apontadas é a duplicação da ERS-130. No entanto, não há projeto nem prazos para efetivação. Outra sugestão é a construção de uma passagem elevada para veículos.

Acessos no Posto do Arco – Lajeado

Dificuldade: O viaduto entre o Campestre e Universitário amenizou os problemas. No entanto, os inúmeros acessos a bairros, cruzando a ERS-130, tornam o trânsito confuso e perigoso.

Alternativa: Da mesma forma que a passagem na BR-Foods, a duplicação da rodovia é tida como uma possível solução.

“Usar rodovias como extensão do município é um crime”

Erros no planejamento das cidades do Vale interferem na rotina das pessoas. Com um transporte público inoperante, os automóveis tornam-se o principal meio de transporte. O professor de Arquitetura e Urbanismo da Univates, Augusto Alves, reforça a necessidade de pensar soluções. Organizador do estudo “Lajeado do Futuro: Cenários Urbanos”, apresentado durante a Construmóbil em setembro, considera o desregramento da expansão urbana um dos problemas mais sérios da região.

A Hora: Frente às deficiências na infraestrutura viária local, quais os problemas mais recorrentes?

Augusto Alves: Algo imperdoável do ponto de vista do planejamento urbano é permitir ligações de loteamentos e bairros direto nas rodovias. Não sei como isso é permitido. O certo é fazer alças de acesso, trevo ou rótulas.

As estradas estaduais e federais não integram o sistema urbano. Usar rodovias como extensão do município é um crime. Representa perigo de acidentes e causa congestionamentos.

Mas quais os motivos desses erros?

Alves: O crescimento das cidades sempre foi pautado no ganho privado. Vemos isso na implantação de novos loteamentos. A infraestrutura cobrada é mínima. Tudo para maximizar o lucro do loteador. Uma irresponsabilidade do poder público.

Nesse cenário, temos o carro como o principal meio de transporte. Discutir o uso dos automóveis parece injusto agora, nesse momento em que as classes C e D podem comprar veículos. Penso ser importante universalizar o acesso desse bem, mas é preciso racionalizar o uso.

Nas cidades do Vale, há risco de vivenciarmos dificuldades parecidas com as das grandes cidades do país?

Alves: Sim. A lógica é simples: mais carros sendo vendidos, obras estruturantes lentas para atender a demanda crescente. Hoje, a fabricação dos automóveis se aproxima dos 25% de participação na economia nacional.

Com as medidas governamentais, financiamentos, redução de impostos, há uma inclusão de contingente populacional. Como resultado, temos um colapso na nossa infraestrutura, que diga-se de passagem, sempre foi o ruim. Por enquanto ainda é vantagem andar de carro. Mas quando ficar crítico terá de ser revisto. Como alternativa, é preciso oferecer um transporte público de qualidade e incentivar o uso de bicicletas.

Os investimentos públicos, com abertura de novas avenidas, ruas, como ocorre em São Paulo, mostram-se insuficientes. Na maior cidade do país, abre-se uma nova marginal, e em poucas semanas está entupida de carros tanto como as vias antigas.

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