Brincadeira quase termina em tragédia

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Brincadeira quase termina em tragédia

Para assustar professor, jovens simulam assalto. BM é chamada e baleia um menor

Teutônia – Policiais da Brigada Militar (BM) serão investigados após terem baleado um jovem durante ocorrência no bairro Canabarro. O fato aconteceu na noite dessa quarta-feira. Três menores portavam duas pistolas de pressão e uma de plástico, similar a um revólver calibre 38.

Eles pretendiam assustar o professor de artes marciais. Os adolescentes tem 15, 16 e 17 anos. Um morador viu a movimentação e ligou para o 190. Em seguida, dois PMs chegaram ao local e confirmaram o que parecia ser um assalto em andamento.

Pelo relato dos policiais, ao ordenar aos suspeitos que largassem as armas, não foram obedecidos. Dois disparos de alerta foram disparados. Um para cima outro para baixo.

Os adolescentes correram. Um deles, o de 16 anos, ao tentar fugir quando foi atingido por um estilhaço na cintura. O disparo partiu de uma espingarda calibre 12. Ele foi socorrido pelo pai do amigo.

Os pais dos menores sabiam da brincadeira armada. Segundo a mãe do jovem, ao perceber a ação, ele largou a arma no chão, nos pés do instrutor e correu para dentro da casa do amigo. Ao entrar, sentiu o sangue.

O rapaz foi levado para o Hospital Ouro Branco. Teve perfuração no rim e no intestino. Passou por cirurgia e está fora de perigo. O Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) abriu inquérito policial militar. A Polícia Civil também investiga se houve ou não excesso por parte dos agentes.

Família critica ação da BM

A mãe do jovem ferido não concorda com a atitude dos policiais militares. Ela pretende ingressar na Justiça.“Não é porque somos pobres, que somos qualquer um.” Diz que os policiais chegaram atirando.

Um dos adolescentes envolvidos declara que eles não estavam usando toucas para esconder o rosto. O capuz do casaco, afirma, foi utilizado para cobrir a cabeça devido ao frio. Sobre as armas, elas teriam sido compradas há anos. Os três esperavam o professor de capoeira para um churrasco.

Os envolvidos questionam a forma com que a viatura se aproximou. Segundo eles, as luzes estavam apagadas e o grupo não viu a movimentação. Só perceberam quando um dos brigadianos desceu do carro apontando uma arma. De acordo com o adolescente, não havia como identificar que eram policiais.

“Vamos investigar de forma serena mas firme”

Em um primeiro momento, o comandante do CRPO, coronel Antônio Scussel, avalia que os policiais seguiram as regras técnicas. Para ele, o cenário era de três pessoas armadas, à noite, em um lugar mal iluminado para atender um crime de roubo. “A BM não se prepara para assaltos de brincadeira.”

Na noite da ação, seis pessoas prestaram depoimento. Dois menores, familiares e os dois policiais. No relato, os adolescentes teriam admitidos que não largaram as armas. “Vamos investigar de forma serena mas firme.” O rapaz ferido deve ser ouvido pela BM na segunda-feira.

Com 31 anos de corporação, nunca tinha presenciado um fato como esse. “Brincar de assalto, no bairro mais violento de Teutônia, é inacreditável.”

Para o coronel, o fato de um fragmento ter atingido o jovem demonstra que o policial mirou ao lado, tentando evitar atingir o suspeito em um ponto vital. “Se pegasse em cheio seria fatal.” As armas em posse dos jovens foram apreendidas. Segundo Scussel, pelo peso, dimensões, as pistolas pareciam igual a uma verdadeira.

Sobre o fato de a viatura ter se aproximado com as luzes desligadas, afirma que isso é de praxe. Em uma ocorrência em andamento, diz, a polícia chega para o confronto. “Temos o elemento surpresa para fazer o flagrante.”

Segundo o comandante, o sargento que efetuou os disparos é um policial preparado, promovido por ato de bravura depois de ter salvado três idosos de um incêndio. “Ambos são treinados, integrantes de pelotão de operações especiais.”

PC não indiciará familiares

Conforme o delegado da PC de Teutônia, Mauro José Barcellos Mallmann, a brincadeira foi incorreta, algo inconsequente, mas sem intuito de praticar um crime. Para ele, isso retira a possibilidade de indiciamento dos pais.

Sobre as pistolas de pressão e a arma de brinquedo, avalia ser difícil chegar ao comerciante. De acordo com Mallmann, os próximos passos da investigação é pegar a cópia da ligação ao 190. Também será feita uma perícia nas armas dos policiais. As provas serão encaminhadas ao Ministério Público (MP).

Por lei, comprar, vender, fabricar ou portar réplicas e brinquedos, mesmo de plástico, similar a armamento é proibido. Armas de pressão para práticas esportivas e treinamento podem ser compradas por maiores de 18 anos em lojas autorizadas.

MP rechaça brincadeiras com armas

Promotor da Infância e Juventude do MP de Lajeado, Sérgio Diefenbach, avalia dificuldade em analisar o fato de Teutônia. Para ele, é necessária uma análise minuciosa sobre o caso, mas acredita ser difícil responsabilizar os pais.

Segundo ele, a orientação no âmbito familiar é evitar brincadeiras com uso de armas por estimular a violência.

Entenda o caso

1. Após receber ligação pelo 190, uma viatura com dois policiais se dirigiu ao bairro Canabarro. Se depararam com três suspeitos armados com capuz na cabeça, manta no rosto, abordando um homem.

2. Os policiais ordenaram aos suspeitos que largassem as armas. Sem reação, um dos agentes disparou dois tiros, um ao alto e outro ao chão. Os três adolescentes correram.

3. Ao tentar fugir, o jovem de 16 anos apontou, involuntariamente, para o policial, que reagiu com um disparo, que atingiu na altura da cintura.

4. O adolescente foi socorrido e encaminhado ao Hospital Ouro Branco por um terceiro policial, à paisana, morador vizinho.

Gravação da chamada recebida pela BM na noite de quarta-feira, por volta das 21h

Policial:

Brigada as ordens.

Informante:

Tem um “cara” com uma 12 e outro com uma arma. Eles estão de capuz. Na entrada após a 20 de maio, naquela entrada pequeninha, que vai para… Meu Deus… que vai para a mecânica do Bastião […] Os caras, tem dois, do lado tem um encostado em uma grade.

Policial:

[…] perto do bar do Nunes?

Informante:

Como é o nome da rua… me fugiu.

Policial:

É lá no final da 20 de maio?

Informante:

Não. Após a 20 de maio. Quando vem pela Carlos Arnt, passa a 20 de maio e pega à esquerda, ligeirinho porque os dois estão lá. Um de capuz preto e outro com uma toca.

Policial:

Eles estão em uma casa aí?

Informante:

Eles estão na rua, um em cada casa. Tem que ser muito rápido.

Policial:

Pode deixar.

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