Lajeado – O número de manifestantes presentes na sessão da câmara de vereadores ficou abaixo do esperado. Eram aguardados cerca de 700. Por conta disso a sessão foi transferida para o Ginásio Claudião na noite dessa terça-feira.
Pouco mais de 50 pessoas compareceram. Apesar da timidez do clamor público, uma carta com 22 reivindicações foi entregue aos parlamentares. Protestantes aguardam respostas individuais das sugestões e queixas apresentadas.
No texto da carta, algumas reivindicações comuns aos manifestos registrados em todo o país. Reforma política, fim das PEC 33 e 37 (esta já extinta), fim do voto secreto parlamentar e exoneração do presidente do Senado Renan Calheiros são alguns pedidos. De âmbito municipal, protestantes exigem redução da tarifa e rotas e linhas de ônibus, transparência nas licitações e criação de programas voltados à saúde e prevenção de doenças.
Quatro itens da carta estão direcionados para o Legislativo lajeadense. Na principal delas, os manifestantes cobram diminuição do número de assessores. Hoje, são dois para cada vereador.
A proposta sugere que exista apenas um. Só em salários para diretores parlamentares e assessores políticos, o contribuinte paga cerca de R$ 1 milhão por ano para os 28 cargos de confiança.
O manifesto sugere igualar os salários dos vereadores com o salário dos professores municipais. A carta não especifica mais detalhes sobre a categoria dos educadores. O piso inicial do magistério está em média R$ 1,1 mil para 20 horas. Também cobra mudança no horário das sessões de terças-feiras, passando das 17h para as 18h. A última reivindicação direcionada ao Legislativo prevê ensino superior completo para que os candidatos possam assumir vaga na câmara.
Jovens buscam amadurecimento político
Uma das diretrizes do movimento em Lajeado é aumentar a participação da sociedade nas discussões políticas. O engenheiro Tiago Guerra representou parte dos manifestantes na sessão dessa terça-feira. “Organizamos grupos de discussão para explicar as reivindicações, nossos objetivos e ajudar a ampliar a consciência política dos jovens.”
Diferentemente dos atos em outras cidades, em que os grupos rechaçam a presença de ocupantes de cargos eletivos, os integrantes locais convidaram os vereadores a participar das reuniões. Para Guerra, essa é uma forma de conhecer os meandros para poder cobrar resultados do Legislativo.
Por se tratar de uma manifestação apartidária, não há líderes. Conforme Guerra, essa é uma maneira de crescimento coletivo, pois todos têm a mesma importância. Frente aos temas propostos, conta, discutem as prioridades da sociedade. “Está funcionando bem assim. Sem precisar definir líderes.”
Para o estudante Afonso Roveda, 23, foi algo novo para os vereadores, talvez por isso, tenham ficado calados. “Nossos requerimentos acabou com o conforto deles.” Para ele, as propostas não são ameaçadoras.
Acredita que por ser um movimento recente, em crescimento na região, os vereadores preferiram não confrontar o público. Outro estudante presente na sessão, Matheus Ludtke, 16, acredita que os parlamentares se mantiveram neutros por razões políticas. Para ele, a postura de silêncio é típica de alguém que não sabe se deve atacar ou se defender.
Presidente comemora avanço democrático
O presidente da câmara, Sérgio Kniphoff, ressalta a condução dos protestos na cidade. Sobre as reivindicações que envolve o Legislativo, adotou um tom consensual. “Isso conversaremos internamente.”
Sem registros de violência, enaltece a participação dos jovens na câmara. “Foi uma aula de democracia.” Após a fala dos manifestantes, o vereador abriu a palavra aos demais parlamentares. Naquele momento, ninguém falou.
Pouco antes do encerramento, o vereador suplente Rui Olíbio da Silva Reinke (PSDB), o “Adriel”, criticou a postura dos vereadores por terem votado a favor da ficha suja no ano passado. Presidente da câmara em 2012, apresentou projeto para reduzir os subsídios dos parlamentares. “Os vereadores foram contra.”
Os presentes aplaudiram a manifestação de Adriel. Para Kniphoff, foi oportunismo. “Eu abri a palavra, ninguém se manifestou. Poderia ter negado a interferência, mas não quis polemizar.” Para o petista, o vereador tentou chamar atenção do público.
Um dos vereadores alvo dos manifestantes, Antonio Schefer, minimizou os cartazes que pediam para ele se aposentar. “Estão preocupados comigo com a minha saúde.” Sobre a pouca participação, foi enfático: “Pediram para mudar de lugar e veio pouca gente.”
Cita votações importantes, como o aumento dos subsídios dos vereadores, em que não houve participação popular. “Criticar e pedir mudanças depois das leis não adianta.”
Para ele, alguns integrantes estão aproveitando as manifestação para se promover. Segundo ele, parte do grupo que estava no ginásio nessa terça-feira era ligado ao PT. “Se apropriaram dos protestos para desviar o foco contra o governo.”
Vereadores apresentaram 81 projetos
Nos seis primeiros meses de trabalho, os 15 vereadores de Lajeado apresentaram 81 projetos. Destes, 51 foram aprovados e os demais seguem em tramitação.
Do montante apresentado, 34 são sugestões para nomes de ruas. Também foram votadas outras 76 propostas encaminhadas pelo Executivo, e 665 requerimentos.
Carlos Ranzi (PMDB) foi o vereador que mais apresentou projetos. Foram 24 no primeiro semestre, sendo 12 para nomenclatura de vias municipais. Ildo Salvi (PT) ficou em segundo lugar. O petista encaminhou 16 novas propostas. Só uma para nome de rua. Lorival Silveira (PP) e Waldir Gisch (PP) apresentaram só um projeto cada um.
Cada vereador recebe subsídio bruto de R$ 5.622,55. Nenhum tem obrigação de cumprir horas de trabalho. Só precisam estar presente no dia da sessão, que ocorre todas as terças-feiras a partir das 17h, no terceiro andar do GenesWorkShopping.
Cada um pode contar com dois assessores: um diretor parlamentar, com salário bruto de R$ 3.696; e um assessor político, que recebe R$ 2.576.
O presidente da câmara recebe subsídio de R$ 6.622,55. Além do diretor parlamentar e do assessor político, conta ainda com um diretor de Gabinete, que recebe salário de R$ 3.696. Entre os 15 legisladores, Carlos Ranzi e Heitor Hoppe (PT) são os que contam com apenas um funcionário. Ranzi temum diretor parlamentar, e Hoppe um assessor político.
Em 12 meses, os 40 Cargos de Confiança do Legislativo custarão R$ 1,3 milhões aos cofres públicos. Os salários dos vereadores, contabilizados durante todo o ano, somam a quantia de R$ 1,03 milhões. No total, a folha de pagamento dos CCs da câmara de vereadores tem um custo anual de R$ 2,4 milhões.