Lajeado – Cerca de 40 médicos realizaram passeatas na noite de ontem. O grupo se reuniu em frente do pronto-socorro do Hospital Bruno Born (HBB). Eram 18h30min. Escreveram alguns cartazes e saíram em caminhada pela Av. Benjamin Constant.
Bloquearam uma via. Nenhuma viatura da Brigada Militar ou do Departamento Municipal de Trânsito acompanharam a movimentação. A caminhada se estendeu até o entroncamento com a Av. Senador Alberto Pasqualini e depois desceu pela rua Júlio de Castilhos.
A intenção era mobilizar e chamar a atenção da população para os poucos investimentos na saúde pública. Um dos tema é a obrigação de médicos do exterior prestarem prova de aptidão para exercer a função no país.
Essa proposta do governo federal visa suprir a necessidade de municípios do interior que enfrentam dificuldade em contratar esses profissionais para atender em postos de saúde. Para o delegado do conselho regional de Medicina, Fernando Bertoglio, isso não resolve o problema. “Precisamos melhorar a estrutura, ter mais leitos e hospitais.”
Segundo ele, há problemas na lei. “Nossa profissão não é regulamentada.” Os médicos pedem melhores condições de trabalho, plano de carreira, pagamento do Fundo de Garantia e a realização de concursos públicos para o preenchimento de vagas no interior.
A decisão exposta pela presidente Dilma Rousseff, em rede nacional, desagradou a classe. O médico Wilson Dewes ironiza: “É o burro solene. Usa de grande alarde para falar que resolverá o caso da saúde sem conhecer quais são os problemas reais.”
Organizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), as manifestações ocorreram em várias cidades do país. Estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) estipula que para cada mil pessoas é preciso ter um médico.
Conforme o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), cerca de 25,5 mil profissionais exercem a atividade no estado, 17 mil são especialistas e pouco mais de oito mil são clínicos gerais, principal necessidade de mão de obra nos postos de saúde do interior. Em Porto Alegre, há 12 mil médicos, 48% do total.
Contratos emergenciais e calotes
Os poucos concursos públicos para vagas nos municípios são um dos problemas enumerados pelos manifestantes. Na maioria dos casos, segundo a médica Suzana Borba, são feitos contratos emergenciais, sem garantias de continuidade. “Tem casos de colegas que investiram para trabalhar em determinado município, receberam dois meses pelo serviço e tiveram de ir embora.”
A dermatologista Mercedes Rubim é mais enfática: “Casos de calote dos prefeitos. Os municípios oferecem altos salários, mas depois não conseguem cumprir.” Conforme o delegado do Cremers, esse é um problema visto em diversos estados do país. Para Bertoglio, para determinação de médicos no interior, é preciso criar um concurso estadual, como é feito com juízes e promotores.
Saiba mais
Pesquisa do Datafolha mostrou que 48% dos brasileiros apontam a saúde como principal problema na gestão de Dilma Rousseff. A insatisfação cresce e virou um dos focos dos protestos que tomaram as ruas nas últimas semanas em todo o país.
Para garantir assistência adequada e que é direito da população, o movimento médico quer a aprovação urgente da PEC 454 que cria a carreira de estado para a categoria (semelhante a de juízes e promotores), do projeto de iniciativa popular “Saúde + 10”, que destina 10% da receita da União para o SUS, e exigência de que médicos vindos do Exterior sejam aprovados no exame Revalida para atuar no Brasil.