Dados da Secretaria de Segurança Pública do estado mostram um aumento de 638% no total de traficantes presos. Em 2003, 21 criminosos foram para trás das grades. Em 2012, chegou a 155.
Lajeado é a cidade com maior número de traficantes presos. Nesses dez anos, foram 417 até março deste ano. Em seguida, Taquari, com 105; Estrela, com 92; e Encantado com 90.
Em dez cidades da região, nenhum registro. Outras oito tiveram apenas um traficante preso na última década. “É notória a maior efetividade da ação dos órgãos de segurança. Por outro lado, o consumo não para de crescer”, endossa a delegada regional Elisabete Muller.
Mesmo com o aumento da repressão, o crime organizado continua a surpreender a polícia. O uso de tecnologia, como câmeras de monitoramento, é usada com mais frequência. Na Operação Grande Família, deflagrada pela Polícia Civil (PC), no sábado passado, o equipamento estava instalado para proteger um casebre no bairro Conservas.
Cada vez mais organizados, os criminosos montam esquemas complexos. “Funcionam como uma empresa”, diz Elisabete. Delegam funções. Tem os transportadores, vendedores e até um setor comparado a um Departamento de Recursos Humanos, responsável por recrutar mais pessoas para o crime.
Há 21 anos na polícia, a delegada relembra as artimanhas usadas pelos traficantes para tentar enganar os órgãos de segurança pública. “Teve um caso de uma senhora que colocava as buchas na cuia do chimarrão e ficava em frente de casa, esperando os clientes.”
Os entorpecentes mais apreendidos na região são maconha, crack e cocaína. Nos últimos sete meses, a delegacia de Lajeado tirou das ruas 6,5 quilos de cocaína.
Operações contra o narcotráfico
A mais recente foi no sábado passado. Chamada de A Grande Família, teve participação de 45 policiais em 15 viaturas, liderados pelo delegado Sílvio Huppes, da DP de Lajeado. Depois de seis meses de investigação, foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão e seis de prisão preventiva.
No local, a PC encontrou 380 gramas de cocaína, um colete à prova de balas, munições, dinheiro e um carro, usado para o transporte da droga.
A maior apreensão ocorreu em janeiro. Foram encontrados quatro quilos de cocaína no bairro Planalto. Segundo Huppes, a droga estava enterrada no pátio de uma casa.
Pela investigação, conta o delegado, ficou comprovada a participação de um dos maiores traficantes da região, ligado a outros criminosos de Passo Fundo, Porto Alegre e Serra.
Em setembro de 2012, após cinco meses de investigação, a PC localizou um quilo de cocaína. Em outra operação, em outubro, foi necessário usar uma britadeira para perfurar o banheiro de uma casa no bairro São José. “Cerca de cem buchas de cocaína e pedras de crack estavam no encanamento”, lembra Huppes.
Um casal preso em maio distribuía logo a droga. Vendiam em grandes quantidades. Na ocasião, foram encontrados um quilo de cocaína, além de R$ 60 mil e um comunicador na frequência da polícia. Segundo o delegado, as organizações criminosas usam pequenos traficantes nos bairros carentes para tentar escapar das investigações.
Recorrência incômoda
A falta de rigor da lei traz incômodo à BM de Lajeado. A recorrência de prisões faz com que muitos criminosos deixem de temer o policiamento. “A maioria sabe que não dará nada. Fica nervosa apenas porque perde a droga”, fala um soldado do Pelotão de Operações Especiais (POE).
São diversos casos como o de L.C.B.L., 22, cuja ficha criminal teve início em 2003. A lista de delitos em dez anos é extensa. Desde março de 2005, foram 61 passagens pela polícia por crimes diversos. Furtos, lesão corporal, invasão de propriedade, porte ilegal de arma e roubos.
Neste ano, foram três prisões por tráfico de drogas. Em duas ocasiões, a BM o enquadrou como usuário por falta de provas. O homem carregava pouca quantidade de droga e alegou ser viciado. Mesmo após ser acusado por tráfico, no dia 18 de maio, voltou às ruas.
Essa é a maior dificuldade da polícia. Comprovar ou configurar o crime de tráfico. De acordo com o capitão Fabiano Dorneles, são comuns casos em que o criminoso é preso e no dia seguinte é flagrado, cometendo o mesmo delito. “Muitos traficantes usam os usuários para vender a droga. A maioria é menor de idade, dificultando a ação.”
Dorneles comenta ser incomum as “mulas” andar com grandes quantidades de droga. Segundo ele, cada traficante carrega no máximo dez buchas ou petecas, vendidas em um curto intervalo de tempo. Até maio de 2013, foram 133 usuários detidos. A maioria tinha passagem pela polícia.
A prisão de mulheres traficantes é outro problema. Inexiste presídio feminino na região, e a falta de vagas em outras instituições atrapalha. Um soldado garante: “Mesmo com flagrante, elas são soltas.”
Neste mês, uma mulher foi presa cinco vezes por suspeita de vender droga no Cantão do Sapo, em esquinas da rua Francisco Oscar Karnal. Hoje, ela está em liberdade.
As “bocas” são conhecidas pela polícia. São as mesmas casas, mas com alterações rotineiras de habitantes. Algumas estão mapeadas há mais de dez anos. Uma delas, em uma esquina da rua Marechal Deodoro, no Cantão do Sapo, intriga pela dificuldade de apreender grandes quantidades de droga.
Mesmo quando há grandes porções de cocaína ou maconha, é comum alguns traficantes serem soltos em menos de seis meses. Ou até mesmo em períodos menores. Foi assim com um criminoso preso dentro de casa após denúncia de Maria da Penha. Os policiais encontraram 465 gramas de maconha. A mulher assumiu a droga, e ele não foi preso.
8 homicídios podem ter relação com o tráfico
Dos 12 assassinatos ocorridos em 2012, em oito há suspeita de envolvimento com drogas. Para Huppes, os casos são resultados de dívidas dos usuários, ou por disputa entre grupos rivais.
Outros crimes estão ligados ao narcotráfico. Os principais são os furtos e roubos. “É um círculo vicioso, o usuário consome a droga, não tem como pagá-la. Então furta, rouba. Às vezes o arrecadado não é o suficiente, e acaba morto.”
Prisões abarrotadas
O constante aumento na detenção desse tipo de marginal reflete no sistema carcerário. Penitenciárias estão lotadas de traficantes.
No maior presídio da região, levantamento da Susepe, feito em dezembro, mostram que dos 504 detentos, 128 cumprem pena por tráfico. Os demais se dividem entre homicidas, ladrões, estupradores, assaltantes e receptadores.
A maioria dos presos tem pouca escolaridade. Do total, 339 frequentaram a escola até a 4ª série. Os presos, na maioria, são moradores de áreas carentes e tiveram poucas oportunidades de ascensão social. “O crime oferece benefícios em curto prazo. O que o trabalho honesto dificilmente poderia dar”, ressalta o delegado prisional regional, Anderson Paulo Louzado.
Segundo ele, o tráfico recruta os jovens com essa promessa de dinheiro em pouco tempo. Mudar esse cenário, avalia, é necessário políticas públicas efetivas nas áreas e bairros carentes.
Isso vai ao encontro da visão do delegado da PC, Sílvio Huppes sobre a ausência do estado. Os traficantes se tornam líder na comunidade. “Nas prisões de sábado, moradores demonstraram revolta com a ação da polícia. Como se os traficantes estivessem certos.”
Na opinião do delegado penitenciário Louzado, melhorar o sistema prisional, para evitar que os detentos retornem à cadeia, não está entre as prioridades da sociedade. Proporcionar cursos de formação profissional aos presos é uma possibilidade elencada por Louzado.
A comunidade precisa acabar com o preconceito, acrescenta. “As pessoas relutam em entender. Ou damos uma oportunidade, ou o crime organizado se apropriará dessa mão de obra.”
Dados da Secretaria de Segurança Pública do estado mostram um aumento de 638% no total de traficantes presos. Em 2003, 21 criminosos foram para trás das grades. Em 2012, chegou a 155.
Lajeado é a cidade com maior número de traficantes presos. Nesses dez anos, foram 417 até março deste ano. Em seguida, Taquari, com 105; Estrela, com 92; e Encantado com 90.
Em dez cidades da região, nenhum registro. Outras oito tiveram apenas um traficante preso na última década. “É notória a maior efetividade da ação dos órgãos de segurança. Por outro lado, o consumo não para de crescer”, endossa a delegada regional Elisabete Muller.
Mesmo com o aumento da repressão, o crime organizado continua a surpreender a polícia. O uso de tecnologia, como câmeras de monitoramento, é usada com mais frequência. Na Operação Grande Família, deflagrada pela Polícia Civil (PC), no sábado passado, o equipamento estava instalado para proteger um casebre no bairro Conservas.
Cada vez mais organizados, os criminosos montam esquemas complexos. “Funcionam como uma empresa”, diz Elisabete. Delegam funções. Tem os transportadores, vendedores e até um setor comparado a um Departamento de Recursos Humanos, responsável por recrutar mais pessoas para o crime.
Há 21 anos na polícia, a delegada relembra as artimanhas usadas pelos traficantes para tentar enganar os órgãos de segurança pública. “Teve um caso de uma senhora que colocava as buchas na cuia do chimarrão e ficava em frente de casa, esperando os clientes.”
Os entorpecentes mais apreendidos na região são maconha, crack e cocaína. Nos últimos sete meses, a delegacia de Lajeado tirou das ruas 6,5 quilos de cocaína.