Emprego formal duplica desde 2002

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Emprego formal duplica desde 2002

Em 2002, em sete setores produtivos, eram 31.968 trabalhadores formais. Até julho deste ano, MTE contabiliza 66.830. O crescimento não é maior porque faltam candidatos para preencher as vagas abertas. Na 2ª Feira de Empregos e Capacitação, programada para este sábado, em Lajeado, 40 empresas abrem mais de mil postos de trabalho.

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Vale do Taquari – O operador de grua Pedro Paulo Peres, 23, deixou a mulher e um casal de filhos em Uruguaiana para atuar em uma empreiteira de Lajeado. Há um ano e três meses, veio morar com os irmãos Jorge e Adir, também trabalhadores do setor de construção civil.

Como eles, muitos outros trabalhadores migram para a região em busca de melhores salários e de ascensão profissional. Mesmo com a vinda de pessoas de outras cidades e até países, sobram vagas.

Diante desse contexto, a Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil) promove a 2ª Feira de Empregos e Capacitação. Ao todo, 40 empresas oferecem mais de mil vagas. O evento ocorre no ginásio Nelson Brancher, no Parque Professor Theobaldo Dick, no sábado, das 9h às 16h.

Voltada aos setores industrial, comercial e de serviços, a feira procura aproximar candidatos e organizações. O evento é destinado para pessoas com mais de 16 anos que buscam inserção no mercado de trabalho. Cada candidato poderá se inscrever em até três vagas. A entrada é gratuita.

Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que os três setores foco da promoção da Acil correspondem a 88,2% do total de empregos formais nos 36 municípios da região.

Crescimento de 109% em dez anos

De 2002 até julho deste ano, o Vale teve um incremento de 109% no número de trabalhadores com carteira assinada. Passou dos 31.968 para 66.830. O setor que mais emprega é a indústria. Pelos dados do MTE, são 35.015 trabalhadores formais, seguido pelos serviços (13.041) e comércio (10.948).

As contratações em uma indústria de bebidas de Lajeado revelam incremento de 382,2% nesse período. Dos iniciais 231 funcionários, a empresa passou para 883 colaboradores em todo o estado.

Em Arroio do Meio, uma indústria alimentícia optou por contratar colaboradores residentes na região. A iniciativa visa promover o desenvolvimento econômico por meio da geração de emprego e renda dos trabalhadores do Vale.

A divisão de alimentos da empresa deve chegar a 720 funcionários até o fim do ano. No momento, a fábrica está com 30 novos postos abertos, que serão oferecidos na feira de sábado. Todas as vagas são para o setor operacional da empresa.

A instituição começou a testar a capacidade produtiva da nova fábrica de chocolates. Com um investimento de R$ 180 milhões. A diretoria pretende ter a unidade em pleno funcionamento até o fim de setembro.

Empregos no comércio aumentam 17 vezes

O comércio foi o segmento com maior evolução. Em 2002, eram 649 trabalhadores. Em pouco mais de dez anos, a abertura de novos estabelecimentos em cidades pequenas e o fortalecimento do setor nos cinco maiores municípios resultou em mais 10.299 vagas. Equivalente a um aumento de 17 vezes no total de trabalhadores contratados.

Em uma loja de confecções de Lajeado, no período em análise, houve um crescimento de 10% nas contratações. Conforme o gerente Tiago Müller, a expansão está ligada ao faturamento. “Com mais vendas, a gente contratou mais funcionários.”

Funcionária de uma papelaria há sete anos, Marciane Lenhart, 25, teve facilidade em entrar no mercado de trabalho. Acredita que isso esteja ligado a sua aptidão. “Gosto de lidar com pessoas (sic).” Entre colegas de atividade, percebe o desinteresse da maioria em continuar no comércio. “Muitos só estão preocupados com o salário.”

Em uma rede de lojas especializada em calçados, a gerente Fabiana Knopp também afirma que houve um aumento expressivo no total de novos contratados. Segundo ela, há treinamento interno para reforçar a prática de vendedores experientes e ensinar os novatos. Na loja, todos funcionários são de Lajeado e região.

Mais carteiras assinadas na construção civil

Setor com alto índice de informalidade, a construção civil acompanhou a tendência dos demais setores produtivos. Nestes quase 11 anos, quase três mil trabalhadores tiveram a carteira assinada.

Proprietário de uma construtora, José Zagonel, atribui a esse fato a maior conscientização dos empreendedores sobre os direitos trabalhistas. “O autônomo ficou para obras particulares.”

Seguindo essa tendência, na empresa dele, o número de operários passou de 60 para 200. Muitos funcionários vem de outras cidades e até de outros países. “Nossa região é uma terra de oportunidades.”

Na construtora, são 15 haitianos. Entre eles está Jean Benotti Claude Paul, 19. Com o salário de servente, consegue ajudar com R$ 400 por mês os familiares do Haiti. Apesar das dificuldades de comunicação, encara o desafio de trabalhar no Brasil como uma oportunidade única. “Quero continuar aqui. Viver, trabalhar e aprender.”

O salário maior do que em Uruguaiana foi o fator principal para a mudança do operador de grua Peres. Mesmo com a distância da mulher e dos filhos, aceitou a vaga em Lajeado. A saudade é aliviada uma vez por mês, após viagem de 12 horas. “Essa foi uma oportunidade que não poderia perder.”

De Cachoeira do Sul, Luís Silva, 36, é outro que busca melhores condições salariais no Vale. Há um ano e três meses, atua como servente de pedreiro. Ficou sabendo das oportunidades na região pelo irmão, também contratado pela empresa de Zagonel.

Na cidade natal, a maioria dos trabalhos eram “biscates”. “Não tinha garantias e nem uma renda fixa.” Entre os aspectos positivos da região, cita a hospitalidade das pessoas e a boa relação com os colegas.

Alta rotatividade e inexperiência atrapalham

De acordo com Fabiana, apesar de mais funcionários, o recebimento de currículos para novas vagas diminuiu nos últimos meses. O trabalho no sábado, acredita, afasta os candidatos. As pessoas querem trabalhar de segunda à sexta-feira mesmo ganhando menos, diz.

Para manter os colaboradores na instituição, a indústria de bebidas de Lajeado aposta em programas de qualificação. Conforme a supervisora de desenvolvimento humano, Jardeline Piccinini, essas atividades ajudam a evitar a rotatividade. Em 2012, foram 40 horas dedicadas ao treinamento de cada profissional, conta.

Essa perspectiva atrai jovens que desejam galgar posições no quadro funcional. Mariana Jung, 23, acadêmica de Contabilidade, está há pouco mais de um ano na empresa, onde atua na área fiscal. Diante dessa possibilidade, acredita estar no lugar certo. “Não passa pela minha cabeça trocar de emprego.”

Mesma opinião do supervisor de Manutenção Ramon Anschau, 26. Começou na empresa em 2008, como auxiliar de produção. Depois, passou por duas promoções. Para ele, falta a alguns trabalhadores a análise da possibilidade de realização profissional. Muitos mudam de trabalho com qualquer aumento de salário, sem pesar outros fatores, diz.

“Falta mão de obra técnica dificulta expansão”

Conforme o vice-presidente da Acil, Reni Machado, a carência de qualificação dos trabalhadores se tornou um problema crônico. Com a alta rotatividade, são entraves para o maior desenvolvimento econômico do Vale.

Pesquisa realizada pelo Programa Evoluir, mapeia as áreas com deficiências de profissionais e aponta estratégias para atender o mercado. Na região, relata Machado, a necessidade atinge vários setores, em especial na construção civil, mecânica, instalações elétricas e produção de móveis.

Frente à necessidade de mão de obra com formação técnica, ele enxerga avanços no país. Como exemplo cita a construção do Instituto Técnico Federal em Lajeado.

Acredita que promover a educação profissional do jovem durante o Ensino Médio é uma forma de inseri-los com mais facilidade no mercado de trabalho.

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