Debate sobre o futuro da cidade marca Construmóbil

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Debate sobre o futuro da cidade marca Construmóbil

Especialistas e gestores públicos admitem falta de capacidade para planejamento do espaço público

Lajeado – Imaginar a cidade nas próximas quatro décadas e apontar estratégias para solucionar os problemas. Esse foi o ponto central do debate promovido pela Univates na Construmóbil. Professores universitários, profissionais do segmento e integrantes do poder público se reuniram nessa sexta-feira.

O painel, chamado de Lajeado do Futuro: cenários urbanos, trouxe à mesa a necessidade de planejar a cidade, de investir no saneamento básico, melhorar o transporte público e reduzir o número de veículos nas ruas.

Com base em um estudo do curso de Arquitetura e Urbanismo, organizado pelo professor Augusto Alves, se criou quatro cenários para o município nos próximos 40 anos. Segundo ele, a pesquisa considera as principais características de Lajeado.

rA técnica elenca as forças e fraquezas locais, aliadas às oportunidades e ameaças. Para o pesquisador, os aspectos positivos da cidade e região está o empreendedorismo, a qualidade de vida e a cultura do trabalho.

Para o presidente da Construmóbil, o arquiteto André Kieling, o debate apresentou um diagnóstico sobre os problemas da cidade. Compara o cenário de Lajeado às condições enfrentadas em outras metrópoles. “Guardadas as proporções, as carências de Lajeado se parecem com as de São Paulo.”

Como exemplos, cita os engarrafamentos em horários de pico no centro, como na rua Júlio de Castilhos, Av. Benjamin Constant e Av. Senador Alberto Pasqualini. Kieling contextualiza o quadro atual das cidades como resultado de decisões políticas sem o uso de conhecimentos técnicos.

Opinião semelhante a do professor Alves. Segundo ele, em diversas cidades do país, a evolução urbana segue interesses de grupos setoriais. “Isso faz com que a cidade cresça de forma desequilibrada, com problemas urbanos e exclusão.” Para ele, a maneira de corrigir essa tendência é aproximar o meio acadêmico, profissional e o setor público.

Conforme a secretária de Planejamento, Marta Peixoto, o quadro funcional é insuficiente para conseguir elaborar projetos de médio e longo prazo. “Trabalhamos para apagar incêndio.” Esse aspecto impossibilita a definição de estratégias para formular o modelo de cidade adequada para os cidadãos, admite.

Os debatedores foram unânimes: Lajeado cresceu de maneira acelerada mas desregrada nas últimas décadas. As normas para o desenvolvimento da cidade, como o Plano Diretor e o Código de Edificações, são recentes, datados do início da década de 90.

Cobrança por um plano de mobilidade

Por lei, Lajeado tem até 2015 para elaborar um plano de mobilidade urbana, sob pena de o gestor responder por improbidade administrativa. O promotor do Ministério Público (MP), Sérgio Diefenbach endossa o compromisso.

Segundo ele, com definições claras, as decisões passam a se basar nos estudos técnicos, ao em vez de perpassar o campo dos interesses particulares. Como exemplo, cita o projeto de retirada das ciclofaixas.

Para o promotor, nesse caso, não foram apresentados dados específicos sobre a utilidade ou não dos espaços, quem iria beneficiar, se é mais importante deixar local para estacionar ou para o uso de bicicletas.

Dados apresentados pelo representante da Junior Chamber International (JCI) de Lajeado, Fernando Bildhauer, apontam que o investimento em ciclofaixas e ciclovias contribuem com a redução em gastos com saúde. Na opinião dele, há uma tendência em projetar as ruas para priorizar o trânsito de automóveis.

Cenários de Lajeado em 2050

Frente às características da cidade, a equipe de estudantes e professores do Curso de Arquitetura e Urbanismo projetaram quatro cenários para Lajeado das próximas décadas.

1. Cidade do trabalho

Frente ao crescimento econômico, puxado pela força do trabalho da população, atrai pessoas de diversas regiões. Lajeado reforça sua condição de polo regional com ênfase no comércio e nos serviços.

Isso ocasiona grande movimento no centro. Poluição visual, sonora e sujeira. Há uma descaracterização do patrimônio e perda de identidade do espaço urbano, aumento da criminalidade.

Também há uma redução das áreas de lazer, desmatamento, com a ocupação das áreas de preservação diante da pressão imobiliária.

2. Cidade da especulação imobiliária

A economia, aliada ao caráter de cidade polo se torna uma grande oportunidade para investimentos no setor imobiliário e na construção civil. Articulações políticas e manobras alteraram o Plano Diretor de modo a beneficiar exclusivamente a especulação imobiliária e os grandes incorporadores.

Surgem altas torres comerciais, shopping centers e condomínios residenciais fechados. As áreas antigas, o centro histórico, perdem valor e significado. As periferias crescem e bairros informais são tomados pela marginalidade e exclusão.

3. Lajeado criativa, inovadora e sustentável

O potencial na educação, o empreendedorismo e a inovação prometem tornar a cidade um dos mais importantes municípios do estado. Isso atrai pesquisadores, estudantes, trabalhadores e empresários.

Políticas públicas foram criadas para melhorar o espaço público. Os sistemas de infraestrutura subterrâneos eliminam postes e a fiação aérea. Investimentos no transporte público, com linhas sobre trilhos, possibilitou o deslocamento rápido e de baixo impacto. A implementação de ciclovias, com bicicletas para aluguel, contribuem para a redução dos congestionamentos.

4. Lajeado democrática

Pelo estudo, os pesquisadores projetaram uma cidade com participação popular, com valorização do patrimônio cultural, ambiental e arquitetônico.

Houve uma redução do perímetro urbano. Isso contribuiu para a compactação da cidade. As periferias foram incluídas com projetos populares. Foram dotadas de infraestrutura, áreas verdes, equipamentos públicos e sistemas de transporte.

Aliado a isso, há um movimento efetivo de preservação ambiental. A orla do Rio Taquari e as áreas inundáveis se tornaram áreas de preservação permanente.

Os problemas da cidade

Número de veículos X habitantes

Lajeado é uma das cidades do estado com maior índice de motorização. São mais de 55 mil veículos para uma população de 72 mil habitantes. Um número de 68,1 veículos para cada cem habitantes. Os resultados são ruas engarrafadas, principalmente nos horários de pico. No início da manhã, ao meio dia e no fim da tarde.

Uma das mudanças projetadas para o novo Plano Diretor, elaborado pelo governo para 2014, são adequações nas vias. Em especial na Av. Senador Alberto Pasqualini, no bairro São Cristóvão.

Transporte público ineficiente

Duas empresas prestam o serviço de transporte coletivo. Atuam desde 2007 sem licitação. Cada uma responde por determinadas áreas da cidade. A tarifa custa R$ 2,60. Cerca de 45 ônibus são responsáveis pelo transporte de 15 mil passageiros por dia.

Os problemas rotineiros enfrentados pelos usuários são: poucas linhas em bairros distantes, a superlotação em horários de mais movimento, a falta de paradas com abrigo (do total de 420, apenas 202 tem proteção) e a redução de 70% da frota nos fins de semana.

Uso dos terrenos

Dados da Secretaria de Planejamento mostram que há 90 novos loteamentos em fase de implantação. No entanto, não tem infraestrutura para o atendimento de todos. Faltam redes de água e inexiste implantação de sistemas de esgoto.

Os custos para instalação dessa infraestrutura é mais barato quando se está na etapa inicial. Há menos de dois terços da área da cidade com possibilidade de urbanização. Em Lajeado, estima-se que cerca de 99% da população viva em área urbana.

Moradores em área de risco

A discussão parece voltar só em dias de enchente. Hoje, pelo menos 3,3 mil pessoas vivem em áreas onde há risco iminente de alagamentos ou deslizamento de terra. São pelo menos 831 casas que deveriam ser desabitadas para garantir a segurança dos moradores.

Os principais pontos estão nos bairros Conservas, Santo Antônio e área central. No primeiro, por exemplo, 70 casas correm risco de desabamento por deslizamento de terra. Cerca de 280 habitantes vivem nesses locais. Inexiste previsão de retirada desses moradores. No mês passado, pelo menos 300 ficaram desabrigados com a última enchente.

Saneamento básico atrasado

O anúncio da construção de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) e de uma nova rede coletora de dejetos trouxe expectativa para a comunidade. Mas não passou disso. A ETE, cujas obras se iniciaram em 2008 e foram finalizadas em 2009, segue operando com pouco mais de 40% da capacidade.

A ausência de leis que obriguem as residências a se interligarem a estação é o principal entrave. Foram mais de R$ 4 milhões de investimentos no local capaz de atender até 480 domicílios. Já a instalação dos 10,5 quilômetros de rede coletora de esgoto, entre os bairros Moinhos e Florestal, está atrasada. Inexiste previsão de término pela Corsan. A obra está orçada em R$ 4,5 milhões,

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