Lajeado – Nos primeiros sete meses de 2013, o número de solicitações para novas obras de construção civil foi 295 menor em relação ao mesmo período deste ano. A mudança era aguardada pela maioria dos empresários do ramo, após a ascensão do setor registrada nos últimos anos. Com o desaceleramento da atividade econômica na cidade, expectativa é que cerca de 80% dos construtores registrados na prefeitura deixem o mercado.
A queda é mais acentuada se comparada aos números de 2011. Naquele ano, foram 1.071 pedidos de janeiro a julho, contra 645 no mesmo período de 2013. Leis mais restritas para construtoras, novas normas regulativas e o saturamento da demanda de clientes são algumas causas apontadas para a redução no número de novas construções. A procura para compra e venda de imóveis diminui em alguns empreendimentos.
Para o empresário do setor, André Kieling, a diminuição dos pedidos de obras é um reflexo do atual momento econômico. É uma retração natural do mercado. Os últimos três anos foram atípicos, e agora chegamos no limite, comenta. Segundo ele, o mercado precisa de tempo para consumir tudo que foi construído nesses anos.
Conforme Kieling, as mudanças podem diminuir os custos da mão de obra. “É a lei de oferta e procura. Com menos obras, os profissionais terão que baixar os preços.” Um pedreiro autônomo chega a cobrar até R$ 15 por hora.
Ele não crê na diminuição dos valores dos imoveis. Segundo o empresário, novas normas, leis sociais e terrenos mais caros inviabilizam a redução dos preços para o consumidor. Kieling aposta na qualificação dos produtos entregues pelas construtoras que seguirão no mercado.
O construtor e empresário, Eduardo Goldmeier, acredita ser inviável a redução dos custos da mão de obra, mas compactua com a opinião de que os preços de imóveis não sofrerão quedas. “Nada barateará. Acredito que a grande mudança será a volta dos chamados negócios de ocasião”. Ele lembra que a mesma mudança registrada no setor lajeadense ocorreu em outras cidades, como Canela, Caxias do Sul e Gramado.
“Só 20% seguirá no mercado”
De acordo com a Secretaria da Fazenda, hoje existem 323 construtores registrados na Prefeitura de Lajeado. O número é considerado alto por empresários do setor. Até junho deste ano, 421 processos haviam sido liberados pela Secretaria de Planejamento, além dos 726 habite-se. No total, foram mais de 220 mil metros quadrados de novas obras.
Kieling acredita que só 20% seguirão no mercado após o baque do setor. Classifica muitos como “aventureiros e construtores ocasionais”. “Quando o mercado normalizar, apenas as empresas consolidadas devem permanecer.” O empresário critica a facilidade com que novos empreendedores entraram no ramo. “Hoje qualquer um constrói, mas a qualidade fica prejudicada.”
Para o empresário, a possível saída de alguns construtores do mercado resultará em obras de melhor qualidade. “Esses aventureiros se tornam construtores do dia para a noite. E assim, o resultado carece de melhor qualidade.”
Segundo ele, problemas envolvendo novos construtores afetaram a credibilidade da classe. Em 2012, conforme o Procon, foram registrados seis casos, nos quais o cliente não recebeu o imóvel comprado dentro do prazo. “E muitos ainda sustentam a mão de obra fria.”
Segundo Goldmeier, só ficarão no mercado as empresas que se capitalizaram. “Sem a venda, não tem o lucro. O pequeno construtor não terá condições de construir o próximo empreendimento.” Ele critica a atuação de alguns novos construtores, principalmente em relação à contratação de mão de obra. “Eles abastecem o mercado informal. Isso nos prejudica, pois o formal acaba ficando mais caro.”
Investidores devem migrar de setor
A entrada de investidores no ramo da construção civil teve seu auge entre 2007 e 2011. Agora, de acordo com empresários do setor, esses profissionais devem migrar de área em função da demanda saturada. “O mercado está faceiro porque tem venda. Mas, quando essa “faceirice” acabar, o investidor vai procurar outro negócio”, avalia um construtor de Estrela.
Segundo empresários, a confiança do investidor está diminuindo. Muitos estão com receio de seguir apostando na construção civil, e os negócios tendem, cada vez mais, a serem tratados diretamente entre o cliente e o construtor. “A compra e venda estão deixando de ser um bom investimento para esses profissionais e eles buscam outros mercados”, confirma Goldmeier.
Venda de imóveis reduz
Os negócios imobiliários sentem a mudança do setor. A redução nas vendas de novos imóveis é uma realidade. Segundo o corretor, Alex Schmitt, a insegurança e a falta de instabilidade são algumas causas para a diminuição dos negócios. “Percebo que muitos estão com medo de assumir compromissos longos. Há um receio em torno da volta da inflação.” De acordo com Schmitt, a queda ocorre desde novembro de 2012.
Saiba mais
O setor da construção civil cresceu de forma ininterrupta em todo o país, principalmente entre os anos de 2007 e 2011. De acordo com a Pesquisa Anual da Indústria da Construção (Paic), realizada pelo IBGE, a ascensão da atividade foi resultado da ampla oferta de financiamento para habitação, do crescimento do emprego e da renda familiar, da liberação de recursos para infraestrutura pelo BNDES e ainda da manutenção da desoneração do IPI de insumos da construção.
Nesses quatro anos, o valor das incorporações, obras e serviços aumentou de R$ 130 bilhões para R$ 286,5 bilhões em todo o país. No mesmo período, o número de empresas ativas do setor passou de 52,9 mil para 92,7 mil e o pessoal contratado, de 1,57 milhão para 2,66 milhões. Os salários e retiradas cresceram de R$ 19,3 bilhões para R$ 49,8 bilhões. Entre os investimentos realizados, terrenos e edificações ampliaram a participação de 18,6% para 24,2%.