Lajeado – Transformar a criatividade em atrativo turístico, ocupar o espaço público com arte e fazer da cultura instrumento de educação. As propostas da administração municipal são audaciosas e procuram reestruturar as atividades do setor.
Nas paradas, enquanto trabalhadores aguardam o ônibus conhecerão um pouco da música lírica. Nos semáforos, malabaristas terão o compromisso de fazer os pedestres atravessarem pela faixa. Aos domingos, a Casa de Cultura estará aberta à população.
O programa, lançado nessa sexta-feira, estipula atrações permanentes dez meses por ano. Um será para pré-produção e outro para avaliação dos resultados.
A ideia surgiu após levantamento sobre programas desenvolvidos na região, a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secultur) montou um plano com três eixos: formação dos artistas, calendário de eventos e a criação de sistema de indicadores culturais.
Conforme o secretário Eduardo Müller, em meio a esses pontos, destaca-se o financiamento municipal à cultura. “Por lei, queremos gerar emprego e renda a toda cadeia.” A Secultur proporcionará aos artistas a elaboração de um plano de carreira.
Uma equipe técnica, formada por um coordenador, contador, assessoria de imprensa, curador, diretor, produtores artístico, musical e Executivo contribuem na formação. Para Müller, esse planejamento oferece possibilidade de sustento aos artistas.
O levantamento faz uma análise de toda a estrutura para o artista: a condição financeira, quanto precisa para se manter e os gastos por apresentação.
Segundo Müller, o plano apresenta alternativas como patrocínios de empresas, que vão desde dinheiro até ajuda com figurinos ou combustível. “Pode reduzir gastos e aumentar o lucro.”
Um dos beneficiados é Lucas Brolese. Músico há 15 anos, embarca para turnê pela Europa com outros dois artistas da região. Serão 20 dias pelo Vale dos Vinhedos, entre França, Itália, Espanha e Portugal.
De acordo ele, as leis de incentivo à cultura são ferramentas importantes para artistas profissionais. Pretende conhecer mais sobre as possibilidades de utilizar o recurso para facilitar o desenvolvimento da carreira. Para Brolese, o trabalho dos artistas precisa ser mais valorizado.
Chamado de Roteiro das Artes, o projeto almeja remunerar 70% dos artistas até o fim de 2013. Essa proposta terá ainda o Roteiro de Aventura. Visitantes sairão da Casa de Cultura para fazer trilhas e esportes radicais no município. Em pontos de encontro, artistas farão apresentações. As atividades serão gratuitas.
Música para acordar a cidade
Um piano na rua, acompanhado por violinos, violoncelos, flautas. O que parece inusitado ocorrerá com frequência nas ruas de Lajeado. Entre às 6h30min, até as 7h30min, integrantes da Oclaje acordarão a cidade.
A exemplo de cidades, como Munique, Tóquio, Londres, Nova Iorque e São Paulo, a música erudita estará ao alcance do grande público. Essas apresentações contribuem para a difusão do estilo, opina Rui Griensang, 52. Violinista desde os 14 anos, afirma ser difícil viver só da arte. Segundo ele, por falta de incentivo muitos migram para outras áreas, afastando novos talentos.
Griensang morou na Alemanha por mais de um ano. Notou diferenças na realidade vivida por artistas e no tratamento recebido por esses profissionais. De acordo com ele era comum músicos de alto nível nas ruas. “Por aqui esse trabalho não é reconhecido, as pessoas veem o artista como alguém que precisa de ajuda.”
Na tarde de sexta-feira, percorreu duas quadras da Rua Júlio de Castilhos, entoando notas do instrumento. Pessoas olhavam com surpresa, lojistas e clientes saíram às calçadas para acompanhar a apresentação.
Como professor de violino e flauta, atua há 15 anos. Entre os alunos, está o lajeadense Samuel Rockembach,15. No caso do estudante o contato com a música foi um processo natural.
O contato com a música clássica foi motivado pela mãe. Além do violino, domina a flauta e o violão. Cético, comenta que oferecer apresentações artísticas nas ruas será insuficiente para gerar resultados no cotidiano das pessoas.
Arte para educar pedestres e motoristas
Artista de rua, Daijanelz Sanchez, o Dinho, faz malabarismo há um ano. Como um nômade, transitou por diversas cidades. Esteve inclusive no nordeste. Desde abril está em Lajeado. Agora, integra a equipe da Secultur.
Ele receberá um kit com o claves, aros e bolas para fazer apresentações e oficinas de arte circense. As intervenções serão para conscientizar motoristas a dar preferência aos pedestres que usarem as faixas de segurança. Durante o projeto ele receberá uma ajuda de custo por mês do governo.
A boa relação e o contato frequente com motoristas serão facilitadores para os trabalhos de Sanchez. Acostumado a se apresentar nos semáforos das ruas de maior fluxo de veículos ele comemora a chance de interagir mais com os condutores.
As atividades começam neste mês. Na agenda de Dinho, também estão apresentações na Turisvales.Natural de Porto Alegre, passou por experiências dramáticas. Sem saber o que teria para comer ou onde poderia dormir. Agora, comemora a oportunidade. O reconhecimento do poder público lhe emociona. “Para mim é excelente, nunca tinha sido valorizado assim.”
Nova Casa de Cultura
Além de abrir aos domingos, a partir do dia 18 de agosto, o espaço será remodelado. Na estrutura não se pode mexer, pois é um prédio tombado. A ideia é proporcionar acesso para deficientes físicos. “Percebemos que em 20 anos, nenhuma pessoa em cadeira de rodas entrou no local”, conta Müller.
Outros dez espaços de arte ficarão abertos ao público na Casa de Cultura. Entre eles a Acadêmia Literária do Vale do Taquari (Alivat). O Museu Bruno Born também será reestruturado. Foram contratados um historiador e um museólogo para ordenar peças, colocá-las em ordem cronológica.
No espaço, haverá salas para cursos de percussão, aulas de capoeira, teatro, sala de cinema para exibição de filmes com ligação à cultura regional.
Lajeado sedia encontro estadual
O governo do estado publicou no Diário Oficial a realização da 3ª Conferência Estadual de Cultura. O evento ocorre de 30 de setembro até 2 de outubro. O tema será “Uma Política de Estado para a Cultura: Desafios do Sistema Nacional e Estadual de Cultura”.
Os objetivos da conferência incluem propor estratégias de aprimoramento da articulação e cooperação entre os entes federativos e a sociedade civil, povos indígenas e povos e comunidades tradicionais que dinamizem os sistemas de participação e controle social na gestão das políticas públicas de cultura para implementação e consolidação dos Sistemas Nacional, Estadual, Municipais e Setoriais de cultura. O encontro visa debater experiências de projetos municipais.
