Estrela – Por volta da meia-noite e meia de ontem, 16 policiais da Delegacia Estadual do Consumidor (Decon) e inspetores da Polícia Civil de Estrela deflagraram operação conjunta na fábrica de laticínios da Latvida.
Foram apreendidos cerca de mil caixas de leite UHT vencidos que estavam próximos da produção. A suspeita é que a empresa reutilizava o produto para fabricação de derivados. Inquérito foi aberto e diretores da empresa podem ser presos.
A Divisão de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), da Secretaria Estadual da Agricultura (Seapa), também participou da operação, que teve início após denúncia feita a Polícia Civil.
Sete técnicos participaram da averiguação. O órgão emitiu laudo de inadequação física do depósito de produtos. O setor foi interditado ainda na madrugada.
De acordo com o delegado Fernando Soares, responsável pela Decon, que é ligada a Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), o inquérito policial investigará os indícios da reutilização de leite vencido.
Em algumas embalagens, o prazo de validade estava vencido desde maio. “Se confirmado, pediremos a prisão dos diretores por crime hediondo contra a saúde pública.”
Um dos inspetores que participaram da ação confirma que os indicativos são contundentes. “Estavam em sacos de lixo muito próximos da produção.” O delegado também pretende investigar as condições de higiene do local. Segundo ele, alguns setores estavam em “péssimas condições de limpeza.”
Soares diz que a suposta reutilização de produto vencido era feita durante a noite e madrugada, sempre após as 18h. Segundo ele, é nesse horário que o único fiscal da Seapa deixa o local.
“Suspeitamos que parte do líquido era adicionado às embalagens de leite dentro da validade depois de retornar dos postos de venda.” Ainda de acordo com o delegado, eram utilizados mil litros de leite vencido a cada dez mil litros de leite fabricados.
A reportagem tentou contato com os diretores da empresa, mas não houve retorno. Por meio de nota oficial, assinada pelo sócio diretor, Rui Sulzbach, a Latvida esclarece que se manifestará só após ter conhecimento das circunstâncias e do teor dos processos e procedimentos que levaram à interdição do depósito de estocagem.
Dipoa encontra pragas e iscas raticidas
De acordo com o diretor do Departamento de Defesa Agropecuária, Eraldo Leão Marques, foram duas irregularidade encontradas. A primeira delas é caracterizada por “burla à fiscalização”.
Os agentes da Dipoa teriam constatado que a empresa estava reaproveitando produtos retirados do mercado na fabricação de Leite UHT e creme de leite, sem a presença de fiscais.
A outra irregularidade, que levou à interdição do depósito da empresa, se deve às condições de higiene encontradas no local, Fiscais encontraram leite em estado de decomposição, em ambiente com pragas e na presença de iscas raticidas. O relatório deve ser entregue hoje na sede da Dipoa. Ele embasará o processo administrativo e servirá de subsídio para o inquérito policial.
Recorrência de interdições
No dia 8 de maio, outra operação denominada Leite Compen$ado flagrou alguns lotes da empresa contaminados com substância semelhante ao formol. A direção da Latvida sempre negou o fato e apresentou inclusive análises dos mesmos produtos com resultados negativos. No mesmo dia, fiscais da Seapa interditaram a fábrica após diagnosticar problemas de sanidade.
Por cerca um mês a produção foi paralisada por ordem judicial. Na segunda semana de junho, a fabricação dos produtos foi liberada. No entanto, a Latvida ainda não assinou o Termo de Compromisso (TAC) com a Promotoria de Defesa do Consumidor.
Conforme o promotor Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, o TAC contém adequações no controle dos transportadores, inclusão de poço de resfriamento e aferição dos equipamentos do laboratório.
O promotor garante que, caso a empresa se negue a assinar o TAC, será aberta uma ação criminal. Com 12 anos de atuação, a empresa possuía 300 funcionários antes da paralisação e industrializava 300 mil litros de leite por dia. A Latvida ainda é a sexta em arrecadação para o município, com 2,6% do ICMS.
Nota oficial da empresa na íntegra
“Após uma fiscalização realizada na madrugada de hoje, o Cispoa emitiu laudo de inadequação física do depósito de produtos da Latvida. Embora toda a operação industrial esteja apta e em condições técnicas para produzir, o depósito de produtos foi interditado.
A empresa irá manifestar-se após tomar conhecimento das circunstâncias e do inteiro teor dos processos e procedimentos que levou o DIPOA a interditar o seu depósito de estocagem. A Latvida novamente assegura que seus produtos tem qualidade e são produzidos com o rigor das normas que disciplinam a indústria láctea. A empresa já provou que os seus produtos nunca tiveram formaldeído e demonstrará sempre que necessário, que age segundo a lei.
A empresa mais uma vez contesta tal posicionamento do CISPOA porém, seguirá em frente, como vem fazendo desde o início de todo este processo, cumprindo rigorosamente as determinações das autoridades e acreditando numa rápida solução deste impasse”.