Vale do Taquari – Acessos a bairros e cidades mal planejados colaboram com o alto número de acidentes. Na BR-386, o Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat) elabora um relatório com os principais problemas no trânsito da rodovia entre Montenegro até Iraí.
O trabalho aborda a duplicação do trecho de 350 quilômetros. Pelo projeto, a entidade regional pede a construção de 15 trevos (veja no boxe). A proposta quer reduzir as possibilidades de colisões como a que matou o estudante Jael de Vargas, 30, nessa quinta-feira.
As travessias no trecho entre Estrela até Progresso lideram as queixas dos usuários. São diversas entradas em que veículos cruzam a rodovia. Foi em um momento como esse que aconteceu o acidente com Vargas.
Ele trafegava no sentido Lajeado-Estrela em uma motocicleta. Próximo da entrada para o bairro Imigrante, foi obstruído pelo automóvel conduzido por Igor Antônio de Oliveira, 19.
Reduzir esse tipo de fatalidade é o foco do Codevat. Conforme o presidente da entidade, José Luís Cenci, o documento será enviado ao Dnit e à empresa que fará estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental para a duplicação do trecho.
Após a autarquia contratar a equipe responsável por esse projeto, representantes do governo agendam reunião com os prefeitos para debater as possibilidade da construção de trevos, rótulas ou passagens elevadas.
Engenheiro civil com especialidade em Engenharia Rodoviária, Ivanio Faria, ressalta a necessidade de cobrar o investimento público para melhorar os acessos à BR. De acordo com ele, diante do fluxo de veículos na rodovia federal, a solução mais barata e segura seria a construção de rótulas nas entradas aos bairros e cidades.
Como exemplo cita o acesso a Conventos, em Lajeado. Para Faria, trechos em que o motorista precisa atravessar a rodovia, cuidando o tráfego em dois sentidos é uma temeridade. “O brasileiro é impaciente. Ficar um minuto parado é demais, então se arriscam na travessia.”
Segundo o especialista, cada local tem um perfil. “A definição da obra dos pontos será avaliada pelo estudo viário e econômico.” Faria adianta que o mais importante nessas estruturas é proporcionar aos motoristas uma visão plena da pista.
Para ele, apesar dos problemas nos acesso da região, o principal culpado pelos acidentes fatais são os condutores. “Em mais de 80% dos casos há erro humano.” Faria acredita que a formação dos motoristas é deficitária. Promover a educação para o trânsito é o melhor caminho, ressalta.
Pedidos congregam o Vale
Na elaboração do documento do Codevat, prefeitos dos municípios lindeiros à rodovia apresentaram sugestões para resolver os problemas.Foram três encontros, ocorridos em Lajeado, Carazinho e Frederico Westphalen.
O interesse dos líderes regionais é para que as obras sejam executadas primeiro nos trechos mais problemáticos. Para Cenci, o essencial é reestruturar a área urbana de Estrela e Lajeado. Trechos desassistidos pelo projeto da duplicação com as obras em andamento.
Outro local fundamental fica em Bom Retiro do Sul, onde é prevista a construção de uma rótula de acesso ao município. Mas à administração municipal, o necessário seria um viaduto.
Situação semelhante ocorre em Montenegro. O trecho da rodovia que atravessa a cidade não foi duplicado – único entre Lajeado a Porto Alegre.
Pela proposta, destaca Cenci, tais obras devem ser incluídas no novo projeto de duplicação. “Trechos ficaram para trás e agora cobraremos o atrasado. Temos que incluir tudo o que é necessário, do contrario não sai mais.”
PRF reforça mudanças
Chefe da 4ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF), inspetor Adão Vilmar Madril, destaca que a BR-386 divide maioria das cidades lindeiras. Assim, tornou-se comum pedestres caminhando às margens da rodovia e muitos acessos a bairros de forma precária.
Para o comandante, é fundamental cobrar do governo a construção de elevadas no maior trecho possível da rodovia, mesmo que seu alto custo dificulte a proposta. Desta forma, destaca, se tira o movimento da cidade da rodovia.
Caso não haja possibilidade de elevadas, Madril aconselha a solicitação por rotatórias. Mas elas devem ser grandes para oferecer segurança aos motoristas. Tais estruturas, segundo ele, inexistem no Vale. “Do contrário, vai trancar todo o movimento e tornar a situação ainda pior.”
É fundamental planejar passarelas. Como é grande o número de pedestres, observa o comandante, deve-se pensar que após a duplicação não serão mais duas pistas para atravessar, mas quatro. “Não sendo possível, precisamos pensar em alternativas, como oferecer um espaço para que os pedestres aguardem no centro da pista para atravessar.”
38 mortes desde janeiro
Desde o início do ano a PRF registrou 858 acidentes nos 250 quilômetros administrados pela 4ª Delegacia. Foram 409 feridos e 38 mortos. No mesmo período do ano passado ocorreram 802 acidentes, 527 com lesões e 48 óbitos.
Conforme Madril, a maioria dos acidentes é fruto da imprudência dos condutores. São casos de ultrapassagens proibidas, excesso de velocidade, desatenção e consumo de álcool.
Para ele, os motoristas precisam entender que em trechos com pouca segurança, é necessário dobrar os cuidados, reduzir a velocidade e ter mais prudência “Não vemos isso ocorrer na maioria dos casos.”