Lajeado – O controle das chamas na loja Casa Americana, entre as ruas Júlio de Castilhos e João Batista de Mello, exigiu o esforço de 20 bombeiros em quase 12 horas de trabalho. Três caminhões foram usados no controle das chamas. Esse foi o quarto incêndio de grandes proporções que aconteceu na região em pouco mais de dois meses.
O Corpo de Bombeiros de Lajeado foi informado do sinistro às 2h30min. O fogo teria começado no setor de calçados e confecções e se espalhado até o depósito, nos fundos do estabelecimento, na rua João Batista de Mello. Todas as mercadorias foram perdidas. Nos quatro mil metros quadrados do prédio, funcionam outras quatro lojas.
O complexo estava em adequação e funcionava de forma provisória. De acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros de Lajeado, capitão Cássio Conzatti, o prédio não tinha Plano de Prevenção Contra Incêndios (PPCI). “Estavam no prazo legal de 30 dias para atender as exigências.”
Segundo ele, faltam a colocação de portas corta-fogo, saídas de emergência e adaptação em escadas. Em agosto, as lojas no local corriam o risco de ser interditadas. A liberação provisória foi expedida na segunda semana do mês. “Alegaram que demorava para chegar as portas da fábrica”, relata Conzatti.
Com a mulher e a filha, o proprietário da Casa Americana, Renan José Borelli, acompanhou o trabalho dos bombeiros desde o início. Afirma que na parte da loja dele, os pedidos expostos no PPCI haviam sido cumpridos.
A proprietária do prédio, Marise Wolff, diz que foram feitas reformas em toda a estrutura. “Trocamos o telhado, colocamos três portas corta-fogo, extintores de incêndio, para-raios. Um alto investimento que fizemos com sacrifício.”
O calor provocou rachaduras nas paredes e não atingiu nenhum outro estabelecimento. Todo o complexo foi interditado. A calçada foi isolada. As causas do incêndio serão apontadas por laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP).
Risco de desabamento
O retorno do atendimento nas lojas depende de aval do engenheiro da construção e da administração municipal. A vistoria deve ser feita amanhã. Peritos do IGP chegaram em Lajeado às 14h40min de ontem.
Ao lado da construção, há uma empresa distribuidora de catálogos, um consultório odontológico e uma residência. Com o risco de desabamento de uma parede, os pontos também foram isolados.
Marlene da Silva mora nos fundos do consultório. Lembra como acordou: “Me assustei com o barulho quando os bombeiros tentavam arrombar uma porta.” Em seguida, sentiu o cheiro de queimado.
As labaredas de fogo, diz, saiam de uma rachadura no segundo andar. Ao ver isso, ouviu um bombeiro pedindo para ela sair de casa. Antes de se mudar para o centro, morava em área alagável. “Foi um pavor. Muito pior do que enchente.”
Proprietário de um bazar no prédio, José Mallmann espera reabrir a loja o quanto antes. “Me disseram que amanhã (hoje) à tarde poderia voltar a trabalhar.”
Bombeiro ferido
Depois de inalar fumaça, um soldado de Estrela precisou ser levado ao pronto-socorro do Hospital Bruno Born (HBB). Felipe Vargas de Oliveira, 21, teve pequenas queimaduras no rosto, recebeu atendimento e foi liberado. Os militares começaram a combater as chamas pela entrada principal, na rua Júlio de Castilhos.
Após reduzir a intensidade do calor, foi usado um caminhão equipado com escada. “Ao chegar, tinham muita fumaça e o acesso estava difícil”, narra o capitão Conzatti. A partir das 7h30min, o fogo foi controlado, restando alguns focos de chamas.
Prazo de um mês para perícia
Conforme o perito do IGP, Vincenzo Cardellini, o laudo sobre as causas do incêndio devem ser entregues em 30 dias. Foi o mesmo prazo apontado quando do sinistro em construção no centro, no dia 11 de junho.
Na ocasião, 26 operários precisaram ser atendidos em dois hospitais. O fogo atingiu pedaços de isopor e madeira. O laudo não foi encaminhado para a PC da cidade.
As causas do fogo que atingiu pedaços de isopor e madeira serão investigadas pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) e pela Polícia Civil nesta manhã. A fumaça começou por volta das 14h25min. Conforme a empreiteira responsável pela obra, o incêndio teve origem no subsolo-2 do prédio.
O delegado da DP de Lajeado, Sílvio Huppes, condiciona o fechamento do inquérito à entrega do laudo do IGP. “É uma peça conclusiva quanto ao incêndio.” Segundo ele, as razões da demora podem estar ligadas ao acúmulo de trabalho do instituto em função da complexidade dos casos.
Histórico do prédio
O complexo contém três blocos, construídos em anos diferentes. No mais antigo, tem cerca de 60 anos. O incêndio destruiu a ala mais nova. Conforme o historiador José Alfredo Schierholt, a história da empresa começou em 1950, quando o bancário Almiro Schmidt convidou Bruno Guido Wolff, lojista de Ijuí e gerente das Pernambucanas, para se associar a Norberto João Heberle, dono de uma loja e camisaria no prédio da família Hexsel.
A Casa Americana abriu as portas em abril de 1951, ocupando um espaço de quatro mil metros quadrados. Na época, era a maior loja do interior do estado. Chegou a ter quatro filiais: em Venâncio Aires, em prédio próprio de 1,9 mil m², em Estrela, no Unicshopping e em Teutônia.