Má sinalização aumenta risco nas ferrovias

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Má sinalização aumenta risco nas ferrovias

Acidente no fim de semana reascende discussão sobre perigo nos cruzamentos

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Vale do Taquari – A ociosidade dos modais ferroviários desestimula gestores públicos a investir em segurança nos cruzamentos entre estradas municipais e trilhos de trem na região. Ligações precárias e sem o mínimo de sinalização aumentam o risco de acidentes. O mais recente aconteceu no sábado, em Roca Sales, quando três amigos voltavam do futebol.

fPor volta das 19h30min, o condutor Darci Müller, 60, tentou cruzar os trilhos na rua José Brock, em Linha Sete de Setembro. De acordo com moradores, o trem buzinou antes de passar. Com o impacto o carro foi arremessado para fora da estrada.

O caroneiro, Jeferson Gedoz, desmaiou e foi acordar no Hospital Beneficente Santa Terezinha, de Encantado. Precisou de 32 pontos cirúrgicos na cabeça. Passa bem. No leito ao lado, estava o outro caroneiro, Roberto da Silva, 31, que fraturou duas costelas. Gedoz só lembra do choque: “Não ouvimos o barulho do trem. Desmaiei na hora do choque e não lembro de nada.”

Müller teve fraturas no rosto e permanece internado em estado grave na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital Bruno Born, em Lajeado.

O cruzamento fica no acesso ao bairro, próximo de uma escola. Em média, três trem passam por dia pelo local . O agravante, segundo o 1º sargento da Brigada Militar, Adão Jair Rosa da Silva, está relacionado à desatenção dos moradores, que cruzam os trilhos sem observar a proximidade do trem. De cada dez pessoas, oito não olham para os dois lados antes de atravessar.

Na cidade, há 30 quilômetros de ferrovia. Apenas no perímetro urbano são cinco cruzamentos com estradas municipais. Em nenhum deles há cancelas – como nos pedágios. A sinalização é precária. Placas indicativas estão desbotadas e inexiste iluminação noturna.

Problema antigo

Há dez anos, Israel da Costa, 34, teve a perna direita amputada após ser atropelado pelo trem na Vila Sete de Setembro. Caminhando sobre os trilhos, voltava para casa. No meio do caminho desmaiou e só acordou com o impacto. O acidente ocorreu por volta da meia-noite. “O maquinista ligou para polícia achando que eu estava morto.”

Agora, cruza os trilhos apenas quando é necessário sair do bairro. Critica as pessoas que continuam andando pelo local para atalhar caminhos. Pede mais atuação dos responsáveis para sinalizar o trecho.

No mesmo local, um veículo foi arrastado pela ferrovia em 2011, próximo do meio-dia. Estavam no carro Felipe Brock, que teve fraturas, e seu filho com 6 anos na época. De acordo com sua irmã, Rosa Elisandra, Brock não conseguiu ver o trem devido à capoeira. Há dois meses, ela também quase se envolveu em um acidente, quando voltava da Igreja.

Moradores se arriscam

A maioria dos moradores se arrisca ao caminhar sobre os trilhos para encurtar o caminho até outras partes da cidade. Mesmo ciente do perigo, a servente de limpeza, Arla Brauvers, utiliza o acesso todos os dias na volta do trabalho para casa. “Estou a pé. Preciso cortar caminho.”

De acordo com a estudante Tamires Vicari, 15, um dia ela quase foi atropelada pelo trem. Quando viu os vagões se aproximando, ficou imóvel na lateral dos trilhos para não ser atingida.

Outros moradores entendem o perigo. A mãe Raquel Bairros proíbe os filhos menores de cruzarem sozinhos o trecho.

O município alega não ter como evitar que as pessoas passem pelo trilho. Mesmo com campanhas de prevenção de acidentes, cita que cada uma precisa fazer sua parte.

Agricultores constroem passagens

A maioria das travessias é construída no interior por produtores rurais, que necessitam da passagem para se deslocar às lavouras. Conforme Edelbert Jasper, a situação ocorre em Colinas. Na cidade, apesar da ferrovia circundar grande parte do município, o último acidente ocorreu há mais de dez anos.

Segundo ele, em 2002, um adolescente que estava nos vagões desde Passo Fundo, caiu e foi atropelado. Ele morreu no local. “Fora isto, não tivemos nada. Aqui temos muitas elevadas. Os moradores não estão em contato direto com os trens.”

Jasper reforça a cobrança por investimentos na segurança. Para ele, cancelas deveriam ser instaladas para avisar da aproximação do trem. Enfatiza a necessidade de conscientização da comunidade em respeitar os locais proibidos.

O último mapa da Rede Ferroviária Federal (RFF) foi feito em 1980, desde então não há atualização sobre o número de pontes, viadutos e cruzamentos.

Trens têm preferência

O funcionamento dos modais brasileiros é regrado pelo Regulamento dos Transportes Ferroviários (RTF). De acordo com o documento, a entidade, ou órgão, responsável pela execução da via mais recente, assumirá todos os encargos decorrentes da construção e manutenção das obras e instalações necessárias ao cruzamento, bem como pela segurança da circulação no local.

Segundo o engenheiro da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), Roberto Luz, as redes foram construídas a partir da década de 1920. A responsabilidade de manter os cruzamentos é, na maioria dos casos, dos municípios. “Como se emanciparam depois disso, as estradas são mais novas que os trilhos.”

Outra determinação é que aquele que construir travessia, no caso de acidente ou dano, será responsável pelo ressarcimento do prejuízo imediato e por perdas e danos resultantes da interrupção dos serviços.

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