Vale do Taquari – Marcelo Augusto Becker, 18, morreu ontem de manhã, enquanto se dirigia ao trabalho pela RSC-453. Morador de Venâncio Aires, o motociclista era funcionário de uma fábrica de calçados em Mato Leitão. Colisão frontal contra um caminhão, a três quilômetros do trevo de acesso à cidade, fez do jovem a 21ª vítima do trânsito em 2013 na região.
Havia forte neblina às 6h15min, horário do acidente. Segundo o motorista do caminhão – que trafegava no sentido de Lajeado a Venâncio Aires –, Laudemiro Zart, 52, a moto estava em uma ultrapassagem no momento do choque e trafegava na contramão. Zart tentou desviar pelo acostamento, mas a moto CG Honda bateu no lado esquerdo da cabine. O motoqueiro ficou preso às ferragens e foi arrastado por quase 45 metros. Morreu na hora.
Zart acompanhou no local o trabalho da Polícia Civil e da Rodoviária Estadual, que interditaram uma das pistas durante a manhã. “Tinha serração, bem escuro. Joguei o caminhão para o lado, mas foi rápido.”
Com o impacto, a moto se partiu ao meio. O Instituto Geral de Perícias (IGP) chegou no local às 10h30min, mais de quatro horas após o acidente. A dona de casa, Lurdes Lenhardt, mora próximo do local do acidente. Afirma ser comum imprudências, como excesso de velocidade, ultrapassagens arriscadas. Animais soltos naquele trecho da pista se repetem. Reclama da falta de sinalização. “Pelo menos quatro acidentes aconteceram por mês aqui.”
Fatalidade na BR-386
Menos de 12 horas antes da morte de Becker, no fim da tarde dessa terça-feira, um outro acidente na BR-386 matou o porto-alegrense Antônio Carlos Dias de Araújo, 60. Ele trafegava no sentido capital – interior quando o veículo Pálio foi atingido por um caminhão graneleiro conduzido por Valmir Antônio Barbieri, 55. Araújo morreu no local.
As causas da colisão em Linha Perau, interior de Marques de Souza, são investigadas. Outro veículo, um Focus da Administração Municipal de São Martinho, foi atingido pelo Pálio e ficou sobre uma das pistas. O caminhão e o Pálio caíram em um barranco às margens da rodovia. Os quatro ocupantes do Focus e o caminhoneiro sofreram ferimentos leves e foram levados ao Hospital Bruno Born (HBB), onde foram liberados na noite dessa terça-feira.
Estudo confirma perigo nas rodovias da região
Um estudo divulgado no ano passado pelo Departamento Estadual Trânsito (Detran-RS) demonstrou que, entre 2007 e 2011, 4,6% dos acidentes com mortes aconteceram no Vale do Taquari. Nesse período, foram contabilizados 397 ocorrências com 463 vítimas. De acordo com os pesquisadores responsáveis, o número é considerado alto, pois a região não ultrapassa 4% da população, da frota e dos condutores do estado.
Entre os 36 municípios da região, seis se destacaram de forma negativa. Cerca de 65% das fatalidades aconteceram em Lajeado, Estrela, Teutônia, Encantado, Taquari e Arroio do Meio.
A maioria das 278 ocorrências de 2007 a 2001 nas rodovias se concentrou em 19 pontos críticos. Os principais são os trechos entre Km 340 e 353 da BR-386, com 47 acidentes e 52 mortos; RS-130, entre os Km 70 e 78, com 29 acidentes e 30 mortes e RS-128 em Teutônia, no trecho compreendido entre o Km 22 e 27 contabilizando 12 acidentes, e 15 mortes
Para cada cem mil habitantes do Vale do Taquari a média foi de 28,2 óbitos por ano. No estado, foram 18,2 mortos. Os números elevados da região estavam nos mesmos patamares de países, como Camarões, Togo, Marrocos e Serra Leoa.
Segundo o inspetor Adão Vilar Madril, chefe da 4ª Delegacia da Policia Rodoviária Federal (PRF), a maioria dos acidentes é causado por imprudência. “É sempre a mesma coisa. Precisamos conscientizar os motoristas de que é preciso respeitar o trânsito.” Alerta para o grande movimento de veículos de cargas e reclama do excesso de velocidade de alguns veículos.
Mais de 500 mortes desde 2005 na BR-386
A estatística é trágica na principal rodovia federal da região apelidada de Estrada da Morte por quem vive próximo dela. Desde 2005 morreram pelo menos 510 pessoas nos 448 quilômetros da BR-386. Em 2012, foram 82. No Vale do Taquari, de 2009 até o momento, foram registradas 90 mortes no trecho entre o quilômetro 288 e 386, de Pouso Novo a Tabaí. O ano mais violento foi 2011, com 24 óbitos.