Cruzeiro do Sul – Em um terreno baldio na rua São José, no centro, quatro meninos brincavam de esconde-esconde. Passava das 20h20min desse domingo, quando Álisson William Pinto Machado, 14, e Leonardo de Brum Dias, 11, caíram em um poço com cerca de cinco metros de profundidade. Deste total, 1,5 metro tinha água.
Ao perceber a queda, Álisson se assustou porque não achava o amigo e clamou por socorro. Procurou na água até que pegou o braço de Leonardo e o puxou à superfície. Os outros dois meninos saíram em busca de ajuda.
Os soldados da Brigada Militar (BM) Graziete Veridiana Ferreira e Leonardo Freitas de Oliveira patrulhavam as redondezas e viram crianças correndo e chorando. Foram até o local e 20 minutos depois retiraram Leonardo.
A corda, emprestada por um vizinho, era muito fina para o resgate de Álisson, maior e mais pesado. Enquanto esperavam reforço da BM de Lajeado, os dois militares tentavam acalmar o adolescente. “Era importante não entrar em pânico, tínhamos medo que ele pudesse se afogar”, relembra o soldado Oliveira.
Ele trabalha na BM há oito anos. Foi a primeira vez que atendeu uma ocorrência de resgate. Quando ele e a colega Graziete viram as crianças na rua, pensou ser algo sem gravidade. “Por ser um terreno aberto, ninguém imaginava ter um poço aberto ali, bem no centro da cidade.”
Álisson ficou cerca de 50 minutos no poço. Ao término do resgate, os dois foram levados ao Hospital São Gabriel Arcanjo. Leonardo teve escoriações nas mãos. O mais velho tem uma suspeita de fratura no indicador e pequenos hematomas nas costelas. Chegou para atendimento em hipotermia. Ficaram em observação até o fim da noite desse domingo e liberados.
“Poderíamos ter dois meninos mortos”
A mãe de Álisson, Sílvia Pinto, reconhece que o filho não poderia brincar naquele local, mas critica a falta de cuidado do proprietário do terreno. Para ela, deixar um um poço aberto no centro da cidade é errado. “Por um descuido, poderíamos ter dois meninos mortos.”
Conforme o sargento da BM no município, Valdenir Gilberto Eiffel Brum, o caso será levado ao Ministério Público (MP). Pelo código penal, expor a vida ou a saúde de outro ao perigo é crime, com pena de de três meses a um ano de prisão.
O terreno é aberto e sem cercas. O proprietário, Jorge Siebenborn, afirma que desconhecia o poço, pois comprou a área há pouco tempo. Para ele, as crianças estavam erradas ao brincar no local à noite. “Estão me culpando, mas os meninos invadiram minha propriedade.”
Noite de insônia
Álisson e Leonardo garantem que nunca haviam brincado naquele terreno. Costumam se encontrar com os amigos no parque poliesportivo, mas na noite desse domingo, usuários de drogas fumavam maconha no local.
Resolveram sair dali. Estavam indo para casa, quando decidiram brincar de esconde-esconde no terreno. A área tem uma parte com materiais como pó de brita, pedras, terra e uma casa abandonada. Cinco metros da parede da construção fica o poço.
Como Leonardo tem problemas de visão, Álisson o carregava na garupa. O mais velho caiu de frente. “Quando corri para me esconder, não vi o buraco. Pensei que era um amontoado de galhos.”
Leonardo teve dificuldades em dormir. As cenas do acidente lhe perturbaram. “Ficava pensando no que poderia ter acontecido se o socorro tivesse demorado.”
A mãe dele, Angelita, lembra da angústia em ver a viatura em frente de casa com o filho Murilo, 13. “Pensei que tinha acontecido uma tragédia. Disseram que ele estava com frio e assustado, mas bem.”