Teutônia – A Operação Atordoamento do Ministério Público (MP) resultou nas prisões de uma fiscal da inspetoria veterinária do estado e do proprietário do frigorífico Frigovale, na manhã dessa terça-feira. Raquel Fontoura foi denunciada por receber propina de Cristiano Dartora de Souza para liberar o abate irregular de bovinos.
De acordo com a investigação, a fiscal atuava como funcionária do frigorífico. Para liberar a produção acima da capacidade estabelecida pela licença, ela recebia cerca de R$ 500 por semana. “Chegavam a ser abatidos 150 animais por dia, enquanto o máximo deveria era 80”, informa o promotor Jair Franz.
Também foi constatado que animais doentes e vacas em fase avançado de gestação eram vendidos em vez de serem sacrificados. Vistoria da Coordenadoria de Inspeção de Produtos de Origem Animais (Cispoa) apurou que as carnes eram transportadas acima da temperatura permitida: 15°C, sendo que o correto é 7°C.
Segundo Franz, a falta de estrutura e higiene do estabelecimento foram confirmadas. Ressalta que o frigorífico não tinha capacidade para refrigerar toda a carne abatida e centenas de consumidores foram prejudicados. “O trabalho da fiscal era de evitar isso, mas ocorria o contrário.”
As investigações se iniciaram em março, após denúncias da própria inspetoria veterinária com sede em Teutônia. “Os colegas denunciaram.” Depois de receber as informações das supostas irregularidades, o MP pediu a quebra do sigilo telefônico dos dois suspeitos.
Durante 30 dias de escutas autorizadas pela Justiça, flagrou-se o vínculo entre a fiscal e o proprietário do estabelecimento. “Constatamos que ela recebia dinheiro e outros benefícios, como o pagamento do aluguel de um imóvel.” Além das interceptações telefônicas, houve provas testemunhais e a inspeção do Cispoa.
O promotor acredita que a parceria ilícita ocorria há anos. As investigações, que estão em segredo de Justiça, continuam. Mais pessoas podem ser denunciadas.
Prisão e interdição
Raquel Fontoura e Cristiano Dartora de Souza foram presos na manhã dessa terça-feira, após interrogatório no Ministério Público. A fiscal poderá responder por corrupção passiva, falsidade ideológica, crimes contra o consumidor e improbidade administrativa (pedindo o afastamento do cargo). O proprietário é suspeito de falsidade ideológica e crimes contra o consumidor.
O MP solicitará que o frigorífico pague uma indenização de dano coletivo. A interdição do estabelecimento foi reivindicada. Só poderá funcionar após se adaptar às normas estabelecidas pelo Cispoa.
A empresa
Por volta das 17h30min dessa terça-feira, a reportagem visitou a empresa no interior do município, em Linha Clara Fundos. Os funcionários ficaram surpresos com a notícia da prisão do patrão e o defenderam, alegando que o abatedouro funcionava sem irregularidades.
“Estamos ampliando a estrutura para abater 400 animais por dia, fizemos tudo conforme as normas”, afirma um funcionário. Há três anos instalado no município, o frigorífico está com um projeto de expansão.
Em janeiro, a câmara de vereadores aprovou um projeto do Executivo que concedia mais de R$ 100 mil de incentivo para empresa permanecer na cidade.
Conforme a proposta, a empresa investirá mais de R$ 10 milhões para ampliar sua estrutura. Hoje, emprega cerca de cem pessoas e distribui carne para diversas cidades do estado.