Vale do Taquari – Com uma média diária de 37 milímetros de chuva desde quinta-feira, ainda é distante a possibilidade de enchente na região. Mesmo assim, equipes municipais de Defesa Civil estão de alerta. São mais de 14 mil pessoas morando em áreas de risco, mesmo após Ministério de Ciência e Tecnologia realizar estudo apontando as localidades mais atingidas pelas enchentes e deslizamentos de terra.
O estudo realizado pelo Serviço Geológico do Brasil foi entregue às administrações municipais de Lajeado, Estrela, Teutônia, Cruzeiro do Sul, Encantado e Taquari em março deste ano. Desde então, ninguém foi removido e nenhuma residência foi interditada.
São mais de 3,6 mil casas instaladas em áreas alagáveis e sob risco de deslizamentos de terra. Representantes da Defesa Civil admitem o risco de óbitos em alguns locais. Conforme o tenente-coronel, Vinícius Renner, coordenador regional da Defesa Civil, casas instaladas nas encostas de morros são as mais inseguras.
Ele demonstra preocupação com a morosidade na retirada das famílias. “Em algumas localidades de Cruzeiro do Sul e Encantado, principalmente, as pessoas correm risco de morte.”
Casas interditadas
Nas duas últimas enchentes registradas entre julho e agosto de 2011, centenas de casas foram interditadas e condenadas pelas equipes da defesa civil. Em Lajeado, foram 77 residências, deixando 359 pessoas desabrigadas. A orientação repassada aos gestores públicos solicitava a demolição dos locais e a realocação das famílias. Hoje, a maioria das casas segue habitada.
Em março, a administração municipal anunciou a intenção de pleitear cerca de R$ 3 milhões para obras e realocação de famílias. Nenhum recurso foi encaminhado ao município. São mais de 3,3 mil pessoas vivendo em 831 casas construídas em áreas de risco. Os principais pontos estão nos bairros Conservas, Santo Antônio e área central.
Só no bairro Conservas, por exemplo, 70 casas correm risco de desabamento por deslizamento de terra. O problema afeta de forma direta cerca de 280 habitantes. Jorge Barbosa da Silva, 56 anos, vive às margens do Rio Taquari nesse bairro. Parte de seu terreno cedeu durante a segunda cheia de 2011. Ele não pretende sair. “Aqui moro perto do centro. Sempre morei aqui e nunca deu nada.”
Essa dificuldade de convencer os moradores a deixar as casas é, segundo Renner, a maior dificuldade enfrentada pelas equipes voluntárias da Defesa Civil. Em caso de desastre, os moradores terão que arcar com os prejuízos.
Em Estrela, são 4,2 mil pessoas em áreas de risco
O município de Estrela apresenta os piores índices entre as cidades da região. No total, 13,64% dos 30,8 mil habitantes vivem em áreas de risco. De acordo com o estudo apresentado em março, 1.062 casas deveriam ser interditadas, desabitadas e demolidas. De 11 bairros na área urbana, apenas um está livre de inundações.
Os locais mais afetados são os bairros Moinhos – no Loteamento Marmitt –, Oriental e Indústrias. Em 2011, na enchente registrada no dia 22 de julho, 400 casas foram atingidas e 1,4 mil pessoas ficaram desabrigadas. Quatro residências foram destruídas.
Alerta de enchente
De acordo com o coordenador da Defesa Civil de Lajeado, Gilberto Schmidt, dez caminhões e cerca de 40 voluntários estão de prontidão. Alimentos, se necessário, serão disponibilizados pela própria equipe em conjunto com a Secretaria de Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sthas).
Até as 17h de ontem, o rio Taquari estava 50 centímetros acima do nível normal. “Está tudo tranquilo, com nível de 13,50 metros. Se chegar a 19 metros iniciamos os alertas.” A equipe se utiliza de pluviometros e réguas instaladas no Rio Taquari e alguns afluentes.
Ele alerta para um possível aumento da quantidade de chuva. “Falam em cem e até 200 milímetros para sábado e domingo. Se chover isso em menos de 48 horas, o risco é grande.” A equipe monitora também outras cidades. Em Vacaria, havia chovido cerca de 50 milímetros até a tarde de ontem. Em Guaporé, 30. “São números que não indicam enchente.”
Principais áreas alagáveis
Lajeado: Bairros Centro, Conservas, Hidráulica, Carneiros e Bom Pastor. Também em áreas de domínio do Daer, como o viaduto sobre a Rua Bento Rosa e o Arroio Engenho, no bairro São Cristóvão;
Cruzeiro do Sul: Bairros Passo de Estrela e Vila Zwirtes. As águas do Rio Taquari alcançam alguns pontos do Glucostark, Vila Célia e Centro, na rua Dom Pedro II, e nas imediações do parque poliesportivo;
Arroio do Meio: Bairros São Caetano, Bela Vista, Navegantes, Centro, e Aimoré, e as localidades de Palmas e de Barra do Forqueta;
Estrela: Bairro Moinhos, Oriental, Indústrias, Boa União, Chacrinha, Arroio do Ouro;
Encantado: Bairros Centro, Navegantes, Jacarezinho, Vila Moça, Porto X, Barra do Jacaré;
Roca Sales: Bairro Centro, Fazenda Lohmann, Arroio Augusta;
Teutônia: Divisa bairros Languiru e Teutônia (várzea), próximo ao Arroio Boa Vista.
