Delegacias carecem de reformas e investimentos

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Delegacias carecem de reformas e investimentos

Alguns prédios ficam em áreas alagáveis com estrutura deficiente que dificulta o trabalho

Vale do Taquari – As condições oferecidas pelo estado ao trabalho da Polícia Civil (PC) mostra o abandono enfrentado pelos órgãos de segurança. A precariedade das estruturas fica evidente diante do furto de uma bicicleta de dentro da delegacia de Lajeado.

O veículo havia sido recuperado pela Brigada Militar (BM) dois dias após o registro e estava no depósito com outros produtos apreendidos. O cadeado que dá acesso ao pátio estava trancado. Sem sinais de arrombamento.

O local fica no subsolo próximo do estacionamento e não é coberto. Para entrar, o autor subiu nas vigas expostas e pulou o muro. O delegado Sílvio Huppes instalou inquérito para investigar o caso.

Ao todo, são 19 delegacias no Vale. Destas, oito funcionam em prédios alugados. A escolha dos imóveis parte dos delegados de cada comunidade. Eles informam ao Departamento de Administração Policial (DAP) as necessidades para o atendimento, de reformas, pinturas, materiais e adequações.

Prédio velho e danificado

No segundo maior município do Vale, em Estrela, a DP está em uma área alagável. O prédio antigo tem problemas no telhado, infiltrações nas paredes. Em uma parte anexa, a construção do segundo piso foi abandonada há cerca de três anos.

Em uma sala, carcaças de bicicletas estão misturadas com botijões de gás. Em 2007, uma enchente destruiu milhares de inquéritos policiais. Os papéis foram parar no lixo. Uma servidora diz que os pedidos feito ao estado se sucedem. “São anos sem qualquer melhoria.”

O delegado da cidade, José Romaci Reis, atesta os problemas no local. Segundo ele, todo o telhado está danificado. No subsolo, as frequentes cheias corroeram parte do alicerce e põem em risco a continuação da obra. A situação obrigou Reis a pedir uma nova sede à delegacia.

Como o prédio faz parte do patrimônio do estado, recebeu a autorização para fazer uma permuta. “Não vale a pena reformar. Sairia muito caro. Temos é que trocar de lugar”, frisa Reis.

Conforme o delegado, a maior parte das delegacias da região está em boas condições. Cita como exemplo a troca de sede em Pouso Novo. Antes, a DP ficava em uma casa de madeira.

Na opinião da delegada regional, Elisabete Müller, o furto da bicicleta é pontual, sem relação à estrutura das DPs no Vale. Para ela, o autor estava interessado naquele item em específico porque havia outras apreensões no local. Depois do sumiço do veículo, o depósito foi transferido para outra sala, coberta e fechada.

Máquinas caça-níquel no banheiro

No setor de investigação da DP de Estrela, a falta de local para armazenar itens apreendidos obriga a improvisação. Provas de crimes estão estocadas no banheiro. Máquinas caça-níqueis ficam amontoadas com pneus roubados.

Na sala onde trabalham dois policiais, há produtos entulhados pelas paredes. A sala fica no segundo andar. As infiltrações aumentam a sensação de frio. No forro, foi colocado isopor para tentar climatizar o espaço.

Um dos servidores ironiza: “No inverno é frio como no polo norte. No verão, o calor aqui dentro é insuportável.”

Há cerca de seis anos, quando eram feitas adequações no segundo piso, um bandido entrou na delegacia. A pistola de um policial, junto com munições, coletes à prova de bala e um notebook foram furtados. O computador chegou a ser recuperado. O paradeiro dos demais segue desconhecido.

Alagamentos interferem no trabalho

Em Lajeado, funcionam no mesmo prédio o plantão, a delegacia da mulher, da cidade e a administração regional da PC. O prédio também fica em área alagável. Para a delegada Elisabete, esse é o principal empecilho. “Dificulta o atendimento da população em épocas de enchentes.”

Não há acesso a pessoas em cadeiras de roda. Na entrada, o disjuntor elétrico fica amostra.

De acordo com ela, será feito um levantamento sobre as condições de todas as sedes da PC na região. Segundo Elisabete, problemas nas estruturas das delegacias da região costumam ser corrigidas com agilidade.

Afirma que nenhuma delegacia oferece riscos à saúde dos servidores. “Tínhamos em Bom Retiro do Sul e Pouso Novo, mas alugamos outros prédios.” Segundo Elisabete, o Vale goza de uma realidade diferenciada em relação às demais. “Nos últimos anos melhoramos muito. Temos sedes exemplares, como a de Teutônia.”

Delegacia aguarda investimento do estado

Em Encantado, a sede da DP fica em um prédio antigo. A reforma mais recente ocorreu em 2011. Foi trocado o piso, telhado, o forro e a pintura. Na época, Elisabete Müller era responsável pelo município.

Apesar dos investimentos, o delegado João Antônio Merten Peixoto relata problemas de infiltração. A calha é pequena para o volume de água. Em abril, foi construído um muro lateral, fechando o pátio para estacionamento das viaturas. Agora esperam verba do estado para instalação de um portão automático.

Outra deficiência é a falta de materiais de prevenção contra incêndios e saídas de emergência. Há uma cela para prisão temporária.

Peixoto considera que difícil o estado enviar dinheiro para reformas. “Temos que conseguir mobilização da sociedade pela Consulta Popular.”

Modelo de DP construída pelo povo

A união da comunidade de Teutônia foi essencial para o município ter uma das melhores estruturas de delegacia de polícia do estado. O terreno e o prédio foram cedidos pela administração municipal.

As adaptações, reformas e ampliações foram pagas por meio do Consepro. Os recursos são provenientes de doações da população e do juizado especial criminal.

A nova sede foi inaugurada em abril de 2012 e foi ampliada neste ano. Segundo o delegado Mauro Mallmann, as condições de trabalho mudaram, proporcionando mais segurança. Todas as portas e janelas têm grades e o prédio conta com sistema de alarme e monitoramento eletrônico.

As apreensões não ficam muito tempo na delegacia. Os objetos afora de inquéritos são repassados para instituições, órgãos oficiais e Secretaria de Assistência Social por meio de autorização judicial.

A estrutura atual tem duas celas específicas e apropriadas para o reconhecimento. Seis salas de atendimento, depósito, garagem, cozinha e recepção.

Antes disso, a delegacia ficava instalada em uma sala cedida pela administração municipal, no Centro Administrativo. O espaço era pequeno e não tinha celas adequadas. Inclusive, foram registrada fugas de presos e situações constrangedoras entre vítimas e suspeitos.

“O policial se acostumou e parou de reclamar”

Presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil (Sinpol), Allan Mendonça, o quadro de abandono de algumas delegacias se arrasta há décadas. Com 32 anos de experiência na corporação, relata que nunca houve uma política governamental voltada para construir novas sedes à PC.

Considera o fato de alugar residências para servir como DPs um erro, pois não atende as necessidades para o bom funcionamento dos serviços.

Para ele, o estado autoriza a abertura de novas delegacias para tentar mostrar à sociedade que algo está sendo feito. “Mudam os governadores e o cenário permanece o mesmo.” Como resultado, frisa a insegurança para servidores, população e até suspeitos presos nas celas.

O furto da bicicleta em Lajeado, afirma, demonstra que falta um depósito adequado para a polícia local. Para ele, com a ausência do estado, sobra para as comunidades locais resolver os problemas. “O delegado pede melhorias mas nunca tem verba.”

Na época em que atuou em Novo Hamburgo, lembra da inexistência de espaço para guardar itens apreendidos. Das duas celas de prisões temporárias, uma foi transformada em em depósito. “O policial se acostumou e parou de reclamar.”

Mendonça avalia que os problemas vão além da estrutura. Passam por falta de equipamentos, necessidades de viaturas, coletes e investimento em tecnologia.

Na semana passada, durante a realização da Participação Popular e Cidadã, muitos policiais civis foram às ruas pedir ajuda da população nas demandas da segurança pública. Para o presidente do Sinpol, precisar dos servidores para conseguir melhorias é preocupante. “Mostra um certo desespero, porque parece ser a única forma para a Polícia Civil conseguir verba do estado.”

Segundo ele, mesmo com a elaboração de projetos, enviados tanto para União quanto ao Piratini, o tempo de aprovação é longo. Às vezes, as informações ficam obsoletas. “Um trabalho feito em vão.”

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