Encantado – Três pessoas morreram desde janeiro de 2011 na pequena extensão urbana da ERS 129, entre o principal trevo de acesso ao município e o posto do Peteba. A grande quantidade de acessos secundários espraiados pela rodovia é o principal risco.
São 55 em 3,2 quilômetros, num trecho onde transitam em média 12 mil veículos por dia. Projetos de melhorias seguem engavetados, e imprudência de motoristas contribui para insegurança do trecho.
Poucos minutos bastam para flagrar dezenas de imprudências. É comum avistar veículos transitando na contramão pelo acostamento. O excessivo número de ruas laterais e acessos colabora para a falta de respeito às leis de trânsito. Mesmo sendo proibida, a travessia da rodovia em trechos sinalizados com linha dupla contínua é corriqueira.
Na extensão de 3,7 quilômetros existem três postos de combustível, dois hoteis e mais de duas dezenas de empresas instaladas às margens da rodovia. Também há oficinas, supermercados e comércio em geral. Centenas de moradores vivem próximos da pista. Em muitos casos, a única saída de algumas residências é o acostamento da ERS.
Entradas improvisadas para veículos e motocicletas surgem entre as macegas que crescem ao lado da rodovia. Concessionárias de automóveis utilizam áreas próximas dos acostamentos para exposição de produtos.
Há acessos secundários inclusive junto aos trevos de acesso. Na entrada principal do município, por exemplo, existem outras duas entradas de residências.
Em três pontos do trecho urbano, em lados distintos da rodovia, há acessos e saídas de veículos mais extensos. Juntos, compreendem quase um quilômetro da margem da rodovia. De todos os lados surgem veículos cruzando a rodovia.
Em meio a eles, centenas de pedestres e ciclistas transitam pelos acostamentos e pelas improvisadas ruas laterais. “Não tenho outro caminho para ir ao trabalho”, lamenta Tereza Bozzeti, moradora da localidade de Jacarezinho.
Apesar da situação crítica do trecho, não houve mortes neste ano. Foram 14 acidentes atendidos pela Polícia Rodoviária Estadual (PRE), com seis pessoas feridas. Os números são baixos se comparados a anos anteriores.
Em 2011, foram pelo menos 40 ocorrências com duas mortes e 23 feridos. “Pelas imprudências cometidas por motoristas foram poucos acidentes em 2013”, atesta o sargento Edson Luiz Koslowski, comandante da PRE de Encantado.
Mortes atestam perigo do trecho
o fim do ano passado, a última morte registrada no trecho. Por volta de 11h do dia 15 de dezembro, Diego Bozetto, 19, tentou cruzar a rodovia próximo do trevo de acesso do município. Ela vinha da localidade de Santa Clara. A motocicleta foi atingida por um automóvel Pólo, que trafegava no sentido Encantado-Lajeado.
Com a pancada, a motocicleta de Bozetto foi arrastada por cerca de 20 metros. O condutor do automóvel conseguiu manter o controle do veículo e parou para prestar socorro. Ele saiu ileso do acidente.
A ambulância da Samu foi chamada, mas se envolveu em acidente na esquina das ruas Sete de Setembro e Tiradentes, área central do município. Populares levaram o jovem em uma caminhonete S10 até o pronto-socorro. Ele chegou morto ao Hospital Santa Teresinha.
No dia 15 de fevereiro de 2011, uma colisão entre duas caminhonetes – no mesmo local – matou o empresário encantadense Ademir Dalprá, 60. Ele trafegava com uma Montana pela rodovia, no sentido Encantado-Lajeado. Um pouco depois do trevo de acesso ao município, ele foi para o acostamento para realizar conversão à esquerda e quando voltou à pista, foi atingido por uma F-350 com placa de Pinhais, no Paraná.
Dalprá ficou preso nas ferragens. Chegou a ser encaminhado ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos e morreu antes de ser atendido. O motorista da F-350 saiu ileso do acidente.
A última tragédia registrada na rodovia em Encantado ocorreu fora do trecho citado, mas comprova o risco da excessiva quantidade de acessos. Kátia Chaiane de Freitas, de 21 anos, morreu numa noite de domingo.
Estava na carona de uma motocicleta, quando um veículo Gol saiu de uma rua lateral da rodovia, próximo do quilômetro 74. O carro atingiu em cheio a moto, derrubando os dois tripulantes. Kátia não resistiu a pancada e morreu antes do atendimento.
Projeto de duplicação segue no papel
Em fevereiro de 2011 foi realizado um manifesto por populares. A rodovia permaneceu interditada por uma hora. Desde então, nenhum investimento foi aplicado no local.
Em agosto de 2012, a Câmara da Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT) firmou convênio com sete cidades lindeiras à rodovia para elaborar o projeto de duplicação das ERS 130 e 129, entre Venâncio Aires e Muçum. O trecho possui 70,3 quilômetros.
Venâncio Aires, Mato Leitão, Cruzeiro do Sul, Lajeado, Arroio do Meio, Encantado e Muçum vão custear o estudos prévio de Viabilidade Técnica, Economica e Ambiental, e o Relatório Técnico Ambiental.
Os dois projetos custarão R$ 150 mil e devem ficar pronto em quatro meses. O contrato entre a CIC-VT e a empresa STE será assinado nesta quinta-feira. “É uma exigência do Daer para projetos viários. Se aprovarem, o próximo passo do Governo será licitar o projeto executivo”, afirma o presidente da entidade, Oreno Ardêmio Heineck.
Pelo acordo firmado com a Secretaria Estadual de Infraestrutura, o estado ficará responsável por custear a obra, estimada em mais de R$ 300 milhões. Para Heineck, é preciso analisar o possível aumento do fluxo de veículos com o advento de novas empresas e o crescimento de outras já estabelecidas. A Univates também é levada em conta. À noite, pelo menos quatro mil estudantes utilizam a rodovia.
O que dizem as autoridades
Edson Luiz Koslowski, comandante da PRE de Encantado
“O retorno no trecho só é permitido em locais sinalizados, onde há trevos, e onde a ultrapassagem é permitida. Nos demais pontos, os motoristas estão descumprindo a lei ao cruzarem a rodovia. Mas é difícil flagrar. Quando estamos no trecho fiscalizando, todos respeitam. Basta a viatura sair e as imprudências voltam a ocorrer. Pelo alto número de infrações cometidas neste pequeno trecho, posso afirmar que o número de acidentes foi baixo. Ultrapassagens proibidas são os principais erros dos motoristas. Acho que o ponto mais perigoso fica no quilômetro 70, na divisa do bairro Santa Clara. Há muitos “pontos cegos” e a travessia é muito arriscada.”
Jonas Calvi, vereador e presidente do Legislativo Municipal
“Hoje vamos até as sedes do Daer e da Secretaria Estadual de Infraestrutura pleitear novamente a instalação de uma lombada eletrônica no principal trevo de acesso ao município. Queremos agilidade na reformulação do trevo do Posto do Peteba. Há muitos acessos naquele local. São entradas para bairros, localidades, empresas. Considero um ponto complexo da rodovia. Já existe um projeto junto ao Daer para reformular o trecho, ele prevê o fechamento de alguns acessos secundários.”
Hildo Mourão, superintendente regional do Daer
“O trecho é de responsabilidade da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). Desconheço o projeto de reformulação do trecho, que prevê fechamento dos acessos secundários. Não posso garantir, no momento, se ele existe ou não. O que posso informar é que o projeto de para readequar o trevo do Posto Peteba, que dá acesso a RS-332. Será construída uma rótula naquele local e já foi autorizada a ordem de reinício do projeto. No entanto, não posso precisar um prazo para o início e o fim dos trabalhos.
Administração municipal
Por meio da Assessoria de Comunicação, o Executivo informa que pleiteia a construção de trevo de acesso para o Vale dos Pinheiros; instalação de redutores de velocidade próximo do acesso do bairro Santa Clara (principal entrada do município); construção de rótulas nos trevos de acesso da Santa Clara e Peteba; e abertura e pavimentação de rua lateral para acessar bairro Santa Clara.
Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR)
Não respondeu às questões até o fechamento dessa edição.