Vale do Taquari – As duas mortes de motociclistas em acidentes que aconteceram em Lajeado nessa quinta e sexta-feira reforçam a necessidade de mais precaução no trânsito. O caso mais recente foi de Romaldo dos Santos, 42.
Ele pilotava uma motoneta Shineray quando foi atingido por um caminhão, conduzido por Ereni Armando Schmitz, 55. A vítima completaria 43 anos neste domingo. Deixa um filho de 1 ano e 7 meses e a mulher Vanize Peixoto.
O acidente aconteceu na rua Carlos Spohr Filho por volta das 13h30min. A vítima havia saído do trabalho. Segundo Schmitz, ele seguia no sentido bairro Moinhos em direção à ERS-130. O condutor da moto aguardava a passagem dos veículos à margem da via, no mesmo sentido, para acessar a rua Arnoldo Uhry.
Quando o caminhoneiro passou, teria ouvido um barulho e a sensação de ter passado por cima de algo. Imediatamente parou e verificou ter atingido a motoneta. Santos morreu no local.
O motorista do caminhão realizou o teste do bafômetro, que não registrou qualquer presença de álcool em seu organismo. O sangue de Santos foi coletado para fazer o teste, mas não há previsão do resultado.
Na quinta-feira, Marcos Scherner, 24, sofreu um acidente na RSC-453, próximo da entrada do bairro Floresta. Testemunhas afirmam que ele atingiu a traseira de um veículo prata. Perdeu o controle da moto e invadiu a pista contrária, onde bateu em um automóvel. Natural de Canudos do Vale, Scherner morava em Mato Leitão e trabalhava em um supermercado de Lajeado.
Outro acidente foi registrado no fim da tarde de ontem. Aconteceu no acesso ao Posto do Neco, na ERS-130. O nome da vítima e o estado de saúde não foram divulgados até o fim dessa edição.
Em 136 dias, 395 atendimentos
Nesses primeiros cinco meses, 395 pessoas vítimas de acidentes, envolvendo motos, foram atendidas no Pronto-socorro do Hospital Bruno Born (HBB). Uma média de três por dia.
O capitão da Brigada Militar (BM), Fabiano Dorneles, afirma que os casos de acidentes com motos são uma das principais preocupações da corporação.
Expõe como exemplo a ação dessa sexta-feira, em que foram realizadas oito barreiras para abordagens de motociclistas em Lajeado. Para ele, os motoristas se descuidam da segurança por uma série de fatores, em especial, a pressa.
Levantamento do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), aponta que são mais de 990 mil motos no estado, representando 20% do número total de veículos.
No HBB, do total de 136 dias até essa quinta-feira, em apenas nove dias no ano, não houve atendimento de motociclistas pela emergência. Dos 36 municípios do Vale do Taquari, seis são responsáveis por 67% dos acidentes fatais no trânsito: Lajeado, Estrela, Teutônia, Encantado, Taquari e Arroio do Meio.
“Falta educação”
Instrutor de Formação de Condutores (CFC) há 15 anos, César Wentz, 44, sofreu um acidente em 15 de fevereiro. Ele trafegava pela ERS-129, de Arroio do Meio para Lajeado. Segundo ele, um automóvel saia do pátio da empresa Bremil e entrou na rodovia pela contramão.
Ele ficou cinco dias internado. Teve fratura exposta no antebraço, quebrou o punho e quatro costelas. Hoje tem dificuldades em se mexer. Foi o primeiro acidente de moto que ele sofreu.
Para Wentz, para tornar o trânsito mais seguro são necessárias uma série de adequações, como: investir na profissionalização dos professores para treinar os alunos, mais rigor na fiscalização e multas por excesso de velocidade, ultrapassagem em local proibido e no controle das preferenciais. “A comunidade não entende a responsabilidade de dirigir. Falta educação.”
Formação dos condutores
Diretor de ensino de um Centro de Formação de Condutores (CFC) de Lajeado, César Luís Schardong, nota que há desrespeito tanto dos motoristas em veículos de quatro rodas como dos pilotos.
Para ele, o modelo atual de treinamento dos motociclistas precisa ser discutido. Não atribui a isso o alto índice de acidentes do trânsito. Entre as propostas em discussão pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) está levar os alunos a praticar algumas horas em ruas.
Essas propostas esbarram em como tornar o processo seguro. Diferentemente do carro, não há dispositivos como embreagem e freio para ajudar o condutor em formação. “Se colocar o instrutor como caroneiro, ele ficaria em risco.”
Outra proposta seria um acento anexo à motocicleta. No entanto, mudaria a característica do veículo, tornando-o um triciclo. Todas as propostas em análises estão longe de um consenso.
Para Schardong, essa falta de experiência no trânsito limita o treinamento oferecido pelos CFCs. Cita as aulas teóricas. Na avaliação do diretor de ensino, os alunos se preocupam apenas em passar nas provas do Detran, sem acrescer os conhecimentos teóricos à prática nas ruas.
Frota da região
O Vale apresenta um índice de motorização superior ao do estado. Para cada cem habitantes, há 58,7 veículos. Em todo o Rio Grande do Sul, a estatística é de 47,3. Lajeado tem os maiores número, chegando a 68,1. Em seguida está Estrela, com 65, e Encantado, com 64,4.
Os municípios com menores índices são: Canudos do Vale (36,6), Progresso (39,9), Coqueiro Baixo (41,3) e Sério (41,3), Conforme estudo do Detran, a região tem um grande percentual motocicletas, que atinge 25,4% da frota. No estado, essa proporção é de 19,6%.