Papeleiros insistem em ficar na ERS-130

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Papeleiros insistem em ficar na ERS-130

Cerca de 20 pessoas moram de forma precária e irregular à beira da rodovia

Lajeado – Em meio a entulhos, restos de lixo, criadouros de animais e pequenos casebres, pelo menos cinco famílias vivem em situação precária às margens da ERS-130, entre os bairros Moinhos e Montanha.

É comum avistar crianças cruzando a rodovia entre os veículos. Secretaria de Habitação (Sthas) insiste há mais de três anos na remoção dos invasores.

pNão há água encanada. As famílias costumam buscá-la em postos de combustíveis ou residências vizinhas. Porcos, galinhas e dezenas de cachorros dividem os nove barracos com os moradores.

Todos vivem de forma ilegal em ambos os lados da área de domínio do Daer, agora concedido para a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR).

Apesar da falta de condições mínimas de higiene, os papeleiros refutam a oferta de novas casas em terrenos mais distantes da rodovia. Na tarde de ontem, duas funcionárias do Conselho Tutelar de Lajeado estavam no local.

Mais uma vez, tentavam convencer as famílias a deixar o local.

Paulo Luis Volk, 42 anos, é catador de lixo e vive há pouco mais de quatro anos naquele local. Ele enaltece a presença das conselheiras tutelares, mas se nega a deixar o pequeno barraco com pouco mais de 10 metros quadrados, instalado próximo de uma área utilizada de forma inadequada para a triagem de lixo reciclável. Lá, ele vive com a mulher, duas filhas e um neto. “E tem mais uma netinha vindo aí”, diz.

Ele morava no bairro Santo Antônio e trabalhava em um frigorífico antes de se mudar para a área invadida. “Saí de lá porque não tinha como tratar meus animais.” Ele cria galinhas e três porcos.

Com ajuda dos vizinhos, construiu a singela residência com folhas de madeira compensada, ao lado de uma pequena e suja capunga.

Sobre o risco de viver próximo da movimentada rodovia, ele é enfático. “Nunca aconteceu nada, não há motivos para nos preocuparmos.” As carrocinhas e os cavalos utilizados para carregar as cargas de lixo e papelão recolhidos nas proximidades ficam próximas do acostamento. Por vezes, há lixo sobre a pista.

“Não tenho documentos, como vou trabalhar”

Sem documentos, Paulo sequer lembrava do sobrenome. Soletrá-lo foi impossível. Foi preciso auxílio da mulher. Ele demonstra preocupação com a possível mudança de endereço. “Se eu sair, como vou criar meus animais e separar o lixo. Vou morrer de fome, não tenho documentos para trabalhar.”

Conforme a secretária da Sthas, Neca Dalmoro, assistentes sociais e equipes da Secretaria de Saúde são responsáveis pelo atendimento das famílias. Ela confirma a resistência dos moradores em deixarem o local.

“Sabemos que a imagem de crianças vivendo aqui deve chocar a comunidade, assim como também nos perturba. Mas nós estamos sempre tentando retirá-los.”

Ela informa que a administração municipal firmou termo de adesão ao programa do governo federal Minha Casa, Minha Vida. Num primeiro momento, deverão ser construídos na divisa dos bairros Santo Antônio e Jardim do Cedro, cerca de 500 apartamentos a partir de 2014.

Famílias carentes, como aqueles que vivem em áreas de risco ou os próprios papeleiros da ERS-130, serão os primeiros a serem atendidos.

Invasores podem atrasar duplicação

O presidente da Câmara de Indústria e Comércio do Vale do Taquari (CIC-VT), Oreno Ardêmio Heineck, alerta para possibilidade de percalços para o projeto de duplicação da ERS-130, entre os municípios de Venâncio Aires e Muçum.

Para ele, o fato é resultado da irresponsabilidade do poder público. “É preciso resolver o problema antes que aumente. É inseguro viver ali e isso poderá atrasar e onerar o processo de duplicação”, opina.

José Luis Cenci, presidente do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), relembra que houve problema idêntico na BR-386. Próximo do entroncamento com a TransSanta Rita, 12 famílias invadiram uma área de domínio do Dnit e atrasaram o processo de duplicação da rodovia federal.

Segundo Cenci, o atraso poderia ter sido maior. “O caso é idêntico a este na ERS-130. Na rodovia federal, a única solução foi indenizar e comprar casas e terrenos para realocar as famílias.”

Lembra que todas as negociações foram individuais. Para ele, a prevenção contra invasores pode evitar onerações futuras.

EGR averiguará o caso

De acordo com o diretor-presidente da EGR, Luiz Carlos Bertotto, a estatal conhece o fato e estuda formas de inibir novas invasões. Afirma depender da entrega dos estudos ambientais, de tráfego e socioeconômicos, realizados pela Serviços Técnicos de Engenharia (STE), contratada pela CIC-VT. “Não temos como agir antes.” A previsão de entrega é dezembro deste ano.

Diz que, muitas vezes, proprietários de áreas vizinhas são notificados por construírem sobre a área de domínio da rodovia. Trabalhos em conjunto com polícias Rodoviárias Federal e Estadual serão estudados para inibir a prática. Segundo o presidente, inexiste qualquer prazo para a retirada das famílias.

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