Bombeiros resgatam 26 operários

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Bombeiros resgatam 26 operários

Incêndio de prédio em construção levou 21 operários para hospitais da região. Um deles, de 19 anos, foi internado em estado grave na UTI do HBB com insuficiência respiratória. Bombeiros resgataram funcionários, que ficaram isolados nos últimos andares. Obra pode ser interditada

Lajeado – Uma densa fumaça escureceu o céu no início da tarde de ontem. O incêndio, que levou 21 operários para dois hospitais da região, teve início no subsolo de um prédio em construção na esquina das ruas Saldanha Marinho e Capitão Leopoldo Heineck, área central da cidade.

iAs causas do fogo que atingiu pedaços de isopor e madeira serão investigadas pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) e pela Polícia Civil nesta manhã. A fumaça começou por volta das 14h25min.

O primeiro a notar o incêndio foi o mestre de obras, César Antônio Graff, 42. Ele estava no térreo do prédio de oito andares, carregando o elevador de carga com argamassa. Naquele momento, 33 operários estavam no prédio. Sete saíram ilesos e sem auxílio dos bombeiros logo no início do incidente. O restante ficou preso devido à fumaça na construção.

O mestre de obras tentou subir para alertar os funcionários, mas não conseguiu passar do segundo andar. Foi impedido pela fumaça. Outro trabalhador, que estava sozinho no terceiro piso, conseguiu descer ao perceber o perigo. “Foi muito rápido. Tudo ficou escuro e não dava para respirar. Só corri para me salvar”, conta Paulo César Knecht, 41. Nesse momento, a densa fumaça preta era avistada de municípios vizinhos.

Uma funcionária de um estabelecimento próximo testemunhou o início do incêndio e o desespero dos operários. Segundo ela, eles gritavam que estava quente e que alguns tinham dificuldade para respirar. “Muitos não conseguiam subir ou descer para fugir da fumaça.” Cerca de dez operários ficaram nos andares do meio, enquanto o restante escapou para o décimo e último do prédio.

Agentes de Trânsito e Brigada Militar (BM) foram os primeiros a chegar no local. Fecharam as ruas para evitar que outros veículos atrapalhassem a operação. Os bombeiros chegaram por volta das 14h30min, mas a viatura deslocada não possuía escada. Outra foi acionada e chegou por volta de 14h45min. Soldados entraram no subsolo para iniciar a contenção do incêndio. Ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e da Unimed chegaram ao local em seguida.

Do lado de fora, dezenas de pessoas se aglomeraram nas calçadas em volta do prédio. Houve tumulto. Um morador vizinho discutiu com um policial, reclamando dos bombeiros. “Invadam o prédio. Que absurdo. Tirem eles logo de lá”, gritou. Os policiais da equipe tática da BM solicitaram aos construtores a planta do prédio para elaborar uma estratégia de varredura. Os agentes se espalharam pela quadra e dois subiram no prédio vizinho para avaliar as condições.

Teste de fogo para novos bombeiros

A retirada dos operários com a escada dos bombeiros se iniciou pouco antes das 15h. Os primeiros a serem retirados estavam no sexto andar. Assustados e cobertos de fuligem, os dois funcionários da Construtora Diamond – responsável pela obra – foram logo atendidos pela equipe do Samu com máscaras e tubos de oxigênio. A população, que se aglomerava em frente ao prédio, aplaudiu o sucesso do primeiro resgate.

Os soldados tinham pouco tempo para descansar. Um enfermeiro do Samu tentou convencer o jovem bombeiro Rafael Borba, 22, a buscar atendimento logo após retirar uma das vítimas do oitavo andar do prédio. Foi repreendido pelo comandante do pelotão de Lajeado, tenente José Augusto Pohlmann. “Ele é bombeiro e precisa voltar para salvar vidas.” Borba obedeceu e resgatou outros operários. “Não lembro do rosto de nenhum. A adrenalina estava alta e tinha muita fumaça.”

A maioria dos bombeiros era novato. Foram formados em abril deste ano. Para o soldado Pablo Rosso Dias, 21, natural de São Gabriel, este foi o primeiro incêndio que ajudou a controlar. Ele integrou a equipe especial que fez a varredura no segundo e terceiro andar. Os bombeiros usaram cilindros de oxigênio e máscaras para evitar intoxicação.

Dois caminhões com guindastes de empresas privadas auxiliaram no resgate dos operários. Trabalhadores e bombeiros se uniram. O tenente Pohlmann enalteceu o esforço da equipe. Segundo ele, oito agentes da guarnição de Lajeado se deslocaram para atender o chamado. Outros que estavam de folga ou desempenhando trabalhos distintos se dirigiram ao prédio.

Ao todo, 25 bombeiros atuaram na operação. Parte do grupo se deslocou de Estrela para auxiliar. Todos os 26 operários foram resgatados do prédio até as 15h50min.

O delegado da Polícia Civil, Humberto Roehrig, foi ao local no fim da tarde para analisar a estrutura. De acordo com ele, peritos do IGP chegam hoje de manhã ao prédio para investigar as causas do incêndio. Se for constatada negligência da empresa, a estrutura poderá ser interditada.

Equipe médica teve 16 pessoas

Seis ambulâncias e 16 profissionais integraram o grupo de atendimento médico. Do Samu, participaram as equipes Avançada e Básica, de Lajeado, e Básica, de Estrela e Teutônia. A Unimed auxiliou com suas equipes Básica e Avançada, com seis funcionários.

O Hospital Bruno Born (HBB) recebeu 11 vítimas. Uma delas, um rapaz de 19 anos foi internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) com insuficiência respiratória. Os demais passam bem. Outros dez foram levados ao hospital de Estrela, onde foram medicados e seguem em observação.

Conforme o pneumologista, Cláudio Klein, do HBB, o que causou a internação dos operários foi a asfixia. “Ao ser inalado o monóxido de carbono (fumaça) impede a entrada de oxigênio, podendo levar à morte. A fumaça permanece no corpo cerca de 20 minutos.” Depois de receber atendimento hospitalar, a vítima passa a ter poucas chances de sofrer uma complicação. O tipo de fumaça inalada pelos operários é desconhecida.

O operário internado em estado grave na UTI inalou muita fumaça e desenvolveu um edema de glote (insuficiência respiratória após o fechamento da gargante). Klein confirma que ele está intubado e respira com a ajuda de aparelhos. Os demais operários ficarão em observação por cerca de 24 horas para verificar se haverá alergia ou irritação.

De acordo com o médico, pelo fato de ser um prédio em construção, sem janelas, não houve queimaduras com a fumaça inalada. “Na boate Kiss em Santa Maria, por exemplo, isso ocorreu por se tratar de um ambiente fechado.”

Construtora Diamond divulga nota oficial

Responsável pela construção do prédio residencial Alta Vista, a Construtora Diamond divulgou, no fim da tarde de ontem, nota oficial sobre o incêndio. Segundo o texto, não houve chamas e feridos por queimaduras. Um guincho particular foi contratado pela empresa para auxiliar no resgate. Os operários hospitalizados são acompanhados e assessorados pela equipe Diamond.

Conforme a nota, o incêndio teve origem no subsolo-2 do prédio. O motivo está sendo averiguado. Uma pequena quantidade de isopor, guardado no subsolo-2, incendiou. O material é utilizado de maneira rotineira em obras. A Construtora Diamond agradece a eficiência e eficácia do Corpo de Bombeiros, de Lajeado e Estrela, e a todos que de alguma forma auxiliaram para que o fato não tomasse proporções maiores.

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