Acidentes matam 93 por ano

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Acidentes matam 93 por ano

Os registros nas principais estradas federais, estaduais e municipais da região mataram mais do que os crimes como homicídio e latrocínio. Nos últimos seis anos, 153 pessoas foram assassinadas, enquanto 603 morreram no trânsito.

oktober-2024

Vale do Taquari – É trágico. Apesar do aumento das campanhas de conscientização, dos avanços na lei, do maior rigor das multas e da fiscalização, uma pessoa morre a cada quatro dias vítima de acidentes de trânsito no Vale.

De 2007 até junho deste ano, são 603 histórias de vida encerradas de forma brutal e estúpida. O descumprimento das leis, a imperícia e a imprudência são as causas recorrentes para o massacre do trânsito.

Dados do Detran mostram que em seis anos e meio, 195 pessoas morreram na BR-386. A duplicação, projeto voltado para dar mais segurança aos motoristas, se alonga. A burocracia dificulta o término da obra, orçada em mais de R$ 180 milhões.

Oferecer aos condutores uma pista duplicada não é garantia do fim das tragédias. Motoristas abusam da velocidade e provocam mais acidentes. Como no caso do sábado passado, em acidente na BR-386, próximo do Shopping Lajeado.

Família destruída

Alcoolizado e sem permissão para dirigir, Altair Teixeira Carvalho, atravessou o canteiro central. O Gol, em alta velocidade, atingiu o lado esquerdo superior da Pajero guiada por Lissandro Stroher de Melo, 36.

Ele e o filho Igor, 11, morreram na hora. A mulher de Melo, Janaína, 41, e a filha Larissa, 7, tiveram ferimentos leves e foram encaminhadas ao Hospital Bruno Born (HBB). O motorista causador do acidente fugiu a pé do local. Chovia no momento do acidente. Os policiais encontraram o suspeito com cabelo molhado em casa.

Peças de roupas encharcadas corroboraram à hipótese de participação do homem. Na delegacia, o teste do etilômetro foi feito. O resultado deu positivo para consumo de álcool. O juiz Luís Antônio de Abreu Johnson ordenou a prisão preventiva. A Polícia Civil (PC) tem até segunda-feira para entregar à Justiça o inquérito sobre a ocorrência.

Alta velocidade e morte em duas rodas

No domingo passado, na ERS-130, o motociclista Maicon Fernando Grasel, 20, bateu na traseira de uma Kombi. Morreu no local. Ambos seguiam no sentido Lajeado a Cruzeiro do Sul.

Suspeita-se que o jovem pilotava em alta velocidade. A Kombi fazia a conversão para entrar no bairro das Nações. O motorista, Nilson da Luz, 34, fez o teste do etilômetro que deu negativo para consumo de álcool.

As três vítimas de acidentes fatais do fim de semana passado não entram no levantamento. A atualização dos dados pelo Detran é divulgada com a defasagem de dois meses.

Perigo iminente

As 603 mortes ocorreram em trechos simples, duplicados, em curvas e nos perímetros urbanos das rodovias. Também nas estreitas estradas de chão batido do interior das cidades e nas movimentadas ruas dos centros. Nesses 2.370 dias, 170 casos com mortes foram em vias municipais. Em Lajeado, o número chega a 40.

Mas a estatística está incompleta. O Detran não contabiliza vítimas que morrem após serem levadas ao hospital. Na próxima atualização, Lucas de Lima Ferreira, 12, que ficou 11 dias na UTI, será uma das vítimas fora dos números da autarquia. No dia 27 de julho, ele e o pai, Derci Porto Ferreira, sofreram acidente na BR-386, em Fazenda Vilanova. O condutor morreu na hora.

Maior tragédia em Fazenda Vilanova

Há pouco mais de cinco anos, o Vale vivenciou a maior tragédia no trânsito. Na fria madrugada do dia 22 de julho de 2008, um ônibus da empresa Ouro e Prata e um caminhão da transportadora Giovanella colidiram em cima da ponte sobre o Arroio Concórdia, no quilômetro 371, em Fazenda Vilanova. Onze passageiros e os dois condutores morreram na hora.

Nenhuma vítima era da região. A maioria de cidades como Palmeiras das Missões, Alecrim e Porto Xavier. Dois argentinos estavam no ônibus. Entre os feridos, 15 foram encaminhados para o pronto-socorro de Estrela e sete para o HBB.

Eliseu Melo Martins Junior foi um dos sobreviventes. Na época, tinha 18 anos. Cerca de 15 minutos antes do acidente trocou de poltronas. Pegou uma dupla. Pouco depois das 4h aconteceu o acidente. Os passageiros que estavam ao lado dele, em uma das vagas da qual ocupava morreram.

Lembra do estrondo da colisão. “Abracei o banco da frente e gritei duas vezes meu Deus.” O veículo tombou no lado em que ele estava.

Em poucos instantes, ele saiu do ônibus. Correu pela via para alertar outros motoristas e evitar uma nova batida.

Segundo ele, as ambulâncias não demoraram a chegar. Considera um milagre ter sobrevivido. “Se eu não tivesse trocado de lugar, teria morrido. A poltrona em que eu estava ficou toda esmagada. Hoje faço aniversário duas vezes por ano.”

“Perder um filho é uma dor eterna”

Em 29 de abril de 2007, o filho de Guerta e de Décio Klein, 66, Éder, foi atropelado nas imediações do trevo de acesso a Marques de Souza. Na época, ele estava com 19 anos. Voltada de bicicleta após acompanhar corridas de cavalo.

Quando tentava atravessar a ponte, um caminhão forçou a ultrapassagem. O outro, que vinha no mesmo sentido, atingiu o jovem que morreu no local. O motorista fugiu sem prestar socorro.

A família, moradora de Picada Essig, Travesseiro, tentam superar o trauma. “Foi a imprudência do motorista que acabou na morte do meu filho.”

Adotivo, Éder foi para a casa dos Klein com 15 dias. Sonhava em seguir como agricultor ao lado da família. “Na sexta-feira, iniciamos a construção do chiqueirão e no domingo ele morreu. É uma dor eterna. Nada vai preencher o vazio que esta tragédia nos causou”, relembra Guerta.

Três anos após o acidente, o casal decidiu tentar uma nova adoção. Os irmãos Luana, então com 17 anos, e Wilier, de 15, ajudaram os Klein a tentar superar a dor da perda de Éder. “Voltamos a ser uma família quando eles nos chamaram de pai e mãe”, emociona-se Décio.

O patriarca ficou com trauma de dirigir na rodovia. Para ele, a precária situação do asfalto, os buracos, desníveis, falta de sinalização e a imprudência são os motivos de tantas tragédias no trânsito. Nunca descobriram quem era o motorista da carreta.

Mortes em todas as cidades

Nenhum município escapou da degradante estatística. Em três casos – Relvado, Sério e Capitão. apenas um óbito foi registrado. A recordista foi Lajeado, com 138. Cidades menores acabaram se destacando por culpa das rodovias que as circundam. É o caso de Fazenda Vilanova, com 3,6 mil habitantes, contabiliza 40 mortos nesses seis anos e meio.

Neste ano, no dia 28 de maio, 27 horas após a liberação do trânsito sobre o viaduto da BR-386 em Fazenda Vilanova. Eram 18h quando Fernando Pereira Rodrigues, 37, tentava atravessar a rodovia. Ele estava em uma Yamaha Fazer.

Um ônibus que seguia no sentido interior capital atingiu o motociclista. A mulher de Rodrigues, Cibele evita falar no assunto. No serviço não comenta com os colegas nada sobre o acidente. “Muito difícil sair dessa. Estou abalada. Não seio o que fazer.”

“A formação do condutor é deficiente”

Para o chefe operacional da 4ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (DPRF), Leandro Wachholz, é necessário alterações na lei e no treinamento dos novos motoristas. Considera insuficiente o modelo atual, em especial nas habilitações para motocicletas e motonetas. “Hoje, com 18 anos, pode-se comprar um veículo potente e trafegar por todo o território nacional. A formação do condutor é deficiente.”

A sugestão de Wachholz é usar um método gradual, como é feito em alguns entes federativos dos Estados Unidos.

Outras duas medidas, na opinião dele, podem ajudar a estancar o aumento dos índices de violência no trânsito. Ambas ligadas ao comportamento dos condutores: educação e punições mais severas.

De acordo com Wachholz, nos 250 quilômetros entre Canoas e Victor Graeff, 52% das mortes foram de colisões frontais. Indicativo de ultrapassagens perigosas e excesso de velocidade. Aumentar o preço das multas, afirma, seria uma forma de coibir este tipo de infração. Pelas estatísticas da 4ªDPRF, 76% dos acidentes estão relacionados aos dois fatores.

As condições precárias de estradas, sinalização e falta de infraestrutura, costumam ser as reclamações mais comuns dos motoristas. Para o policial rodoviário, esses fatores estão interligados, mas não são preponderantes.

A regra geral, declara, estão associadas a erros humanos. A negligência, imprudência e, em alguns casos, a imperícia. “Os motoristas estão alheios à realidade. Como se nunca fosse acontecer com eles.”

Na BR-386, a PRF registrou até o fim de abril, 28.744 veículos acima da velocidade. Foram 391 acidentes, com 182 feridos e 17 mortos.

Principais causas

A maioria dos acidentes é resultado da imprudência, negligência e imperícia dos motoristas. Tais como:

– Ultrapassagens perigosas

– Excesso de velocidade

– Falta do uso do cinto de segurança

– Bebida e direção

– Desatenção (uso do celular ao volante)

– Deixar de ligar as setas em conversões e trocas de pista

– Falta de manutenção do veículo

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